CLXXIV

201 32 2
                                    

Eu sei que você não vai aparecer pela minha porta, porque foi eu que te mandei embora.

Quando se tem apenas um lugar para se desmoronar, cada passo parece ser antecedente a uma queda fatal. Quando as coisas dão errado e se procura a conversa que antes ficava fixada no topo e não a ver porque foi arquivada, o corpo sente um arrepio percorrer toda sua extensão. O vazio é assustador. E é mais assustador ainda saber que mesmo quem transborda, esvazia. A abstinência de você me faz rever meus conceitos, ao mesmo tempo que sei o quanto dependo do teu "vai ficar tudo bem, eu tô aqui". Agora que você foi, quem está? Quando esse lugar é uma pessoa suscetível a erros, como todo ser humano, é como se todas as suas certezas fossem embora junto com ela. Cada suspiro noturno, em busca de um nome na pasta de favoritos que já foi retirado, parece ser um passo lento e doloroso ao precipício do meu coração. Porque foi cavado em mim o buraco da inexistência, misturada a saudade e sufocado pelo orgulho. Cada piscada e pensamento levados a você são reprimidos como se fossem os pensamentos de um maníaco. Cada respiração que me remete a saudade de tardes jogando conversa fora, assistindo um filme que eu já nem sei o nome, me fazem pensar em quanto tempo meu coração aguenta. Ao mesmo tempo, minha respiração ofegante, entrecortada aumenta o meu medo de não te ter pra me abraçar quando eu não souber o que fazer. Eu sei que você não vai aparecer pela minha porta, porque foi eu que te mandei embora. E isso aumenta a angústia e a certeza de que não sou a melhor pessoa pra você, nem pra mim. Acho que você merece mais que alguém que fica sozinha em casa, mas a cada coisa criada pelo medo estremece o corpo inteiro e faz uma oração. A verdade é que a rara ocasião que me sentia segura era quando você me envolvia em abraços, com aconchego de lar, e palavras sinceras, diferentes das tantas que ouvi. A minha segurança era você, mas o meu medo falou mais alto e eu decidi te deixar, aos prantos e gritos. Agora, a pergunta que me faço todos os dias é: Eu te deixei por você, por mim, ou por temer os dois?

Transbordo, logo escrevo.Where stories live. Discover now