Capítulo 12: Serviço de Quarto?

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Acordei após meu corpo sofrer uma leve inércia, indicando que o ônibus havia parado. Sentei-me eretamente e ouvi, assim como senti, minha coluna estralar, o mesmo aconteceu com meu pescoço quando o flexionei de um lado ao outro. Eu estava com as articulações duras de tanto ficar deitada na mesma posição por várias horas seguidas. Stella estava deitada na poltrona ao meu lado dormindo serenamente.

– Estamos ficando sem combustível, então vamos parar nessa cidade – Águia disse apontando onde estávamos pelo vidro da janela. – Procurem ficar todos juntos e nas proximidades. Se encontrarem com algum comedor acerte-os na cabeça, bem aqui. – Ele indicou o centro da própria testa. – Se não conseguirem transpassar o crânio enterrem uma faca ou qualquer coisa pontuda e/ou afiada pelos olhos ou ouvidos, até que a coisa pare de se mexer. Funcionará da mesma maneira... Aquelas coisas lá fora não são mais pessoas. Elas não teem recordações humanas, não tem escrúpulos e por isso não tem noção do que é certo ou errado, ou seja, não pensaram antes de atacarem vocês. Então não tenham piedade, porque isso é para os fracos. Façam o que eu disser e sobreviverão. E não banquem os heróis, porque até eles teem um ponto fraco. Procurem por qualquer coisa que possam usar, como por exemplo: suprimentos, um kit de primeiro socorros ou um cobertor. Tudo o que encontrarem terá uma serventia, acreditem em mim quando digo que um único palito de fósforo te dará mais um dia de vida na face da Terra. No mais, é isso. Protejam-se e protejam quem não conseguir fazê-lo por si só.

Águia acabou seu discurso de ''como sobreviver ao apocalipse zumbi'' e nos deu as costas, desembainhando sua pistola Glock G19 do coldre de sua perna.

As pessoas desceram e se reuniram na frente do ônibus. Ricardo tinha uma expressão de desgosto no rosto ao olhar ao nosso redor. Meu irmão se aproximou de mim e tentou parecer esperançoso, mas eu sabia que ele estava com tanto medo quanto eu.

– Não vamos ficar por muito tempo aqui. Só precisamos encontrar combustível para o ônibus e seguir nosso caminho. Vai dar tudo certo, não se preocupe. – Alisei o braço de Henri tentando acalmá-lo. Mas ele manteve aquela expressão assustada no rosto.

– Vamos todos para aquele prédio lá no final do quarteirão, parece ser um hotel. Provavelmente encontraremos muitas coisas úteis por lá.– Lobo Selvagem falou alto para que todos escutassem e se posicionou na dianteira do nosso grupo. – Fiquem espertos.

– Vamos todos 'pra' aquele prédio no final do quarteirão, blá, blá, blá... Cara mandão. E se chegarmos lá e estiver cheio daquelas coisas? Inferno. Onde fui me meter? – Ricardo reclamava como um velho ranzinza, matracando sozinho.

– Dê graças a Deus pelo Benny e eu termos resgatado você. Se não fosse a gente, você estaria em cima daquela empilhadeira até agora gritando igual uma menininha assustada. – Retruquei, sem olhá-lo.

– Eu já agradeci por isso, o que mais quer de mim? – Ele elevou o tom de voz, fazendo algumas pessoas olharem em nossa direção.

– Que seja mais agradecido com essas pessoas. Elas estão te mantendo a salvo e você está só reclamando... Se não está gostando de estar com a gente pegue suas tralhas e vaza, faça uma boa viagem para o Inferno... – Esbravejei e dei as costas para ele. Não queria perder o pouco de paciência que eu ainda tinha.

Tomei a dianteira ao lado de Lobo Selvagem e Pente Fino.

– Está tudo bem lá atrás? – Pente Fino perguntou. Sua voz era firme, porém, com uma leve rouquidão.

– Está. Eu só não tenho paciência com quem reclama de barriga cheia.

– Parece que o fim do mundo só aflorou o que temos de pior. Alguns ficaram excessivamente agressivos, outros ficaram ainda mais egoístas. Algumas pessoas se isolaram totalmente do convívio com as outras e acabaram entrando em paranoia... Sei lá, somos extremos em situações extremas, como é o caso. – Ela divagou, empunhando seu fuzil de assalto.

– O fim do mundo só serviu para mostrar quem é quem e em quem podemos confiar de verdade. – Lobo Selvagem disse.

– Eu confio em vocês, mesmo os conhecendo pouco. – Sorri - tímida -  para eles.

Nos aproximamos do prédio no final da rua e constatamos que realmente era um hotel. Um barulho vindo de um passadiço nos fundos daquele estabelecimento nos alertou. Benny deu algumas batidas suaves no capô de um carro abandonado, chamando para fora o que quer que fosse que tivesse lá dentro. Algum tempo depois, alguns ''famintos'' saíram tropegamente pela portinhola. Seus grunhidos eram guturais e assustadores. Benny, Lobo Selvagem, Pente Fino e Ariana os eliminaram com um tiro certeiro no centro da testa. Eles caíram pesados no chão, como os sacos de batata podre que eram.

Lobo Selvagem e Pente Fino adentraram pela porta principal do hotel e Águia e Ariana pela portinhola lateral. Como fizeram sinal para que o restante do grupo aguardasse do lado de fora enquanto eles inspecionariam o local, nós aguardamos. Os minutos pareciam horas. Estávamos todos alerta no caso de sermos surpreendidos. Olhávamos nossa retaguarda e os arredores a todo instante, esperando ''famintos'' brotarem da terra e correrem ao nosso encontro. O que não aconteceu. Aleluia. Dez minutos depois o grupo que havia adentrado o hotel saiu reunido e mais relaxado. Ariana se dirigiu ao passadiço e o fechou com o trinco.

– Entrada liberada. Alguém vai querer serviço de quarto? – Águia perguntou animado.


Diário De Um Apocalipse Zumbi - O Despertar Dos MortosOnde histórias criam vida. Descubra agora