Capítulo 20: Olho por olho, nariz por nariz

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- Acho que deveríamos construir um muro. Proteção nunca é demais. - Mamba Negra disse antes de abocanhar metade de seu pão.

- A propriedade é enorme... - Ariana observou.

- Ainda bem que temos tempo de sobra. - Pente Fino assoprou uma xícara de café fumegante.

- Então temos que achar um depósito de material de construção. Será que tinha algum nessa cidade? - Lobo Selvagem perguntou, o que fez todos olharem para ele e em seguida para Benny.

- Não sei. Teremos que ir à cidade procurar... - Benny disse.

Aquela novidade me animou.

Duas semanas haviam se passado desde a nossa chegada àquela casa, mas parecia que morávamos ali há anos. Nos adaptamos rápido e a convivência não era tão enfadonha assim, chegava a ser até divertida. Dividimos as tarefas do lar entre todos os moradores. Muita coisa ainda precisava ser feita dentro e fora da casa e construir um muro era uma delas. A propriedade era delimitada por uma cerca alta de madeira. O que não impediria os mortos vivos de entrarem ali, caso eles aparecessem, o que ainda não havia acontecido.

- Precisamos de um grupo para ir até à cidade. Quem vai? - Lobo Selvagem perguntou para Águia.

- Eu, você, Benny, Tonho, Ian, Lúcio, Patrick, Henri, Ricardo... - Águia respondeu.

- Só o clube do Bolinha, é isso mesmo? - Pente Fino perguntou e franziu o cenho.

- Precisamos de músculos 'pra' essa tarefa. Você pode ficar aqui com as outras mulheres da casa e ajudar no que precisar ser feito...

- Não acredito que eu ouvi isso. Você só pode estar brincando comigo. Quer ser um puto machista a essa altura do campeonato?

O silêncio pairou sobre a mesa onde tomávamos o café da manhã e logo risinhos oprimidos preencheram a sala.

- Não estou pedindo para você cozinhar ou essas outras merdas que você não sabe fazer. Só quero que fique e proteja as outras mulheres...

- Quer protege-las? Fique aqui você e faça isso. Deixa que eu vou no seu lugar. Aguento carregar peso.

Pente Fino levantou os braços e mostrou os bíceps torneados. Lobo Selvagem não se conteve e riu de gargalhar, assim como Ariana e Mamba Negra. Pela cara que Águia fez, ela o havia convencido.

- Prepare-se, sairemos daqui meia hora.

- Posso ir também? - perguntei timidamente.

Eu não tinha paciência para machistas e não estava a fim responder feministamente como Pente Fino havia acabado de fazer. Comigo sempre foi oito ou oitenta e mandar Águia ir a merda seria fácil, fácil para mim.

- Não sei se é uma boa idéia... - Águia olhou diretamente para Benny, como se esperasse uma resposta, mas ele deu de ombros.

- Eu fico de olho nela. - Lobo Selvagem respondeu.

Balbuciei um agradecimento para ele e me levantei rapidamente da mesa sem olhar ninguém em particular. Ouvi quando Mamba Negra - com sua voz grave e alta - começou a falar sobre os materiais que precisaríamos para a construção do muro. Sua voz preenchia o ambiente e impunha respeito, como a voz de um professor que passa bronca para seus alunos.

Caminhei apressada para fora da casa e quase tropecei ao chegar diante da escadaria em leque. Passei as duas últimas semanas me escondendo de Benny e quando ocorria de nos encontramos durante as refeições principais ou nos esbarrarmos aleatoriamente nos corredores ou em algum cômodo eu evitava olhá-lo ou falava o mínimo possível com ele, como ''oi'' ou ''com licença''. Eu não precisava pedir permissão a Benny para fazer nada do que eu quisesse. Ele não era nada meu. Nem éramos amigos. As pessoas daquele grupo teriam que colocar aquilo em suas malditas cabeças.

Diário De Um Apocalipse Zumbi - O Despertar Dos MortosWhere stories live. Discover now