CXLVII

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Para sempre, nós.

Há quem diga que o pra sempre não existe, que é uma invenção imatura do tempo. Eu defendia isso, até você aparecer no meio da minha aula, com um sorriso bobo e meu biscoito favorito. "Vi e lembrei de você, é o seu favorito, né?" Tudo bem que esse biscoito é vendido ao lado do prédio, que eu só precisava cruzar 2 portas para encontrá-lo. Porém, tenho absoluta certeza que não encontraria o teu mesmo cuidado. Esse de quando me oferece um doce, quando percebe que eu tô deixando tudo amargo, inclusive você. Desculpa, amor. Esse de quando me liga sem hora marcada, pra perguntar se tô bem, se já comi ou bebi algo, pra dizer que sentiu saudades. Esse de me pedir pra avisar sempre quando chego em casa, depois de um dos nossos encontros repentinos. Esse teu cuidado de me responder mensagens com a rapidez que me fazem duvidar do Flash. Esse teu jeito de me abraçar apertado ao me ver, perguntar baixinho o que aconteceu e sem que eu diga nada, você me aperta mais, diz que tá comigo e me belisca. Belisca porque precisa mostrar que é real, que tá ali, que vai sempre estar ali e vai sempre me passar segurança só com o olhar. Eu duvidaria da existência da infinidade, mas eu fico me perguntando: pra onde vai esse amor que a gente tem e transborda? Se não tem limite, vai ter fim?
É, eu sei. É difícil responder. Mas você me faz ver a vida de um outro ângulo, eu não sabia que naquela varanda tinha um pássaro que vinha sempre dar boa tarde. Também não sabia que o tio da cantina iria sempre oferecer o café quando nos visse chegar, de mãos entrelaçadas e sorriso de quem tá segurando o universo e mais um pouco. Também não sabia que naquela curva, uma árvore floresceu – e você dedicou as flores a mim. Também não imaginaria a capacidade que o pôr-do-sol, que você me convida pra ver depois de um dia cansativo da rotina, tem de me deixar mais emotiva e sincera, dizer que te amo na essência das cores dele, causa de muitos devaneios e amores. Enfim, meu bem, você me faz acreditar no pra sempre, porque a gente é melhor que estátua, nos petrificamos no tempo apesar das constantes mudanças. Somos eternos nos nossos momentos mais efêmeros, então, talvez, ao menos pra nós, o pra sempre exista.

Transbordo, logo escrevo.Onde as histórias ganham vida. Descobre agora