Capítulo 35: Dias Incertos

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Havíamos percorrido uma grande distância a pé quando Benny resolveu que eu deveria ficar no carro enquanto ele continuava a procurar.

– Gravidez não é doença, eu posso muito bem continuar a andar, fora que caminhar faz bem para a circulação. – eu disse, mas Benny pareceu não ouvir uma palavra sequer do que eu acabara de dizer.

– Não sei nada sobre gravidez, mas dizem que repouso é recomendado.

– Quando se há algum risco, o que não é o meu caso, todo cuidado é pouco. Vamos continuar.

A mata nas imediações da propriedade era vasta. Só se via mato alto, árvores e insetos. Não havia sinal que uma criança passara por ali. Aliás, não havia sinal que ninguém com vida passara por aquelas bandas. Depois de uma hora andando e tropeçando em raízes e galhos, sentei em um tronco caído plácido no meio daquele nada. Benny me acompanhou e retirou uma garrafa de água da mochila, oferecendo-a a mim e pegando outra para si.

– Estamos longe de casa e a Stella nunca saiu da propriedade, não pode ter vindo 'pra' cá. – constatei e bebi um longo gole d'água.

– Também acho, mas ela não deve estar longe, estamos há quilômetros da casa mais próxima, não tem como ela ter ido até lá andando também e, ainda por cima, no meio da noite.

– Talvez o Lobo tenha a encontrado. – comentei e percebi Benny respirar fundo. – Você trouxe o rádio?

– Sim.

– Me empresta? Quero tentar falar com ele.

Benny retirou o rádio comunicador da mochila, o sintonizou na frequência que nosso grupo sempre usava e o entregou a mim.

– Lobo, tá na escuta? – perguntei.

Tentei várias vezes, mas não houve resposta.

– Talvez ele esteja fora de alcance.

Concordei e entreguei o aparelho de volta a Benny, quando ele estava prestes a guarda-lo, o aparelho emitiu um chiado e uma voz retorcida tentou contato.

– É o Benny, prossiga. – ele disse, mas não houve resposta de imediato. – É o Benny que tá falando, alguém na escuta?

– Benny? – a voz masculina quis saber.

– Sou eu. – ele estranhou – Quem fala?

A voz do outro lado era diferente, não a reconheci.

– Eu só conheci um Benny em todo a minha vida e estou rezando para que ele esteja morto. – A pessoa riu friamente. – Seria muita coincidência alguém neste buraco de lugar com este mesmo apelido.

Benny engoliu seco, mas não parecia nervoso. Uma preocupação cobriu-lhe o semblante.

– Com quem estou falando? – a pessoa não respondeu e ele refez a pergunta. – Com quem estou falando? Responda.

– Acho que já nos conhecemos, não? – o estranho respondeu depois de uma longa pausa.

– Acho que não.

– Será mesmo? Você é militar, não é?

– Não. – Benny respondeu e uma veia saliente apareceu em sua têmpora esquerda.

– Hummm... certo. Você tem razão, não é mais milico, perguntei no tempo errado. Você foi militar?

Benny não respondeu e uma risada irônica pode ser ouvida do outro lado do rádio.

– Pelo seu silêncio, podemos concluir que foi. – o estranho tossiu algumas vezes e escarrou. – Era soldado? – novamente ele riu. – Não, soldado é pouco para uma voz tão garbosa dessas, talvez um tenente, ou melhor, um major? Acertei?

Diário De Um Apocalipse Zumbi - O Despertar Dos MortosOnde histórias criam vida. Descubra agora