Transbordo, logo escrevo.

CXII

Eu tô aqui.

Eu tô aqui. Fingindo não me importar com o teu jeito de me ignorar, por que visualizar ? Eu tô aqui. Fingindo que não ligo pra tua ausência semanal, que me contento em ser teu sábado depois do trabalho, entre a tarde e a chegada da noite. Eu tô aqui. Fingindo que não me afeta a falta das palavras, das atitudes e da segurança de estar ao teu lado. Eu tô aqui. Fingindo que ninguém no mundo será melhor que você, porque meu coração insiste em gritar teu nome no vazio da minha solidão. Eu tô aqui. Fingindo que tá tudo bem você desmarcar nosso sábado e trocar por um próximo depois do próximo. Eu tô aqui. Fingindo que não sei que nunca serei tua prioridade, teu porto, teu amor. Eu tô aqui. Fingindo não saber da tua inconstância de navio turista, tu nunca aporta por muito tempo, desembarca por alguns dias, faz o estrago que me tornei e parte. Parte sem me levar como parte. Parte sem lembrar que é minha parte. Eu tô aqui. Fingindo que teu sorriso é o mais bonito que eu vou ver, porque não consigo deixar de querer fazê-lo aparecer. Eu tô aqui. Fingindo que não te farei pedidos sem sentido. Eu tô aqui. Fingindo que quando você não tá do lado tudo é ruim. Eu tô aqui. Fingindo que te amo mais do que a mim. Eu tô aqui. Fingindo que tá tudo bem fingir. Eu tô aqui. Fingindo que não chorei por tua causa ontem, mas por aquele filme que me indicaram. Eu tô aqui. Fingindo que não quero te ver aparecer com um buquê ou um eu te amo. Eu tô aqui. Desistindo de fingir porque não é mais fingimento, de tanto fingir, virou realidade. E, cá entre nós, foi o que me trouxe felicidade.