Capítulo 42 - Parte II: Mamãe de Anjo

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A reunião

Doutor Erick havia feito um curativo no tornozelo de Íris. Ela havia apenas o torcido levemente. Quando entrei na enfermaria, a loira adormecia na mesma maca na qual fora algemada na noite anterior. Ela parecia desconfortável. O biomédico estava lendo algo em uma prancheta e sorriu ao me ver chegar.

– Bom dia, Melina. Como está se sentindo essa manhã? – seu lado médico falava mais alto.

– Poderíamos refazer o exame agora, por favor? – fui direto ao ponto, eu precisava ter certeza da minha atual condição.

– Claro, deite-se aqui. – ele indicou uma maca.

Ele ligou o aparelho e esperou pacientemente até que eu me deitasse e revelasse minha barriga. Ele lambrecou o transdutor do aparelho com o gel.

Eles chegarão pela noite. Tentarão pegar os guardas de surpresa. – ele sussurrou.

Meu coração se encheu de esperança e também de ansiedade. O doutor observava atentamente o monitor a sua frente. Seu semblante era preocupado. Ele passava o transdutor pelo meu abdômen, mas parecia não ter coragem de me dizer o que estava acontecendo. Vários minutos haviam se passado e o silêncio reinava entre nós. Pousei minha mão sobre a dele.

– Já chega. – pedi.

Eu sabia o que significava aquele silêncio todo. Não havia batimentos do coração do meu bebê. Erick desligou o aparelho e me ofereceu algumas folhas de papel toalha para eu me limpar.

– Eu posso fazer com que consigam outro aparelho. Podemos tentar novamente...

– O problema não é o aparelho, doutor. E sim que não há mais vida aqui. – toquei meu ventre, limpando-o. – No início, eu nem o queria. Meu marido me apoiou, me fez ver que a gravidez não era a pior coisa que havia me acontecido. – sequei as lágrimas antes que molhassem meu rosto. – Ele é um cara incrível.

– Ele realmente parece te amar muito. Está preocupadíssimo com você e o bebê. A Íris falou com ele pelo rádio ontem à noite. Também consegui falar com a minha esposa. – ele sorriu e seus olhos se encheram d'água.

– Sua esposa? – o questionei.

– Sim, a Andressa. Ela está com o capitão Ferraz e o resto do grupo.

– Conheci bem pouco a sua esposa, mas percebi que ela é capaz de qualquer coisa para salvar você e as crianças.

Erick suspirou pesaroso.

– Conseguiremos unir nossas famílias novamente. – apertei o dorso de sua mão, tentando reconfortá-lo. – Em breve.

Levantei da maca e caminhei até a saída. Eu precisava espairecer. Esquecer, por um minuto, o que estava acontecendo comigo e com o meu corpo.

Vi vários caminhões e carros Chevrolet Blazer entrando pelo portão principal em alta velocidade. Voltei até a casa de Marcos e o vi ajeitando as armas no coldre, estava pronto para sair. Novamente o assustei, mas, dessa vez, ele não sacou a arma para mim.

– Quem está chegando? – perguntei a ele.

– O grupo do Jorginho. Eles foram até ao Mato Grosso em uma incursão. Não era para irem tão longe, mas encontraram algo bom por lá. O Afonso está com ele. O grupo dele não foi tão longe, mas eles acabaram se encontrando no caminho de volta pra casa.

Gelei ao ouvir o nome do meu ex-namorado. Havia quase dois anos que não nos víamos.

– Quer ir até lá? – Marcos perguntou. – Não conseguirá fugir dele para sempre. – ele disse ao ver minha indecisão.

Diário De Um Apocalipse Zumbi - O Despertar Dos MortosWhere stories live. Discover now