Capítulo 17: O início do fim

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Já na estrada há duas horas, Lobo Selvagem parou o veículo para analisar a rota traçada em um mapa. Águia e Benny juntaram-se a ele. Procurei roupas limpas em minha mochila e segui para o banheiro. Meu eau de parfum a lá ''faminto'' não estava agradando nem o meu próprio olfato, quem dirá os olfatos alheios. Somente um banheiro bem quente e de bucha tiraria aquele futum que estava impregnado em mim, mas talvez tirar aquela roupa gosmenta de sangue talhado ajudasse a camuflar aquele cheiro.

Ficando apenas de lingerie me limpei o máximo possível. Meu corpo estava uma catástrofe: cheio de pequenas cicatrizes e marcas arroxeadas em todos os lugares. Meu cabelo era o correspondente de um ninho de mafagafos. Um emaranhado de nós cobria meus ombros, fazendo meu cabelo parecer uma juba de leão. Eu tinha medo da hora em que fosse penteá-lo, provavelmente não sobraria muita coisa. Juntei-o em um coque baixo, foi o melhor que consegui fazer com ele. Os pontos no meu ombro repuxavam, indicando que precisariam ser retirados em breve. Eu nunca havia me sentido tão esgotada antes. Precisaria dormir por uns quatro dias seguidos para recarregar as energias. Joguei as roupas sujas no lixo e voltei ao meu assento, onde Benny me aguardava.

– Você precisa descansar. – ele disse.

– Você também. – respondi antes de bocejar. – Porque paramos?

– Estamos tomando cuidado para não sermos surpreendidos tanto pelos mortos quanto pelos vivos. Vamos descansar um pouco e daqui algumas horas seguiremos viagem. Estamos há menos de duas horas de Tutinah.

– Que horas são?

Benny retirou um relógio sem correia do bolso de sua jaqueta e olhou o visor.

– Acredite, são 00:36. – ele sorriu desanimado.

– Putz, estava achando que o sol iria raiar a qualquer instante. Hoje foi um dos piores dias de toda essa viagem.

– Nem me fale... Logo, logo estaremos em casa, não se preocupe.

Benny retirou um objeto do bolso da calça e o analisou. Era um cordão de ouro.

– Achei isso depois que saímos do galpão.

Ele estendeu o colar em minha direção. Era uma peça delicada e muito bem trabalhada.

– É lindo! – eu disse, ao observá-lo de perto.

– Eu posso...? – Benny pediu permissão para coloca-lo em mim. Assenti e me virei de costas para ele, que passou o colar em volta do meu pescoço e o abotoou.

Passei a mão por toda a sua extensão, chegando à solitária pérola rosácea que pendia entre os meus seios.

– Obrigada.

Por mais que não nos conhecêssemos tão bem, visto que Benny era um cofre fechado a sete chaves no que se referia a sua vida antes do Caos, ele havia notado que eu era como aquele colar, simples e sem muita frescura. O abracei forte e demoradamente. Eu era grata não só pelo que havia acabado de ganhar, mas também por tê-lo em minha vida em meio a toda aquela bagunça em que estávamos vivendo.

– Você estará sempre aqui comigo.

Coloquei a mão sobre o pingente na altura do coração.

Benny encarou-me por um momento e franziu levemente o cenho. Seus olhos pareciam dizer algo que a boca não conseguia. Segurei aquele rosto barbudo entre as mãos e o acariciei. Ele aproximou-se e depositou um beijo demorado em meus lábios. Aquele homem faria de tudo por mim e eu ainda não entendia o porquê. Mas eu sabia que faria o mesmo por ele. Eu sentia aquilo.

– Eu não mereço você. – foi a única coisa que ele conseguiu dizer com a voz embargada.

– Então não nos merecemos. – brinquei.

Diário De Um Apocalipse Zumbi - O Despertar Dos Mortosحيث تعيش القصص. اكتشف الآن