Capítulo 25: Não é a Mamãe! | Parte: 2

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– Ufa, quase fomos descobertos. – Odete sussurrou.

Rogério abriu a porta do quarto onde Pente Fino estava e me empurrou com força para dentro dele. Fechou a porta novamente e a trancou. Eu tropecei em meus pés e caí de joelhos no chão. Engatinhei até a cama de Pente Fino e a chacoalhei algumas vezes, mas não obtive nenhuma reação. Levantei e corri em direção a um guarda roupa despencando e abri uma porta, que veio junto da minha mão. Apoiei a porta na parede e comecei a vasculhar algumas caixas. Ali, provavelmente, outrora, era o quarto da Mamãe. Havia camisolas e roupas íntimas nas gavetas que não caberiam em Odete.

Não encontrei nada de útil. Vasculhei os bolsos de Pente Fino. Em vão. Ela sempre andava bem guarnecida de armas e agora não restara nenhuma consigo. Grunhi em frustração e me sentei no chão. Nós estávamos presas em um quarto minúsculo – sem janelas – e fedendo a naftalina.

Eu achei que iria enlouquecer.


Horas se passaram e ninguém havia voltado para falar comigo ou para verificar o estado de saúde de Pente Fino, que por sinal, ainda estava desacordada. Chutei, esmurrei e tentei derrubar a porta de todas as maneiras, mas nada aconteceu. Pelo menos, não com a porta. Minhas mãos e pernas estavam esgotados por lutar boxe com uma porta de madeira maciça. Sentei novamente no chão e chorei. Se não fosse por um descuido meu e por uma maldita dúvida que rondava minha cabeça nós não estaríamos naquela situação.

A porta foi aberta em um rompante. Bateu com força contra a parede, arrancando farelos de concreto do reboco. Me encolhi, assustada, para perto de Pente Fino, protegendo-a com o meu corpo.

– Qual das moçoilas usou isso aqui? – Odete nos encarou furiosa.

Ela balançou alguns testes de gravidez na mão e aguardou ansiosa pela resposta.

– Foi eu. – sussurrei.

Ela caminhou em minha direção como um gigante faria: rápida e pesada. Me encolhi ainda mais. Meu rosto ainda ardia pela força com a qual ela desferiu um tapa no meu rosto mais cedo. Só pensei que ganharia outra bofetada. Ela se aproximou de mim e deu dois tapinhas nas minhas costas.

– Parabéns, querida. Você vai ser mamãe. – ela disse.

Aquela declaração doeu como soco no estômago. Odete estava muito animada com aquela gravidez, parecendo que ela própria estava grávida. Falava e falava sobre algo que eu não tinha interesse nenhum em ouvir. Meus olhos fixaram-se em algo a minha frente, mas meus pensamentos estavam muito além daquele quarto.

Eu estava grávida.

Eu ainda não estava pronta para ter um filho. Eu não entendia nada sobre crianças. Comecei a tremer com a possibilidade de dar à luz daqui há, pelas minhas contas, sete meses. Odete se aproximou ainda mais e secou uma lágrima que descia pelo meu rosto com a barra de seu avental imundo, me deixando imóvel com aquele contato repentino.

– Venha, querida. Você precisa se alimentar. Não pode deixar o meu bebê... – ela tapou a boca com a mão e logo voltou a sorrir. – não pode deixar esse neném com fome, não é?

Ela me ajudou a levantar, fechou novamente a porta atrás de nós e me conduziu por aquele corredor sombrio. Chegamos em uma cozinha pequena. Limpa. Diferente do buraco onde fui mantida junto da verdadeira e única Mamãe. Sentei em uma cadeira junto a uma mesa de jantar retangular. Um copo d'água foi servido, mas eu nem lembrava mais que estava com sede ou da minha vontade de usar o banheiro.

– Beba, querida. O que você quer comer? Hum? – Odete me olhava com expectativa.

– Tanto faz. – respondi sem muito interesse.

Diário De Um Apocalipse Zumbi - O Despertar Dos MortosWhere stories live. Discover now