CLXVII

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Não diga mais nada.

Leia ouvindo: Say something 💕

Tá frio aqui no meu bairro e tem uma música triste tocando ao fundo na minha TV, enquanto eu estou sentada no meu sofá cinza, porque se não fosse drama, não seria eu. Eu tô desejando teu calor, de olhos fechados e peito aberto. Mas eu sei que você me deixou ir quando eu tive que te pedir carinho, atenção e todo o resto que deve ser dado de bom grado. Sei que você me deixou ir, quando qualquer roupa te caia melhor que meu abraço. Sei que você me deixou ir, quando eu te cantei minha música favorita e tudo que você sabia dizer era que eu cantava mal. Mas eu te cantei, porra. Eu fiquei nua pra você em todos os sentidos. Contei meus segredos também, esperei que você me colocasse no colo e me fizesse um cafuné. Mas eu errei. Por esperar e por pensar que você faria isso, logo você, que nunca foi lá muito bom consigo. Você me deixou ir, mas ainda assim eu repetiria a música que toca ao fundo, say something, I'm giving up on you. E, se você dissesse qualquer coisa que não remetesse ao teu ego frágil, talvez eu deixasse o orgulho de lado mais uma vez e voltasse a te contar meu dia, que sempre tinha algo desastroso, porque faz parte de mim não ter cuidado. Eu nunca nem cuidei de mim. Então, se você dissesse qualquer coisa, que me fizesse saber que sim, você está olhando por mim, eu ficaria. Mas você me deixou ir. Porque queria filmes melhores que comédias românticas de quinta e o brigadeiro que eu insistia em fazer sempre. Porque queria tudo, menos eu. E dói. Porque você sabia desde o início que eu era ruína, uma linda e esplêndida ruína. Você não me queria do teu lado, me queria na foto do teu hack empoeirado. Você queria me exibir como um troféu, mas percebeu que tinha que me fazer sentir como medalha e conseguiu. Você me deixou ir. E eu queria poder dizer que era tudo que eu queria, mas eu só queria te ouvir dizer "fica", "fica mais um pouco", "fica comigo", eu só queria te ouvir. Uma única vez. Sem dizer que você tinha feito isso, você aquilo. Eu só queria que você ao menos me considerasse o suficiente pra não ser tão egoísta e só saber falar de si. Queria que você olhasse o mundo e achasse que pertencia a ele e não que era dono dele e de todo e qualquer sentimento que eu fosse sentir. Você me deixou ir e eu desisti de você. Mas eu não desisti porque você não disse nada, eu desisti porque você falou demais. Falou tanto que quase gritou. E no meio do teu som ensurdecedor, eu percebi que ainda assim, não te ouvia. Eu nunca te ouvi. Então, não diga nada. Porque você me deixou ir e eu desisti de você, dessa vez, sem volta. Sem até logo ou até breve. É um adeus, de quem já devia ter ido a muito tempo.

Transbordo, logo escrevo.Where stories live. Discover now