CXXV

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Tudo o que me faz sentir.

Era terça-feira à noite, quase 21:00, você ficou de vir me ver até as 19:00, eu estava chateada e as nuvens laranjas lá fora me faziam pensar que eu queria que quando a chuva caísse e lavasse tudo, ela levasse você de mim. Mas você chegou às 21:17, passando as mão nos ombros, com os braços cruzados, a chuva lá fora tava forte, e eu voltei atrás no meu desejo quando você sorriu. Eu sorri de volta e a chuva levou minha chateação. Sim. Foi então que você me contou do porquê do atraso. Eu sorri ao te ver dizer que realmente já estava tarde e você não ia ficar muito, porque só tinha feito tal jornada porque era importante pra mim. Era meu aniversário, apesar de eu não gostar da data, você tinha uma linda caixinha na mão que está guardada debaixo da minha cama porque eu não me desfaço dela, nem de você. Desde então, minha casa inteira me lembra você. Sim, olhar pro corredor me remete ao dia que me prendeu ali, tuas mãos me apertavam firmemente, como se fosse um teste para saber se era realidade. Eu também teria minhas dúvidas se não soubesse que foi um grito do desejo carnal, comprovando que foi real. O sofá acinzentado da sala, no canto direito, me traz teu perfume sempre que ali me deito. Me traz a imagem do teu corpo se aninhando ao meu, num pequeno espaço, como se tentássemos diminuir ainda mais, ainda não sabíamos que já tínhamos virado um só. A sala de estar me leva a pensar nos dias em que você chegou de surpresa, com o convite pro café, você sempre soube como me ganhar. E, sabia que trazer bolo de chocolate e um sorriso no rosto era covardia. A cozinha me lembra das tigelas de pipoca e panelas de brigadeiro, devoradas por mim com você dizendo que eu só te fazia engordar e que os dias na academia não dariam mais resultado. Mas teu sorriso estampado no rosto me provava o contrário,aí você começa a rir e me ajuda a terminar. Porém, não sem antes tirar tudo o que eu pegava da minha mão e perguntar o que eu estava fazendo com aquilo, aí você começava a beijar meu pescoço e eu não respondia mais por mim. Não respondia por minhas unhas marcando teu abdômen e tuas costas, não respondia pelo beijo que nunca queríamos parar, até sentir o cheiro da pipoca queimar. O meu quarto, com estrelas no teto e cheiro de "fica mais um pouco"(resultado do nosso suor, e tantos gemidos e gritos calados com beijos) me faz lembrar de tudo. Tudo o que você me faz sentir quando me toca lentamente na virilha, quando aperta minha barriga e sorri ao me ver revirar os olhos. Tudo que você me faz sentir quando me vê cansada, pós dia estressante e me oferece uma massagem nos pés e cafuné. Tudo o que me faz sentir quando me coloca em planos futuros, logo pra mim, que não planejo nem o amanhã. Tudo o que me faz sentir quando me faz rir sem parar ao me trazer um sorvete e dizer que meu sabor preferido é o gosto da tua boca. Tudo o que me faz sentir quando vejo minha mãe dizendo pra você ter cuidado pra não me deixar brava e você dizendo que faz o possível para que não aconteça. Tudo o que me faz sentir quando a gente desafia os astros nesse lance de signo que eu acredito tanto. Tudo o que me faz sentir quando continua aqui, mesmo eu dizendo pra você ir. Tudo o que me faz sentir quando me abraça apertado e diz que tudo bem não estar bem. Você tá aqui. Sim, eu sei. E agradeço por também estar.

Transbordo, logo escrevo.Where stories live. Discover now