Transbordo, logo escrevo.

CXXIX

Esse lugar, sinônimo de nostalgia.

Esse lugar, pra mim, sinônimo de nostalgia. Tem cheiro de infância e abraço de vô. Tem a quadra que eu nunca passei mais de 5 minutos consecutivos – sempre tinha alguém pra me chamar pra um mergulho perto da beira, porque em matéria de natação uma pedra sairia melhor que eu–,tentando entender porquê as bolas me odeiam ou vice-versa. Tem o guri que me passava músicas por horas, que só depois dele casar e ter uma filha linda me fez descobrir que era um jeito de me manter por perto, história que resultou em muitas risadas e boas recordações. Nesse lugar tem risos fora de hora, principalmente quando tem alguém dormindo no canto. Tem o cheiro de comida assada, de tudo um pouco, tem cheiro de harmonia de lar e fuga da semana. Tem a sensação do "eu preciso voltar aqui mais vezes", que provavelmente não vai passar de sensação. Até que você visite o mesmo lugar e perceba que essa sensação virou sentimento e quase necessidade. A pintura antes amarela vibrante, regressa assim como a grama seca no verão. As árvores trocam de folhas e a minha irmã chama a queda de outono. Ela tem 7 anos, poxa. Quem sou eu pra discordar? A árvore antiga, do lado da casa, que eu sempre me escondia durante as brincadeiras noturnas continua no mesmo lugar, próximo a cerca, sombra pros carros da família. O abraço apertado do meu avô, acompanhado de perguntas que me causam risos até a barriga doer continua do mesmo jeito e carregando o mesmo significado. Sempre sussurro baixinho "Obrigada por saber o que eu não falo e entender quando me calo". As tias que falam demais com assunto de menos continuam do mesmo jeito. Os isopores quase sempre cheios e repostos antes de esvaziar me lembram que todo líquido alcoólico bem gelado é bem-vindo. De acordo com meu pai, exceto pra mim porque mulher não pode beber cerveja. Por sorte, meu avô me ensinou que se eu tiver feliz o resto não importa. Vocês querem um gole? Tá bem gelada.