Capítulo 15: Prazo de validade indeterminado |Parte 2

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Descemos as escadas e eu fui checar se Stella já havia acordado. Bati na porta do quarto e Brígida a abriu.

– Bom dia, Mel.

– Bom dia, Brig.

– Sinto muito por ontem, eu disse que ficaria no seu quarto, mas assim que voltei com minha mala você já estava dormindo. Achei melhor procurar outro quarto 'pra' te deixar mais a vontade na cama. Então fiquei conversando com a Stella, não quis deixa-la sozinha.

– Obrigada por tomar conta dela. Eu realmente não estava em condições de nada ontem, fora que minha madrugada foi um desastre...

Adentrei o quarto e olhei a menina Stella escovando os dentes no banheiro. Ela sorriu e acenou contente para mim.

– O que teve demais com sua madrugada?

– Depois eu te conto. Agora arruma suas coisas por que já estamos indo embora.

Ajudei Brígida e Stella a arrumarem suas coisas que estavam espalhadas pelo cômodo. Fomos ao meu quarto e recolhemos as bolsas que já estavam preparadas para a viagem. As amontoamos na recepção junto com a bolsa das outras pessoas. Ninguém havia aberto as portas de entrada ainda e seria preciso inspecionar o perímetro antes que nosso grupo saísse em segurança até o ônibus. Sentamos todos no restaurante e jogamos conversa fora, enquanto um pequeno grupo saía para fazer a ronda.

– A barra 'tá' limpa. Vamos embora. – Águia disse.

Nossos olhos se encontraram por um momento, mas logo desviei o olhar. Eu não conseguiria encara-lo enquanto me lembrasse da forma como ele havia falado comigo na noite anterior: decidindo as coisas por mim e não dando a mínima para a minha opinião. Recolhemos tudo o que era nosso e nos dirigimos para ônibus. Sentei-me no lugar de sempre e aguardei enquanto Águia conversava com o Benny sobre nossa rota. Ele era caminhoneiro antes do Caos e segundo sua narração digna do ''Carga Pesada'' havia dirigido inúmeras vezes entre Minas Gerais e Rio de Janeiro e nos conduziria até Tutinah, que fazia fronteira entre esses dois estados. Rotas traçadas, combustível verificado e todos embarcados, era hora de pegarmos a estrada até nosso porto seguro. Lobo Selvagem passou por mim, vindo da cabine do motorista, e sentou-se em uma poltrona nos fundos. Virei o rosto enquanto ele passava. Não queria olhar para aqueles olhos de menino pidão.


O caminho até nosso destino, Tutinah, era longo. Muitas pessoas com suas famílias em seus carros estavam fazendo o mesmo que nós: procurando um local seguro para ir. O pavor estava estampado na cara delas, o que não era para menos. Me lembrei de ter visto na televisão nos dias anteriores, noticias sobre o contágio de um vírus desconhecido nas grandes capitais do mundo. Uma pandemia – que trazia os mortos de volta a vida – estava se espalhando em escala global e iria matar a todos nós. Assim como aquelas outras pessoas na estrada, nós estávamos tentando evitar aquilo. Ou, no melhor dos casos, prolongar nossas míseras vidas um pouco mais. Naquele momento eu tinha certa noção do que era aquela doença, ou, pelo menos, como ela agia.

Diário De Um Apocalipse Zumbi - O Despertar Dos MortosDove le storie prendono vita. Scoprilo ora