Capítulo 25: Não é a Mamãe! | Parte: 4

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Os grunhidos se aproximavam em uníssono. Ouvi uma movimentação do outro lado da porta e pensei se tratar de mais ''famintos'' esperando para se alimentarem de mim. Mas então a porta se abriu e para o meu espanto era o mesmo jovem que havia me ajudado poucos segundos antes. Ele gesticulou, me chamando, e eu o segui. Ele parecia saber o que estava fazendo e para onde estava indo. Quando atravessei a porta, ele a fechou e colocou um tambor pesado na frente dela .

Estávamos de volta ao piso intermediário, por onde eu havia entrado. Como estávamos só nós dois, sentei no chão por um segundo e após minha rápida parada para encher os pulmões de oxigênio e compassar corretamente as batidas do coração, levantei e caminhei na sua direção.

- Obrigada. - disse, ainda sem fôlego.

- Não há de quê. Você não é daqui, né, moça? - ele perguntou.

- Na verdade, não. Moro em uma casa afastada da cidade, mas não sei o caminho de volta 'pra' lá.

- Está na casa de quem? Nasci e cresci nessa cidade, conheço tudo por aqui.

- Por que trancariam os ''famintos'' em um subsolo? - mudei de assunto.

- Trancar quem?

- Os ''famintos''. - vi que ele ainda não havia entendido. - Os infectados. Aquelas pessoas doentes da qual você me salvou.

- Ah, sim. Eles... Aqui era o maior lugar na cidade em que poderiam fazer isso, então começaram a trazê-los 'pra' cá e cada vez mais o número deles foi ficando maior. A propósito, meu nome é Fausto. - o jovem me estendeu a mão direita.

Olhei-a desconfiada, mas ele havia acabado de salvar minha vida. Apertei-a de volta.

- Sou Melina.

- Como você não sabe o caminho de volta 'pra' casa, posso te oferecer abrigo.

- Olha, não me leve a mal, mas fui mantida presa por um casal de lunáticos numa merda de farmácia...

- A dona Odete e o Seu Rogério ainda estão vivos?

- Infelizmente sim.

- Preciso ajudá-los. - ele fez menção de sair correndo, mas o impedi.

- Não vá. Eles não são quem costumavam ser antigamente. Tá vendo todos esses machucados pelo meu corpo, foram eles que fizeram. Estão matando todos os que buscam ajuda na farmácia. Eles dão pedaços humanos para a Mamãe.

- Você quer dizer, para a dona Rosário?

- Não sei o nome daquilo, mas não deixarei você ir lá. Não sabe o que passei esses últimos dias nas mãos daqueles dois malucos.

- Tudo bem. Vamos para a minha casa então. Fica no final da rua.

- Como vou saber que você também não tem uma Mamãe presa em um quarto? - pus as mãos na cintura e o encarei.

- Sou apenas eu e minha fome. Por comida de verdade. - ele sorriu.

- Estava procurando uma amiga. Você viu alguém correndo por aqui?

- 'Pra' falar a verdade, você é a primeira pessoa viva que vejo em semanas.

Aquilo me chocou, mas resolvi seguir o garoto. Ele aparentava ter uns vinte anos, era alto e magro. Seu cabelo estava precisando urgentemnte de um corte. Não que eu havia ficado reparando em seu sorriso, mas sua boca era pequena e carnuda, parecendo que fora desenhada e pintada em uma tela antes de ser esculpida em seu rosto lânguido.

Andamos por uma rua até chegarmos a uma casa simples de portão de grades. Minha apreensão mantinha um dos meus pés firmes no chão. Fausto ficou esperando para que eu o acompanhasse.

Diário De Um Apocalipse Zumbi - O Despertar Dos MortosWhere stories live. Discover now