Capítulo 25: Não é a Mamãe! | Parte: 3

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– Garota, abra a porta. Meu marido prometeu não revidar a sua falta de cortesia. Ele não fará nada enquanto você estiver carregando o nosso filho.

– Mas e depois? Pelo menos deixarão que eu segure o meu neném antes de me matarem? Não, vocês não farão isso.

– Não seja boba. O que pensa que somos? Bárbaros? Aquele povo sem modos que viviam em cavernas? Claro que deixaremos você segurar a criança.

– Não minta 'pra' mim. – pedi.

– Não estou. Agora saia daí antes que o homem volte e coloque essa porta abaixo.

Não tinha certeza do que iria acontecer, mas eu precisava arriscar. Eles queriam o meu filho e por isso não poderiam fazer nada comigo. 

Não é?

Abri a porta e Odete me aguardava de braços abertos do outro lado. Antes que eu pudesse alcança-la, ela me pegou pelo pescoço e bateu com minha cabeça na parede de azulejos brancos encardidos do banheiro. Senti algo umedecer meu cabelo. Os dedos fortes aumentaram cada vez mais a pressão ao redor do meu pescoço. A falta de ar me consumia. Pontos brilhantes dançavam diante dos meus olhos até que tudo se tornou escuridão. Me debati incansavelmente até sentir meus músculos fraquejando.

Meu último pensamento foi que meu filho não conheceria o pai.


Acordei sem fôlego, como se eu tivesse sido mantida embaixo d'água por tempo além do que os meus pulmões aguentavam. Engoli em seco e senti uma dor na garganta. Coloquei as mãos no pescoço e senti a pele sensível. Minha cabeça latejava de dor. Eu estava novamente no mesmo quarto que Pente Fino. Ela estava deitada com o corpo todo virado para a parede. Será que alguém havia mexido nela ou ela havia virado sozinha? Me animei com aquela possibilidade e a virei de barriga para cima, chacoalhando-a insistentemente. Ela balbuciou algumas palavras e voltou a dormir. Sorri por ela estar se recuperando. Talvez, se eu ficasse boazinha, por uns dois dias, com aquele casal maluco ela se recuperasse totalmente ao ponto de fugirmos. A cada hora eu a verificava. Pente Fino recobrava a consciência, as vezes se debatia, mas sempre voltava a dormir.

Um barulho chamou minha atenção. Havia alguém na farmácia, atrás daquela parede falsa que nos separava da liberdade. Colei o ouvido na porta e tentei escutar do que se tratava. Podia ser apenas os futuros papais do meu filho. A voz que fez meu coração bater mais forte soou baixa, porém grave.

– É, pode ser. – ele respondeu.

Era Benny. Tive vontade de socar aquela porta com todas as minhas forças, mas eu não podia coloca-lo em perigo. Rogério e Odete eram ardilosos e poderiam estar tramando algo contra ele naquele exato momento. Tive medo por ele e por nós duas que estávamos trancadas naquele quarto. Fiz o mais absoluto silêncio e aguardei. Ele não estava sozinho, mais passos podiam ser ouvidos, mas não soube identificar de quem eram. Após algum tempo, o silêncio reinou novamente. Ele havia vindo nos procurar. Ele havia vindo... por mim?

A porta se abriu lentamente, rangendo as dobradiças deslubrificadas. Rogério segurava uma chave de roda nas mãos e Odete apoiou sua peixeira no ombro. Eles me encararam e eu não soube identificar que tramoia eles estavam planejando.

– Você é muito preciosa... Quantos amigos vocês têm? – Odete me olhou com cobiça.

– Dois na outra noite, três hoje, isso daria muitas semanas de refeição para a Mamãe. – Rogério insinuou.

– Vai se ferrar, seu porco nojento. – gritei.

Me encolhi conforme ele se aproximava de mim. O tapa que ganhei na cara estralou meu pescoço dolorido.

Diário De Um Apocalipse Zumbi - O Despertar Dos MortosWhere stories live. Discover now