Capítulo 21: Vem com o papai

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Uma leve brisa trouxe um cheiro que há muito eu não sentia: carne em decomposição. ''Famintos''. Passei a mão na faca Bowie e a empunhei na defensiva. Estaria preparada caso aparecesse um deles por ali, pois havia algum não muito longe dali. Umedeci os lábios secos e sequei o suor que brotou em minha testa com o antebraço. Caminhei apreensiva até o final do quarteirão a fim de encontrar a fonte daquele odor pútrido, mas não achei nada. Corri de volta para onde o ônibus estava estacionado e quando cheguei lá o grupo estava reunido e ansioso. Ouvi um ''Meu Deus'' conforme me aproximava daquelas pessoas que me olhavam como se eu fosse um ET.

- Por onde você se meteu? - Lobo Selvagem perguntou, mas eu não respondi, o que fez com que ele segurasse grosseiramente em meu braço.

- Eu estou aqui agora, não estou? - esquivei-me, tentando me livrar de seu aperto.

- Ficamos preocupados com você.

- Deveria ter se preocupado com sua mais nova amiga.

- Mel, não faz assim...

- Tá machucando meu braço. - disse rispidamente.

Na mesma hora Lobo Selvagem afrouxou o aperto e consegui entrar no ônibus, seguida por olhares de piedade. Segui direto para o segundo andar, não estava a fim de conversar e muito menos continuar recebendo tanta atenção gratuita por causa do meu olho inchado e possivelmente roxo. Como se Benny adivinhasse que eu iria 'pra' lá, lá estava ele me aguardando. Dei um passo para trás, mas eu não voltaria para o andar de baixo.

- Merda. - xinguei baixinho. - Viu o que sua namorada fez comigo? - perguntei e indiquei meu rosto.

- Soube que foi você quem começou... - ele respondeu.

Ri sem achar graça da situação e me sentei na poltrona ao seu lado.

- E isso importa? Se foi eu ou se foi ela?

- Claro que importa. Você não a conhece como eu conheço. Não deveria se meter com ela...

- Por quê? Porque ela pode deixar o meu outro olho roxo?

- O que há de errado com você, Melina? Anda tão introspectiva ultimamente, se afastando de todos. Nunca vemos você pela casa ou em qualquer outro canto. E agora deu 'pra' sair socando as pessoas.

-Virou psicólogo agora? Você só está preocupado porque soquei o rostinho bonito da sua namorada. Pena que não temos mais hospitais funcionando, senão ela poderia fazer outra plástica naquele nariz torto dela.

- Melina... - Benny segurou firme as minhas mãos - Eu me preocupo com você. A Íris pode ser difícil de lidar às vezes, ela sempre teve tudo o que quis...

- Inclusive você, não é? Fiquei sabendo como se conheceram... Ela fez questão de contar a história de vocês. Falou um pouco sobre você também.

Benny ficou tenso ao ouvir aquilo e não me encarou mais.

- O que ela disse sobre mim?

- Não se preocupe. Ela só disse que você era do Exército, que perdeu sua esposa para o seu melhor amigo e que a ajudou fugir do seu antigo grupo. Nada além disso...

Ele suspirou aliviado. Soltei minhas mãos das dele e alisei as dobras da calça que vestia. O silêncio que pairou entre nós era asfixiante.

- Quer saber mais alguma coisa sobre mim? - ele estava aberto a responder as minhas perguntas.

Eu o conhecia há algum tempo e mesmo assim ele era um completo estranho para mim. Eu queria saber tudo sobre ele, mas não conseguia colocar em palavras o que havia em minha mente. Pigarreei desconsertada depois de gaguejar meia palavra. Balancei negativamente a cabeça, sem saber o que responder, ou melhor, o que perguntar.

Diário De Um Apocalipse Zumbi - O Despertar Dos MortosOnde histórias criam vida. Descubra agora