Capítulo 15: Prazo de validade indeterminado

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Deitei em minha cama e fiquei olhando o teto tentando não pensar em nada. O que foi quase impossível para a minha mente que estava compilando todas as merdas que haviam acontecido até então. As horas voaram e só percebi isso quando ouvi movimentação no meu andar. Fiquei olhando aquele teto durante todas aquelas horas até que minha mente silenciou-se por completo. Parecia que havia sacos de cimento sobre cada uma das minhas pálpebras e minha cabeça estava pesada e doendo. Eu precisava escovar os dentes, passar uma água no rosto, pentear meu cabelo e me preparar para aquele fatídico dia que se iniciava. Mas não havia água no encanamento, pelo menos não no dia anterior. Fui ao banheiro e abri a torneira do lavatório e para a minha surpresa a água gorgolejou pelo metal - como se a torneira estivesse engasgada - e depois seguiu fluída. O nosso probleminha havia sido resolvido. Aproveitei para tomar um banho rápido. Na água fria. Demos sorte de encontrar água, ter energia já era pedir demais. Aquele hotel aparentemente não tinha gerador, os donos do lugar contavam muito com a sorte. Logo retirei o excesso de água dos cabelos - com uma toalha - e os deixei solto para que secassem naturalmente. O que demoraria um pouco, pela quantidade de cabelo que eu sempre tive.

Após minha sessão de higiene pessoal, desci para comer alguma coisa. Havia mais de doze horas que eu não comia nada e meu estomago já estava reclamando. Entrei no restaurante do hotel e encontrei Marlene e Mamba Negra sentados à mesa, tomando café preto e conversando. Ele parecia bem melhor. Havia perdido um pouco de peso, mas já estava de pé, o que era mais importante na nossa situação atual, que era fugindo de mortos-vivos.

- Bom dia. - Eu disse ao me juntar à mesa com eles.

- Bom dia, minha linda. Como você está? Não veio jantar ontem e nem comeu nada durante a madrugada, não é? Eu sei disso porque as coisas estavam do mesmo jeito que eu arrumei na noite passada... Você deve estar morrendo de fome...

Eu assenti e Marlene se levantou e serviu uma xícara com café com leite e preparou um pão com requeijão para mim.

- Como está, Mamba? - Perguntei.

- Estou bem melhor, graças a Marlene. Ela tem sido um anjo na minha vida e tem cuidado de mim muito bem.

Ele ergueu da tipoia o toco do braço amputado e olhou para Marlene, seus olhos tinham um brilho peculiar.

- Ela é incrível mesmo. Eu amo essa mulher.

Marlene se aproximou trazendo meu café da manhã e eu a abracei pela cintura. Ela sempre significou muito para mim e para minha família, eu a considerava como minha segunda mãe. Ela colocou uma mão sobre os olhos tapando as lágrimas que estavam vindo à tona.

- Não chora, se não vai me fazer chorar também... - Adverti ao sentir meus olhos lacrimejarem.

Eu não conseguiria parar de chorar se começasse.

- Eu também te amo, Mel. O que você fez por mim e por minha filha, assim como fez por seu irmão e pelo Lúcio não há dinheiro que pague. Eu sempre soube que você era especial, uma pessoa abençoada... Agora tome seu café e vamos falar de outras coisas, antes que eu borre minha maquiagem.

Marlene não usava maquiagem no dia a dia. O que me fez rir de sua piada.

- Sabe que horas vamos seguir viagem? - Perguntei a Mamba.

- Talvez antes do almoço, não sei ao certo. O Águia quer ver se encontra mais óleo diesel por aqui, vamos ver...

- Bom dia, queridos. - Lúcio disse, animado. - Como está sendo a manhã de vocês? Preparados para pegar a estrada e irmos para a casa do namorado da Mel?

Diário De Um Apocalipse Zumbi - O Despertar Dos MortosWhere stories live. Discover now