Capítulo 41: Velhos amigos

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'' Quatro anos antes conheci aquele cara, Marcos, na saída de uma balada. Ele era segurança na Inconfidentes, uma casa noturna chinfrim em um bairro chique na minha antiga cidade, Votorim. Brígida havia me dado um perdido e eu teria que voltar para casa sozinha. De novo. Aquilo acontecia com frequência e me incomodava muito. Minha melhor amiga só daria sinal de vida pela manhã, o que só me irritava ainda mais.

Eu estava do lado de fora da boate, quando ele saiu arrastando um cara extremamente bêbado e o jogou do outro lado de um beco próximo. O cara só se ajeitou e parecia que dormiria ali mesmo.

Marcos não era exatamente um cara considerado bonito pelos parâmetros da sociedade. Apesar do seu corpo possivelmente cultivado em academia, ele era alto demais, suas feições, de certos ângulos, eram tortas e grandes e seu cabelo crespo desgrenhado estava precisando urgentemente de um corte, mas algo nele me chamou atenção à primeira vista. Talvez fosse aquele olhar profundo, penetrante, que ele sempre tivera. Lembro que me senti nua quando ele me olhou de cima a baixo a primeira vez. Sempre mantivera aquela expressão séria no rosto, o que o envelhecia um pouco. Ele, provavelmente, era quase uns dez anos mais velho do que eu...

Eu usava um vestido roxo de frente única e sapatos de salto alto naquela noite. Estava tremendo de frio. Meu celular estava sem internet para chamar um carro por aplicativo. Liguei insistentemente para o ponto de táxi, mas ninguém atendeu. Moto táxi não funcionava naquele horário. Eu estava frita – ou melhor, congelada, dependendo do ponto de vista – e longe de casa. Atritei as mãos pelos braços, tentando aquece-los, mas foi inútil.

– Não é bom ficar aqui sozinha. O pessoal é frequentemente assaltado nessa rua. Seu namorado já está vindo te buscar? – ele perguntou ao se aproximar de mim com as mãos no bolso da calça.

Sua postura era tranquila, apesar do seu trabalho estressante. Ri ao tomar um susto com aquela voz alta e grossa. Eu havia dado as costas a ele pouco depois dele sair da casa noturna. Não era do meu feitio ficar encarando as pessoas.

– Desculpe, não era minha intenção assustá-la. Fiquei preocupado em ver uma mulher sozinha aqui nesse escuro. – ele olhou rapidamente em volta e retirou um maço de cigarros do bolso e o ofereceu a mim, neguei e ele retirou um cigarro para si.

– Tô sem internet 'pra' chamar um Uber e o taxi não atende, ou seja, tô sem condução 'pra' ir embora.

– Veio sozinha?

– Não, vim com minha melhor amiga, mas ela já sumiu com algum idiota qualquer aí dentro.

– E o namorado? – ele insistiu.

– Não tenho.

Ele me avaliou novamente dos pés a cabeça. Fechei a cara e encarei a rua mal iluminada a minha direita. Aquilo me incomodou.

– Desculpe, não queria constrange-la. Só não sei como uma mulher bonita como você está solteira. Desculpe o atrevimento em dizer isso.

– Você pede muitas desculpas, é sempre assim? – fiz uma pergunta retórica, eu ainda não olhava em sua direção.

Ele riu, jogou o cigarro aceso no chão e o pisou, apagando-o.

– Eu saio daqui vinte minutos, se quiser, te dou uma carona. – ele disse e se dirigiu ao prédio de onde saiu a pouco.

– Humpf. – dei um muxoxo.

– Ou pode esperar mais algumas horas. Às quatro é a hora em que os taxis param aqui na porta da casa e pegam a galera.

Diário De Um Apocalipse Zumbi - O Despertar Dos MortosWhere stories live. Discover now