43: O fardo de um Oyabun

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— O que você fez dessa vez? — Foi a primeira coisa que Hyungwon disse ao chegar em casa, esbarrar com Kihyun na entrada, saindo apressado, e se deparar com Gun parado no corredor.
O Song deu um longo suspiro e se aproximou, com os ombros murchos. — É uma longa história.
Hyungwon olhou para o relógio de pulso e largou a mochila em cima do sofá. — Tá legal, eu não pretendia me intrometer, mas já cansei disso. Vem aqui. — E saiu andando para a cozinha.
Gun não fez perguntas, apenas o seguiu e agora os dois estavam sentados um de frente para o outro na mesa.
— Pode começar.
— Sério isso? — O Chae arqueou uma sobrancelha e Gun soltou mais um suspiro, desistente. — Bom, você já deve saber que eu e Kihyun estamos em uma situação um pouco... complicada, não é?
Anuiu. — Sim, sei de todo esse lance de vocês.
— Então... mais cedo nós acabamos discutindo e ele meio que, ahm... ficou com muita raiva.
— Ele teve um surto de raiva?
— Sim, ele teve.
O Chae parecia perplexo. — Mas o que foi que você fez para o deixar assim? Ele não tem um surto a tanto tempo.
— É, eu sei, eu pessoalmente nunca tinha visto antes.
— Por isso ele estava com um band-aid na testa? — Gun anuiu. — Tá legal, e o que aconteceu?
— Ele se machucou bastante se batendo contra a porta, então eu o levei a um médico.
Hyungwon arqueou uma sobrancelha. — Ele odeia hospitais.
— Sei disso, por isso levei ele até o Changkyun.
— Mas ele está.
— Sim, está na mansão. — O cortou. — Você não precisa me dizer que foi muito arriscado, porque eu sei disso. Enfim, enquanto eu entrava com ele no colo para dentro da mansão eu tive que nos esconder em uma sala, mas ela estava completamente escura.
— Espera. No colo?
— Ele tinha desmaiado. — Explicou brevemente e então continuou. — Quando ele acordou eu acho que ele estava um pouco febril, porque começou a falar coisas sem sentido, como se estivesse alucinando.
Hyungwon prestava atenção no que Gun lhe contava, tentando não o interromper muito.
O Inagawa continuou a história. — No meio do surto eu tentei o acalmar, mas nada funcionava, então eu beijei ele. — Gun olhou para Hyungwon para ver sua reação, mas o Chae só fez sinal para que ele prosseguisse. — Quando chegamos em casa eu pedi para ele me contar o que tinha acontecido. Por que ele teve aquele surto e o motivo das cicatrizes.
— Cicatrizes? — O Chae estranhou. — Desculpa, eu não quero interromper, mas como assim?
— Eu acho que eu não posso falar sobre isso, é algo dele.
Anuiu. — Eu entendo, tem razão, continua.
— Bom, ele me contou tudo e, nossa, é muita coisa. — Falou recordando tudo. — Eu pedi para ver as cicatrizes, aí depois dele tomar banho eu refiz os curativos e ele tirou a camisa para mim ver. Uma coisa levou a outra e a gente acabou, sabe... ficando.
— Ficando? Tipo, vocês dois se beijaram ou...?
Era constrangedor falar essas coisas, mas Gun desembuchou. — Nós quase transamos.
Hyungwon pareceu processar a informação. — Tá legal, e qual o problema? Por que o Ki saiu daquele jeito daqui? Ele não queria?
— Não, ele queria, mas eu acho que ele pensa que eu estou fazendo isso por pena ou que...
— Que você está pensando com a cabeça de baixo? — Sugeriu e Gun anuiu. — E por que você estava fazendo aquilo?
— Aí é que está, eu não sei.
Hyungwon suspirou. — Entendi, ele deve ter se irritado com você em cima do muro.
— É, ultimamente só o que eu tenho feito é irritado ele. — Reclamou.
— Tá bom, então me diz, o que você sente por ele?
Gun revirou os olhos. — Eu já disse, eu não sei.
— É claro que sabe, você só não quer assumir, por algum motivo. — O Song não respondeu. — Tudo bem, então o que você sente quando você vê ele.
— Antes nada, mas agora eu me sinto um pouco nervoso, ansioso.
Hyungwon anuiu com a cabeça, aprovando a resposta, e continuou. — E quando ele te toca? Quando te chama? Ou quando ele fica triste, feliz, se machuca ou coisa assim?
Gun resolveu analisar. Ele nunca tinha parado para pensar nisso, talvez fosse o motivo de sua confusão.
— Eu nunca tinha dado muita atenção nos toques dele, passava batido como se não fosse nada.
— Mas...?
Gun respirou fundo e tomou coragem. — Mas de um tempo para cá eu venho reparando mais nessas coisas. Quando ele põe a mão no meu ombro, ou sobre a minha mão, é como se eu conseguisse entender o que ele quer me dizer mesmo sem palavras, e quando ele tira parece faltar algo. Os abraços dele parecem tão verdadeiros, e não vazios e sem significado. Quando ele chama o meu nome parece soar tão importante. Não importante como ser um Kobun, mas importante de verdade, como se fosse especial. Quando ele fica triste eu não consigo ignorar, fico angustiado até descobrir o motivo e fico feliz quando consigo o deixar feliz. Ele se machuca com frequência e sempre que isso acontece minha vontade é de poder roubar toda sua dor para mim. Ao lado dele eu sempre esqueço de tudo. Das responsabilidades, tarefas, problemas. É como se só existisse ele naquele momento e toda minha atenção se prendesse a ele. Quando Kihyun aparece é como se eu perdesse o ar, como se cada entrada fosse uma entrada triunfal. Isso é tão frustrante, eu não consigo parar de pensar no Kihyun, e não sei quando foi que isso começou.
Hyungwon deu uma fraca risada ouvindo tudo aquilo. — Gun, você realmente é algo.
— Vai zoar com a minha cara agora?
— Depois de tudo o que você disse, ainda assim está confuso sobre o que você sente? — O Song franziu o cenho. — Você já sentiu isso por alguém? Já sentiu por Changkyun?
— Talvez, eu não sei dizer, com Kihyun parece diferente, como algo que eu não tenho experiência nenhuma. Eu simplesmente nunca sei o que fazer.
Novamente o Chae sorriu. — Está mais do que claro que o que você sente não é apenas amizade, ou carinho, você gosta dele.
— ... Talvez.
— Por que é tão difícil admitir? Do que você tem medo?
Gun mordeu o lábio inferior. — Não sei.
— Do que você tem medo? — Repetiu.
— Eu disse que não sei. — Falou quase como se estivesse irritado.
Hyungwon o encarou mais sério e perguntou firme. — Do que é que você tem medo, Gun?
— De me apaixonar, está feliz?! — Exclamou.
— E porque esse medo é só com o Kihyun? Por que não com o Changkyun ou com qualquer outro ficante?
— Porque... — Gun respirou fundo, se acalmando. — Por que eu tenho medo de começar a gostar dele de verdade, entende? — O Chae não conseguiu evitar rir, mas o semblante de Gun sério o fez se controlar. — Isso tem graça pra você?
— Não fica irritado, eu só achei fofo. — Sorriu de canto. — Você não fica com Kihyun por não sentir algo por ele, mas por sentir demais?
— Eu sinceramente estou confuso, se você não consegue me entender eu te digo que nem eu consigo.
Hyungwon riu. — Tudo bem, já entendi. — E se levantou da cadeira. — Mas olha, se eu fosse você eu tentaria com Kihyun, afinal, o que você tem a perder?
Gun pareceu pensar, mas ao final pareceu decidido. — Você está certo.
— Eu sei disso, mas toma cuidado para nenhum dos dois sair machucado. — Falou andando até o sofá da sala e pegando novamente sua mochila. — Depois de tudo, o Kihyun deve estar muito inseguro, então se você for realmente tentar com ele você terá de ter certeza que realmente gosta dele, para não dar mais falsas expectativas, porque você já deu demais.
— A última coisa que eu quero é decepciona-lo de novo, mas sinceramente não estou tão confiante de que não farei merda mais uma vez.
Hyungwon olhou para o relógio no pulso depois de volta para Gun. — Olha, se você aceita minha opinião, eu te digo para ir com calma. Primeiro se certifique dos seus sentimentos. Observe o Kihyun e veja as reações que ele causa em você, como ele faz você se sentir, depois de você ter certeza de que gosta dele, então você tenta se aproximar de novo, só não demore muito, ele já esperou muito tempo.
— Ter calma, mas não demorar. Claro, muito simples.
— Relaxa, se estiver realmente gostando dele, você vai conseguir. Agora eu preciso ir, se comporte enquanto eu estiver fora e não faça nada que eu não faria.
Gun se levantou e apoiou os cotovelos no balcão que dividia a sala da cozinha. — Vai pra onde?
— Kakuji me mandou com um grupo de três para ir atrás do Minhyuk.
— Como assim? Eu não fiquei sabendo disso.
— Você pode ir perguntar para ele os detalhes, eu realmente preciso ir agora, só passei aqui para pegar a chave do carro. — E foi até o molho de chaves ao lado da porta pegando a certa. — Me deseje sorte. — E saiu.
Gun apenas observou enquanto o outro saía de casa. O Song iria falar com Kakuji, mas só depois de um banho demorado ao qual ele passaria boa parte pensando na conversa que teve com o Hyungwon.
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Desde que Jooheon descobriu sobre a morte dos pais, ele simplesmente não conseguia mais estar na presença de Satoru. Sim, ele estava o evitando e sim, Jooheon tinha plena certeza que isso não iria resolver nada e muito menos duraria para sempre. Quando falou com Seung e este o falou que Satoru tinha seus motivos para fazer o que fez, sua primeira reação foi se sentir indignado e traído por Seung também estar envolvido de alguma forma nisso, mas esse sentimento se dissipou rápido, afinal ele confiava no gerente da Towa, no homem que praticamente o criou. De uma forma ou de outra, ele não acreditava que existisse alguma justificativa plausível no mundo para o assassinato dos pais, mas daria o benefício da dúvida, afinal ele não tinha muita escolha no momento.
— Eu disse para fazer o cálculo no plano cartesiano. — Disse para BongIn, um garoto Punk, membro da elite.
— Eu não sou bom em matemática. — Reclamou.
— Isso é conta de Ensino Médio, você deveria saber. — Rebateu. Ambos estavam em uma mesa da biblioteca empoeirada, tentando restaurar alguns documentos antigos que necessitavam de resultados precisos.
Deu de ombros. — Se eu fosse bom nos estudos não estaria na Towa.
Jooheon suspirou. — Dá isso aqui. — Puxou a folha de rascunho e começou a rabiscar até chegar em um resultado exato. — Pronto, tá aí.
— Essa conta tá certa? — Jooheon anuiu. — Ah, que ótimo, acho que acabamos então. — Se levantou da cadeira, mas Jooheon o puxou sentado novamente.
— Nem pensar. — E se levantou. — Você só vai sair daqui quando acabar toda essa pasta.
— Tá brincando comigo.
O Nomura respirou fundo. Byung o irritava com suas maneiras rebeldes e sua falta de respeito as hierarquias mais altas. Agora ele entendia o motivo de Satoru se irritar com sigo quando o desrespeitava.
— Termine isso logo. — Falou de forma controlada.
— Sim, senhor. — Falou com certo deboche e se virou para frente na mesa, soltando um grande suspiro.
Jooheon resolveu ignorar e se retirou da biblioteca, percorrendo os corredores da mansão. Seu plano agora era ir atrás de Shownu para ver como andava sua investigação e se teve alguma notícia de Minhyuk, mas ele não consegue nem terminar seu raciocínio quando Satoru para a sua frente, lhe fazendo parar de andar e ficar o encarando a quase três metros.
— Jooheon, venha na minha sala, precisamos conversar. — Falou simplista e o Lee teve que se controlar para não o atacar ali e agora.
O Oyabun seguiu o corredor, passando pelo "filho" e indo em direção a sua sala. Jooheon estava fervendo de raiva naquele momento, mas o seguiu. Iria tirar aquela história a limpo.
Satoru passou pela porta da sala e a deixou aberta para que o outro entrasse, e assim Jooheon faz, a fechando logo atrás de si. Assim que o Lee entrou, não disse nada, ficou apenas encarando o Oyabun. Seung estava presente na sala, sentado em uma poltrona perto da janela, mas não se pronunciou.
Satoru parou de frente para sua mesa e se virou para trás, notando a feição dura do filho. — Por que está me olhando assim?
Jooheon riu soprado, suprindo sua raiva. — Suponho que tenha algo para me contar.
O Oyabun franziu o cenho e olhou para Seung. — Você contou alguma coisa?
— Eu descobri sozinho. — Jooheon interviu e o Oyabun voltou a lhe fitar. — Anda, desembucha. Qual é a sua grande desculpa e por que eu não deveria te matar agora mesmo?
Seung se levantou da poltrona e deu alguns passos em sua direção. — Jooheon, se acalme, a gente vai explicar tudo. Por favor, sente e escute.
— Eu prefiro ficar em pé. — Disse de forma seca, sem nem se dar o trabalho de olhar para o gerente. Estava ocupado demais fuzilando seu "pai". — E então, Satoru... — Falou firme e deu um passo em sua direção. — Por que matou os meus pais?
Em um outro momento o Oyabun ficaria muito irritado com o comportamento de seu Kobun, mas ele não estava em uma posição de poder exigir nada.
— Tudo bem. — Suspirou. — Eu matei os seus pais biológicos. Ou melhor, mandei matar.
Jooheon deu um passo à frente com os punhos cerrados, mas Seung, que já havia se levantado da poltrona, pôs uma mão em seu peito, o impedindo de realizar qualquer ato violento que pudesse ter surgido em sua mente.
Satoru continuou. – Seu pai era um ex-membro da Yakuza, da Towa, para ser mais exato. Nós éramos amigos, eu realmente gostava dele.
— E então o matou? — Seu tom de voz era alto. — Você realmente tem uma péssima reputação com amizade.
— O que quer dizer?
— Jooheon, não. — Seung falou, mas o Nomura mais novo não lhe deu ouvidos.
— Eu sei porque a Towa e a Inagawa se odeiam. Você mentiu que a esposa de Kakuji tinha perdido o bebê quando na verdade apenas a ajudou a o esconder de Kakuji. Você é um lixo de ser humano, tenho nojo de um dia ter te chamado de pai.
Seung parecia chocado como o que o Lee disse e olhou para Satoru com uma expressão preocupada. O Oyabun tinha uma feição pesada, mas não se queixou de nada dito.
— Na noite do acidente seu pai estava fugindo.
— De você? – Perguntou com sarcasmo. — Ou, deixa eu adivinhar. De Fai Lin? Afinal tudo é culpa dele, não é?
— Não, ele estava fugindo do Kenichi, o Oyabun da Yamaguchi. — Respondeu. — Sua mãe era da Yamaguchi e, depois de fracassar em uma missão, o Oyabun decidiu a mandar de volta para o Japão, permanentemente, então seu pai resolveu ir buscar a mulher antes que isso acontecesse. As coisas não saíram como o planejado e acidentalmente seu pai acabou matando um rapaz. Um adolescente. — Dizia com calma. — Esse garoto era o filho biológico do Oyabun.
— E onde você entra nessa história?
Satoru respirou fundo e olhou para Seung, que continuou com a história.
— Seu pai ligou para mim logo depois de "resgatar" sua mãe. — Seung falou. — Ele me pediu para ir te buscar na casa de vocês.
— Espera. — Jooheon olhou para o gerente. — O que você tem a ver com isso? Por que ele ligou para você?
— Porque o seu pai, Lee Sung Tae, é meu irmão. Eu sou o seu tio.
Jooheon parecia extremamente surpreso. — Mas...? Por que você...?
— Por que eu nunca contei antes? — Jooheon anuiu. — Porque ninguém poderia saber que eu ou, e, você, éramos parentes do Sung-Tae.
— Depois de matar o filho do Oyabun da Yamaguchi ele se tornou um traidor dos mais baixos, e a punição para uma morte era outra morte. Mas só matar seu pai não era o suficiente, não para Kenichi, então ele deu a ordem de que qualquer parente de sangue ou laço afetivo com Sung-Tae fosse executado. Satoru explicou. – Como seu pai era da Towa e na época eu já era Oyabun, Kenichi ordenou que eu o matasse.
— Aposto que foi muito fácil para você. — Jooheon engolia a seco.
— Não diga isso. — Seung falou novamente.
Jooheon o encarou. — Você está de que lado? O seu irmão foi morto e a culpa é dele!
— Exatamente, o meu irmão foi morto e, acredite, eu sofri e sofro tanto quanto você. Nos criamos juntos e vivemos anos um com o outro, a falta que ele me faz não é menor que a sua, mas eu sei quem é o verdadeiro culpado por tudo, e não é Satoru.
— E quem é? Kenichi? — Jooheon perguntou irritado. Quase uma pergunta retórica.
Satoru foi quem respondeu: — Não, o único culpado é seu pai.
Foi a gota d'água para Jooheon. Ele encarou Satoru e antes que Seung pudesse intervir novamente, ele se aproximou e agarrou o colarinho do pai, lhe desferindo um soco certeiro no rosto. Satoru se desequilibrou e cambaleou dois passos para trás, se apoiando em sua mesa.
Seung deu um passo adiante, mas Satoru ergueu a mão para que ele não se aproximasse. — Eu estou bem. — E se ergueu, voltando a sua postura e limpando o canto da boca que adquiriu um pequeno corte, voltando seu olhar para Jooheon. — Seu pai matou o filho de Kenichi, fazendo isso ele quebrou várias regras. Você entende, Jooheon? É da Yamaguchi que estamos falando. Depois daquele atentado não tinha como ele se livrar das consequências.
— Isso não justifica. — O Lee respondeu indignado. — Nada justifica. Você não disse que ele era seu amigo? E você? — Olhou para Seung. — Como consegue seguir ordens desse homem? — Pronunciou ofensivamente, apontando sem pudor para Satoru, que agora voltava a sua postura.
— Acredite em mim, Hojoon, quando eu soube do ocorrido eu quis com todas as minhas forças matar Satoru, então não o culpo por estar provavelmente pensando no mesmo agora, e demorou muito tempo até eu confiar em Satoru de novo, mas eu sabia que, infelizmente, Sung Tae era o único responsável. — Jooheon o olhou com decepção e Seung suspirou compreensivo. — Escute, não estou tentando manchar a imagem de seu pai, do meu irmão, mas ele foi muito imprudente. Haviam soluções melhores para o caso, mas por emoção do momento ele apenas foi atrás de sua mãe, e então matou o filho de Kenichi. Não havia pessoa no mundo que pudesse livrá-lo das consequências.
— Eu sei. — Falou agora com a voz embargada e olhou para Satoru. — Eu sei disso, mas você poderia ter o ajudado a fugir. Podia ter o salvado.
— Sinto muito.
— Sente muito? — Derramou uma lágrima. Olhava para o Oyabun com olhos cheios de emoção. — É só o que você tem a dizer? Que sente muito?!
— Eu tentei. — Disse com calma na voz, entretanto era perceptível a angustia e talvez mágoa. — Eu realmente tentei.
Jooheon não estava com tanta raiva assim agora, mas a mágoa crescia em si e o sentimento de ter sido enganado e de perda persistia fortemente. — Podia ter tentado mais. — E deu as costas.
O Lee deu dois passos em direção a saída, mas parou quando Satoru se pronunciou. — Eu não podia.
— Por que? — Falou com a voz fraca e então se virou para trás. — O que você tinha a perder?
— Tudo. — Falou agora com a voz firme. — Kenichi é Oyabun da Yamaguchi, a maior família da Yakuza, e também o responsável por toda ela, eu, por outro lado, sou apenas o Oyabun da Towa, a menor família, com nem um terço da potência que a Yamaguchi tem. Quando seu filho morreu, Kenichi queria vingança mais do que qualquer outra coisa, assim como você quer agora. — Jooheon travou o maxilar. — Ele ordenou a execução de Sung Tae e todos que tinham ligação com sigo, e caso essa ordem não fosse comprida Kenichi reuniria as três famílias e atacaria a Towa. Ele mataria todos os membros, sem exceção.
Jooheon pareceu ponderar. A Towa era como sua família, mesmo estando irado com Satoru, ele não conseguia imaginar a aniquilação de todo seu povo. Por um instante Jooheon pensou sobre o que teria acontecido caso ele e seus pais tivessem conseguido fugir e Kenichi se vingasse. Todos na mansão estariam mortos e os sobreviventes seriam caçados. Shownu e Minhyuk morreriam, Seokwon, os irmãos Park, todos seus amigos e conhecidos. Ele nunca teria conhecido Hyungwon, nem Gun, consequentemente seria criado em outro país, fora da Yakuza, e também não conheceria Changkyun. Quantos morreriam apenas para que ele fosse feliz? Ele sentia vertigem de tanto pensar.
— Não foi fácil para mim ter que fazer aquela escolha. — Satoru se aproximou com cautela. — Como Oyabun eu tive que aprender a fazer sacrifícios, tive que fazer escolhas das quais me arrependo até hoje, mas escolhas que precisavam ser feitas. — Jooheon olhava para os pés com os olhos ainda lacrimejando, Satoru se aproximou até estar na sua frente. — Naquela noite eu perdi um amigo, mas você perdeu um pai e uma mãe e, por isso, eu sinto muito. — Falou com sinceridade, pondo ambas as mãos nos ombros do Kobun. — Depois do acidente eu fui até o local e resgatei os corpos de seus pais para dar-lhes um enterro digno, mas não encontrei o seu corpo, então imediatamente mandei que procurassem em todos os hospitais da cidade.
— E foi quando me adotou. — Jooheon levantou o rosto. — Apenas por escarnio de consciência.
— Sim, fiz porque me sentia culpado. — Satoru concordou. — Mas eu não imaginei que você passaria por todas aquelas etapas para virar Kobun. Também não estava nos meus planos ter me apaixonado por você. — Jooheon lhe encarou com o cenho franzido e o Oyabun pôs as mãos em seu rosto. — Eu te amava como um filho de verdade, um amor tão puro que não achei que existisse ou que fosse concebido a pessoas como eu. — O Lee engolia a seco e seus olhos piscavam com a comoção. Não era para ser assim, ele deveria estar com raiva, mas simplesmente não conseguia. De certa forma ele sempre desejou que o Oyabun o amasse de verdade, como pai. Seung apenas observava a tudo atento. — Eu sinto muito pelos seus pais biológicos, sinto muito por ter te colocado no papel de Kobun e sinto muito por sempre ter sido tão severo, mas se fui rigoroso com você é porque me preocupo e me importo demais, e essa é minha forma torta de demostrar o quanto você é importante para mim, filho, porque eu te amo.
Jooheon estremeceu, mas não conseguiu falar nada. Satoru o puxou pela nuca e o abraçou. Jooheon aceitou o abraço, mas não o correspondeu, entretanto o seu plano de se manter firme independente do que ouvisse foi pelo ralo uma vez que este não conseguiu controlar suas emoções e seu choro. O Lee passou a vida toda tentando descobrir o culpado pelo assassinato dos pais e imaginou milhares e milhares de possibilidades do que faria quando descobrisse, mas algo que definitivamente nunca imaginou foi que Satoru fosse o responsável, muito menos que uma vez que soubesse disso iria compreender e aceitar seus motivos, ao invés de o culpar eternamente e até mesmo o matar. Era frustrante, ele queria simplesmente o odiar, mas não conseguia. Ele se sentia em conflito naquele momento, sentia que nunca deveria o perdoar, não importa o que, mas ele sabia que realmente a culpa não foi de Satoru. Quando era criança ele se sentia muito solitário pela ausência de um pai e uma mãe, mas de certa forma sempre quis a atenção e o carinho do Oyabun. Quando cresceu se tornou mais rebelde e rancoroso, mas o sentimento ainda persistia mesmo ele tentando negar e agora ali estava ele, havia conseguido as duas coisas que mais queria: descobrir o que aconteceu na noite do acidente e ter o carinho de seu pai, mas mesmo assim se sentia destruído.
Após um tempo Satoru o afastou levemente pelos ombros. Jooheon não chorava, mas ainda derramava lágrimas, como que em choque. — Me perdoe por não contar antes.
Seung, que estava quieto até então, se aproximou e tomou o lugar do Oyabun, abraçando Jooheon. — Eu sei que está sendo difícil para você agora, tome um tempo para pensar e absorver tudo. Leve o seu tempo. — Jooheon fungou e anuiu com a cabeça algumas vezes. Seung o afastou pelos ombros. O Lee já estava mais calmo agora. — Independente do que acontecer estaremos do seu lado, está bem?
Anuiu, se desvencilhando do mais velho. — Tá, eu... eu preciso pensar... sobre tudo isso. — Falou e se afastou mais, parecendo perdido e então foi até a porta, olhando para trás antes de se retirar da sala.
Satoru suspirou pesado quando a porta se fechou e se apoiou em sua mesa, como se fosse cair. — Isso foi mais difícil do que eu imaginei.
Seung se aproximou e pós uma mão sobre seu obro. — Você está bem? Deixa eu ver. — E puxou se rosto, vendo o roxo em sua maçã do rosto.
O Nomura chiou quando Seung passou os dedos sobre o hematoma. — Ai. Eu estou bem.
— Ele usou bastante força, vai ficar marcado por um tempo.
— É, mas ele teve uma reação melhor do que o esperado. — Satoru segurou a mão do gerente, que antes estava em seu rosto, e o olhou preocupado. — Será que ele ficará bem?
— Hojoon é forte. — Sorriu curto, embora também estivesse com a mesma preocupação. — Além disso ele amadureceu bastante, tenho certeza que com tempo ele entenderá a situação, assim como eu entendi.
Anuiu, mas ainda parecia preocupado. — Tenho medo dele ainda procurar vingança. Se Kenichi souber que ele é filho de Sung Tae...
— Não pense no pior.
— É difícil não pensar. Jooheon é igual ao pai dele, deixa as emoções tomarem o lugar da razão e nunca desiste de algo quando põem na cabeça.
— Dê um tempo para ele pensar. Jooheon pode até querer se vingar, mas ele também se importa muito com o povo dele, a Towa, e também com seus amigos, ele não faria algo para prejudica-los.
— Você tem razão. — Sorriu de canto e puxou Seung pela cintura. — Obrigado por ficar comigo nesse momento.
Seung sorriu e lhe eu um selinho. — Eu não poderia não estar.
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Jooheon sentia o mundo girar. Ele estava dividido entre deixar suas emoções explodirem no peito ou tentar controla-las e pensar um pouco pela razão. No geral ele nunca foi muito bom em prevalecer a razão, pois era muito de agir no momento, mas ele sabia que precisava ver todos os pontos de vista, pois era um assunto sério demais para que ele agisse imprudentemente. Não era só sua vida que estava em jogo.
Ele andou parecendo sem rumo pelos corredores da mansão até chegar ao lado de fora e pegar seu carro. Dirigir depois de uma carga de emoção tão forte parecia algo perigoso, mas ele precisava sair dali. Precisava ficar sozinho, longe de tudo e de todos, e pensar. Ele estava tão atônico que nem percebeu quando inconscientemente dirigia em direção ao local do acidente de seus pais.
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Hoseok se remexeu um pouco na cama e suas pálpebras tremeram ao se abrirem. Por alguns segundos ele ficou apenas olhando para o teto com lentidão, enquanto a sonolência dispersava com gradativamente. Se remexeu mais uma vez e se virou na cama, deparando-se com Minhyuk deitado ao seu lado. O Shin se surpreendeu levemente, mas nada fez, apenas ficou observando o outro dormir calmamente. Minhyuk, entretanto, acordou mais rápido do que ele esperava e assim que o viu sentou-se na cama quase de supetão.
— Você acordou! — Exasperou, assustando levemente Hoseok. — Como se sente? Você está bem?
Franziu o cenho e se sentou na cama. — Estou bem, por que?
— Porque ontem você... — Começou, mas então lembrou-se do que o pai do Shin falou, sobre não cotar a Hoseok sobre o que aconteceu, e ponderou.
— Ontem? — Perguntou confuso, mas então olhou para sua mão enfaixada. — E-Então aquilo não foi um sonho? — Perguntou mais para si mesmo.
— Você... se lembra?
Hoseok o olhou. — Mais ou menos. Sinto muito, você deve ter ficado assustado.
— Eu fiquei mesmo, pensei que você fosse se matar.
— Eu também pensei. — Falou ainda com o cenho franzido, confuso. — Porque eu ainda estou... ahm, digo... como eu não estou, tipo, morto?
— Você não lembra disso? — O Shin negou com a cabeça. — Do que você se lembra?
Pareceu pensar. — De... de ter tido um pesadelo, e então acordar assustado e... — Engoliu em seco. — Me sentindo muito mal. Depois eu lembro de ter me trancado no banheiro e quebrado algo. Eu lembro que eu peguei um caco na mão e você falou para mim abrir a porta. Não lembro de mais nada depois disso.
— Ah, sério? Bom, isso não importa, o importante e que você está bem. — Sorriu e se levantou da cama.
— Espera, me fala o que aconteceu. Minhyuk. — Disse se levantando da cama.
— Não foi nada. Vamos, está tarde, ainda precisamos ir no salão. — E saiu do quarto.
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Minhyuk estava com um boné e uma máscara preta, algumas pessoas até achavam que fosse um idol se disfarçando para não ser atacado na rua pelos fãs, mas a verdade é que ele estava disfarçado era para não ser atacados pela Yakuza. Hoseok andava ao seu lado pelas ruas e parecia até mais preocupado do que si, pois constantemente olhava para o lado se certificando de que ninguém os seguia.
— Vem Hoseok, vamos entrar. — Minhyuk disse quando os dois já estavam de frente para o salão.
— Vai pintar de castanho mesmo? — O Shin perguntou enquanto entravam.
— Sim, por que?
Deu de ombros. — Por nada, só queria saber se vai pintar apenas para se disfarçar melhor ou se você também gosta da cor, sei lá.
— Ah, não, eu gosto de castanho.
Não demorou muito para que Minhyuk fosse atendido. Wonho ficou sentado esperando, enquanto o Min estava sentado em uma cadeira de frente a um espelho. O Shin o olhou pelo reflexo e então sorriu.
— Isso me faz lembrar do nosso primeiro encontro oficial. — Comentou e Minhyuk devolveu o olhar pelo espelho. — Quando fomos ao parque de diversão. Antes disso você foi comigo ao salão para eu cortar o cabelo.
— Eu me lembro. — Minhyuk sorriu fraco. — Você ficava bem de azul.
Wonho riu. — Devo pintar as pontas de azul de novo?
— Não, acho que castanho ou preto também cairiam bem em você. — Também riu.
— Vamos começar? — A cabelereira falou, voltando com a tinta certa.
Hoseok definitivamente tinha esquecido do quanto pintar o cabelo demora. Enquanto Minhyuk foi levado a outra sala para que pudesse enxaguar e pintar os cabelos, o Shin ficou sentado naquela poltrona de espera. Wonho não precisou nem se ocupar com uma revista, pois sua mente já o ocupava o suficiente, tentando se lembrar do que aconteceu na noite anterior. Ele sentia a dor na mão, então tinha certeza que não se tratava de um sonho, mas mesmo se esforçando não conseguia lembrar de tudo, principalmente de como não havia se matado. Como Minhyuk o impediu? De tanto pensar já se sentia com dor de cabeça. Pela demora de Minhyuk o Shin havia até cochilado.
— Hoseok, acorda. — Minhyuk cutucou o Shin, que acordou levemente confuso e olhou para Minhyuk de pé a sua frente. — Vamos?
— O que é isso na sua cabeça? — Esfregou os olhos, como se talvez estivesse enxergando errado.
— Uma touca, ué. — Deu de ombros.
Hoseok franziu o cenho. — E por que você está com isso?
— O cabelo seca mais rápido do que naturalmente, e eu não gosto de usar o secador, o cabelo fica muito sem brilho e ressecado. — Explicou.
— Tá legal. — Hoseok se levantou. — Você prefere sair na rua com uma touca de plástico na cabeça do que com o cabelo ressecado?
Deu de ombros. — A gente vai de carro mesmo.
— Tudo bem, então vamos. — Disse e em resposta Minhyuk anuiu e colocou sua máscara e o boné por cima da touca. Hoseok riu. — Você está muito engraçado. — E os dois andaram para fora do estabelecimento.
— Quando você ver o resultado com certeza engraçado não será o que você achará. — Minhyuk falou convencido e ambos entraram no carro.
Hoseok pegou o celular no painel do carro. Ele nem ao menos notou que havia o esquecido ali. — Changkyun manou mensagem.
— O que ele disse?
— Que chegou em Busan e está lá em casa. — Falou e olhou para Minhyuk. — Você passou meu endereço para ele?
Anuiu. — Para que ele pudesse entregar o remédio. Por que? Fiz errado?
— Não, imagina. — Digitou para Chang que já estava chegando e recolocou o aparelho no painel do carro. — É melhor irmos logo.
Minhyuk concordou e Hoseok deu a partida.
.
— Oh, deve ter sido difícil — Cheong Yi, mãe de Hoseok, falou admirada para Changkyun. Ambos conversavam sentados no sofá da sala.
— Bom, parece ser mesmo muito difícil, mas quando se passa tantos anos estudando e mais alguns anos praticando, uma cirurgia dessas é na verdade bastante simples.
A mulher sorriu. — Eu acho a medicina tão interessante e realmente sua profissão é linda. Como foi que você e meu filho viraram amigos?
O Lim pareceu pensar. — É meio complicado de explicar.
— Que isso, não precisa ficar com receio de contar nada, eu já sei que Hoseok é da Yakuza. — Abanou a mão na frente do rosto.
— Jura? — A mulher confirmou. — Ah, bem, nos conhecemos quando um dos amigos dele me sequestrou.
Cheong pareceu surpresa. — Que situação... incomum?
— Sem dúvida. — Changkyun riu fraco.
— A amizade de vocês é realmente peculiar. — Riu. — Mas por que mesmo você veio ver ele?
— Minhyuk me pediu para trazer o remédio que ele esqueceu.
Cheong Yi franziu o cenho. — Remédio? Ele ainda toma remédio para depressão?
— Sim. — Disse com cautela. — Ele já os toma a muito tempo?
— Claro, desde adolescente quando os amigos dele... bom, você sabe, acho.
Chang anuiu. — Sei sim.
— Mãe, chegamos. — A voz de Hoseok foi ouvida e logo ele e Minhyuk apareceram no batente do corredor que dava para sala.
— Bem vindo, filho, seu amigo veio te ver. — Falou com um sorriso curto e olhou para Minhyuk. — Você está com uma touca de banho?
O Lee deu de ombros. — O cabelo seca mais rápido.
— Por que não secou com secador? — A mãe de Hoseok perguntou e esse riu.
— Foi exatamente o que eu perguntei.
— Eu já disse que o secador deixa meu cabelo muito quebrado e seco. — Repetiu quase emburrado e olhou para Changkyun. — Ah, oi Chang, demorou.
Changkyun se levantou e caminhou até eles. — Eu cheguei ontem de noite, mas eu achei que poderia ser um pouco tarde para vir, então vim agora a pouco, mas vocês não estavam. Toma. — Estendeu uma sacolinha branca com logo de farmácia para Hoseok, que logo o pegou e olhou dentro. — Peguei seu remédio e também comprei mais um já que os seus já estavam acabando. Além disso peguei uma receita atualizada com a Kimi para caso você precise.
— Kimi? — Wonho olhou para Chang.
— Psicóloga, minha colega de trabalho. — Explicou brevemente.
— Ah. — Falou compreensivo e sorriu. — Obrigado Chang, esses remédios são caros, não precisava ter comprado um novo para mim.
Deu de ombros. — Eu sou cirurgião, acredite, ganho bem.
— Obrigado. — Agradeceu novamente. — Eu vou na cozinha tomar um comprimido.
Chang anuiu e observou o outro deixar a sala. Sua mãe foi atrás, parecia preocupada e Changkyun sabia o porquê. O Lim se virou para Minhyuk.
— Como você está? Teve algum problema até agora?
— Não, eu estou bem. Na verdade, até agora não tive nenhum sinal de algum membro da Yakuza.
— Bom, eu acho que isso não vai durar muito tempo.
Minhyuk franziu o cenho. — Por que diz isso?
— Mandei mensagem para Hyungwon, Kihyun e Gun para ver se algum deles poderia me entregar o remédio de Wonho e Kihyun se prontificou. Quando eu o encontrei ele disse que Kakuji havia mandado Hyungwon em missão atrás de você e que nessa missão estavam Yoosu, SungJoo e Wonho.
— Mas como Wonho pode estar nessa missão se ele está aqui?
— Aí é que está. Kakuji acha que Wonho vai estar nessa missão e Hyungwon vai ter que inventar alguma coisa para que Yoosu e SungJoo não desconfiem da falta dele na missão e também para que ambos não contem sobre esta falta ao Oyabun, se não Kakuji logo ligará um ponto ao outro e descobrirá que você está com Hoseok, e se isso acontecer será questão de tempo até te encontrarem.
O Min engoliu a seco. — Mas Hyungwon é convincente, eles vão acreditar nele.
— Vão, mas o problema é Yoosu. — Chang falou preocupado. — É muito difícil de enganar ele, além disso a especialidade dele é espionagem, mentir para ele é como querer ensinar o padre a rezar missa.
— Então se Yoosu começar a desconfiar de algo... — Minhyuk começou seu raciocínio, mas Hoseok completou.
— Ele certamente descobrirá sobre nós dois e de onde estamos. — Disse o loiro, que voltou da cozinha ainda com a sacola na mão. Sua mãe não apareceu de volta.
Minhyuk pareceu pensar. — Se é isso, então... — Olhou para Changkyun e então Wonho. — Então eu não posso ficar aqui. Se descobrirem que eu estou com você não serei o único acusado de traição.
— Aqui é o lugar mais seguro para você estar agora. — Hoseok disse e se aproximou parando na frente dos dois rapazes.
— Hoseok tem razão, Minhyuk. — Chang concordou. — Além disso eu, Shownu e Jooheon já estamos investigando os suspeitos.
— Conseguiram alguma coisa? — O Min perguntou e Hoseok concordou com a cabeça, como se dissesse que tinha a mesma dúvida.
Changkyun coçou a nuca. — Mais ou menos, na verdade ainda estamos na estaca zero, mas Seung conseguiu convencer Satoru a nos dar mais tempos para procurarmos pelo verdadeiro culpado, então ainda temos um pouco de tempo antes da Towa ir atrás de você.
— Isso só me deixa mais frustrado. — Suspirou. — Metade da Yakuza está contra mim e eu não posso fazer nada além de fugir e me esconder. Vocês todos estão fazendo tudo para me ajudar e eu não consigo nem contribuir, só ponho vocês em risco de serem considerados traidores também.
— Tá, parou por aí. — Hoseok pôs uma mão em seu ombro. — Primeiramente que se vamos te ajudar ou não é uma escolha nossa, além disso você é inocente, e segundamente eu não consigo te levar a sério com essa touca, então porque a gente não sobe lá pra cima e pensamos no que podemos fazer?
— Tá legal, mas para de falar da minha touca. — Cruzou os braços e Changkyun riu.
— Na verdade eu já estava indo, só vim entregar o remédio mesmo. — Changkyun falou. — Preciso voltar para ajudar com a investigação.
— Sério? — Minhyuk perguntou. — E como estão as coisas na mansão?
— Muito agitadas, você não tem nem ideia. — Falou. — Depois que Gun apareceu lá com Kihyun então, nem se afala.
Hoseok arqueou uma sobrancelha. — Oi? Como é?
— É uma longa história, mas parece que Kihyun e Gun brigaram e o Kihyun teve um ataque de raiva ou sei lá o que, aí quando Gun o prendeu no quarto ele se bateu contra a porta e se machucou. Gun levou o Kihyun para a mansão para eu cuidar dele, já que ele não queria ir no hospital.
— E ele está bem? — Hoseok parecia preocupado.
Anuiu. — Sim, ele está bem, não foi nada grave. Bom, o problema é que enquanto eles entravam na mansão Gun acabou nocauteando um novato lá e estamos preocupados que possam desconfiar da nossa "aliança secreta" — Suspirou como se estivesse cansado. — Também tem aquele lance com os pais do Jooheon.
— Nossa, as coisas estão loucas mesmo. — Wonho disse. — Quando disseram que você assinou os documentos para voltar para a Towa eu não acreditei. Posso perguntar por que voltou para a mansão?
Changkyun ponderou. — Vários motivos. — Disse vagamente. Antes de qualquer um presente dizer algo, o celular do mais novo toca e ele pede licença e atende. Era Kihyun. — Alô?
Alô. Por que dessa voz de surpreso? — Kihyun perguntou com certo sarcasmo.
— Não deveria estar? Você nunca fez muita questão de falar comigo.
Tá, tanto faz, olha, você ainda está em Daegu?
Chang franziu o cenho com a pergunta. — Estou.
Ótimo, porque eu acho que sei como podemos conseguir uma pista do culpado.
— E como seria?
Kwangji. — Kihyun respondeu. — Ele está em Daegu fazendo a cobrança de um pagamento.
Changkyun parecia ainda confuso. — Kwangji? Não foi ele quem começou esse boato todo? Além disso, o que você quer que eu faça?
É, tecnicamente foi ele o culpado pelos boatos, mas não foi ele quem os espalhou. Enfim, você pode conseguir informações com ele, embora eu já tenha o interrogado ele não falou muito e eu tenho certeza que se pressionar um pouquinho ele acaba falando mais.
— Tá, e onde é que ele está?
Então, eu não sei o local exato, mas eu estou indo para aí te ajudar com isso. Aproveita que tá em Daegu e pede ajuda de Hoseok para rastrear Kwangji.
— Tá legal. — Kihyun desligou sem nenhuma despedida ou cerimonia. Quando Changkyun guardou o aparelho no bolso do casaco notou que Minhyuk e Hoseok o olhavam interrogativos. — Era Kihyun, ele acha ter achado uma possível pista, mas eu preciso da sua ajuda. — Olhou para Hoseok.
— Bom... — Hoseok sorriu e estacou os dedos. — Então vamos começar.

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