Capítulo 16: Pregos x Pneus | Parte 1

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Estávamos todos esgotados daquela viagem. Brígida havia se apoderado do banheiro permanentemente fazia duas horas. Ela estava enjoando devido a sua gravidez e por não aguentar mais as sacolejadas constantes do ônibus. O resto do grupo estava dormindo e os que permaneciam acordados estavam preocupados demais para conversar. Benny era um deles.

Eu nunca havia estado naquelas bandas do estado e por mais que estivéssemos em guerra contra os zumbis, o lugar era lindo. O horizonte era verdejante até onde os olhos enxergavam. A terra era de um marrom vivo. Todas as cores eram intensas e apaixonantes. Mais cedo, eu havia visto pássaros voando em direção ao horizonte, talvez fossem andorinhas, eu não saberia dizer. Não tínhamos isso de onde eu vinha, somente a crua e encantadora selva de pedras.

Águia parou o ônibus no meio da pista e de onde eu estava sentada pude ver que ele abriu um mapa em cima do volante. Lobo Selvagem desceu do segundo andar e se juntou a ele. Ambos conversavam calmamente e gesticulavam em direção a aquele enorme gráfico cheio de marcações e rotas. Pente Fino havia ido verificar o motivo da nossa parada, mas logo voltou. A segui até sua poltrona e me sentei ao seu lado.

- Por que paramos? - perguntei.

- O Águia disse que viu muito daquelas coisas...

- ''Famintos'' - a interrompi.

- Como é? - ela franziu o cenho, sem entender.

- Eu os chamo de ''famintos''. Não importa se já comeram, estão sempre com fome. São famintos por ''natureza''. - respondi.

- Tanto faz... Águia acha melhor irmos por outra estrada. Vamos fugir de cidades grandes. Quanto menor a população, melhor 'pra' gente. Isso nos manterá a salvo. Não podemos dar mole logo agora que estamos chegando lá.

Vimos Lobo Selvagem subir novamente para o segundo andar do ônibus. Ele olhou em nossa direção, indiferente.

- Vocês continuam brigados? - Pente Fino perguntou.

- Como você mesma disse: '' não podemos dar mole logo agora que estamos chegando lá...'' - dei uma piscadela para ela.

Levantei e fui me sentar ao lado do meu irmão, que, pela cara, parecia estar uma pilha de nervos.

- Por que estamos dando a volta? Estávamos indo 'pra' um lado e agora estamos indo 'pra' outro. Por quê? - ele me olhou preocupado. - Estou começando a duvidar se essa tal cidade Tutinah existe mesmo...

- Essas pessoas estão fazendo o que podem para nos manter a salvo. Se o Benny disse que chegaremos a Tutinah, eu acredito nele. Você deveria depositar um pouco mais de fé no cara que me ajudou a te salvar. - respondi secamente.

- Eu não quis parecer mal agradecido, muito pelo contrário. Se não fosse por vocês, eu não... - ele fez uma breve pausa. -... eu não teria aguentado por muito mais tempo. Eu vi e fiz coisas horríveis antes de chegar àquela igreja... Tudo para salvar a minha própria pele e daqueles que eu julgava que eram importantes 'pra' mim.

Henri olhou em direção a Marlene que estava dormindo com a cabeça encostada na janela do ônibus.

- Mas eu não aguento mais essa incerteza, essa inconstância. Não sabemos o que vamos encontrar a cada vez que saímos desse maldito ônibus.

- Preciso que você mantenha a cabeça no lugar, ok? Temos que focar em sobreviver um dia de cada vez. Eu tenho certeza que logo chegaremos a Tutinah. Tenha fé nisso, Henri. Por favor.

Em um gesto inesperado, Henri me abraçou. Meu irmão não era um fracote, mas ser pego de surpresa pelo fim do mundo não estava sendo fácil para ninguém. Descansei minha cabeça em seu ombro e entrelacei nossas mãos. Nosso laço era mais forte do que o sangue que tínhamos em comum. Ele sempre cuidou de mim e eu dele. Nada seria o mesmo em minha vida se eu também o tivesse perdido como perdi minha mãe.

Diário De Um Apocalipse Zumbi - O Despertar Dos MortosWhere stories live. Discover now