Capítulo 16: Pregos x Pneus | Parte 7

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Capítulo 16: Pregos x Pneus | Parte 2 - momentos finais:

Um grito estridente ecoou em um dos becos próximos dali. Era evidente de quem era o dono da voz: Ricardo. Lembrei-me de como ele estava gritando na cidade de Coqueiro Real em cima de uma empilhadeira. Não tinha como confundir, era o mesmo grito apavorado.

– Vocês duas, entrem no ônibus. – Lobo Selvagem nos pediu e Ariana obedeceu. – Precisamos ir agora. – ele gritou da janela do motorista, apressando nossos ''mecânicos''.

Olhei pensativa em sua direção. Não tínhamos tempo para procurar a fonte dos gritos, mas eu não conseguiria deixar aquele mala para trás. Aquilo martelaria em minha mente até me enlouquecer.

– Não faça isso. Não vamos sair vivos daqui se formos atrás dele.

– É por isso que eu vou sozinha. – Pisquei afrontosamente para ele e corri na direção oposta de onde eles estavam.


Continuação...


– Merda. – sussurrei ao tropeçar no entulho espalhado pelo asfalto daquela cidade.

Os pelos dos meus braços estavam arrepiados pelo medo do que a escuridão escondia e pela brisa gélida que açoitava minha pele. Atritei as mãos pelos braços, o que só serviu para me deixar ainda mais nervosa. Ouvi barulho mais a frente, à esquerda, e me abaixei próxima a um carro velho e empoeirado. Nada apareceu quando olhei por cima do capô daquele veículo. Como aquela era uma rua sem saída, só havia um lugar para onde Ricardo poderia ter ido se esconder: um prédio de apartamentos no final do beco.

Respirei fundo algumas vezes, tomando coragem, e abri a porta do prédio. O pátio de entrada estava vazio. Segurando minha faca na defensiva encostei em uma das paredes. Minha respiração estava acelerada assim como meus batimentos cardíacos. Senti minha testa molhada e a sequei com a parte externa do antebraço. Usando como guia a mesma parede em que me encostei segui até o final de um corredor que conduzia a uma escada. Subi os dois primeiros lances até chegar ao primeiro andar. Batidas insistentes nas portas, nas paredes e grunhidos preenchiam o ar. Era improvável que Ricardo estivesse se escondendo ali, porque ele fugia dos ''famintos'' assim como o diabo fugia da cruz. Nos outros três andares a situação não era diferente. As batidas nas portas e os grunhidos tornaram-se mais desesperados, como se minha presença os provocasse.

Um grito estridente ecoou não muito longe. Desci as escadas às pressas. Chegando novamente no corredor, tateei a parede, conduzindo-me a saída. Passei a mão por algo molhado que escorrida dela. Dei dois passos a frente e topei em algo sólido que grunhiu feroz. Tentei ultrapassar aquela barreira, mas escorreguei na mesma substancia pegajosa que escorria da parede. Nadar naquela gosma em nada ajudou. Fiquei me debatendo inutilmente sem sair do lugar. O rugido daquele ''faminto'' se assemelhava com o de um animal prestes a atacar sua presa e deitada naquele chão eu não fazia idéia de onde ele estava vindo. A mão com a qual eu segurava a faca estava tremendo.

Não. Era. Hora. Para. Uma. Crise. De. Pânico.

Um corpo pesado caiu sobre mim, o que me deixou momentaneamente sem ar. Apavorada. O cheiro de carne decomposta ardeu em minhas narinas. Algo encharcava minhas roupas. Um bafo podre soprava meu pescoço e dentes afiados estavam prontos para mordê-lo. Tentei rolar para os lados, para me desvencilhar das investidas daquele ''faminto''. Em vão. Aquela boca nervosa estava cada vez mais próxima. Segurei fortemente o pescoço do morto-vivo, afastando-o o máximo possível. Ordenei ao meu cérebro que ordenasse a minha mão que se mexesse. Consegui fincar a minha faca embaixo de seu queixo, fazendo-a sair pelo topo de seu crânio. Com uma força descomunal empurrei o corpo podre para o lado e me sentei encostada na parede. Eu estava grudenta e com os músculos dos braços dormentes. Outro grito ecoou do lado de fora do prédio, ainda mais alto e agoniante. Levantei de prontidão e fui ao encontro à fonte do grito.

Diário De Um Apocalipse Zumbi - O Despertar Dos MortosWhere stories live. Discover now