Capítulo 23: Sherlock Holmes

1.8K 187 85
                                    


Pente Fino havia destrancado uma das salas no primeiro andar onde ficavam os equipamentos e utensílios médicos, assim como todo e qualquer medicamento que tínhamos na casa. Aquela sala havia se tornado uma enfermaria improvisada quando chegamos e Mamba Negra havia feito dela seu quarto nas primeiras semanas. Agora tudo o que se via era uma cama comum na parede oposta a uma janela, os armários de madeira todos com fechadura e a maioria fechado e caixas amontoadas em um canto. Por mais que o cômodo fosse grande, a quantidade de gente presente nele estava me deixando claustrofóbica. Marlene havia acabado de jogar no lixo a camiseta ensanguentada que ela havia cortado e tirado do corpo de Benny. Suas mãos eram ágeis, o que me fez pensar que era assim que ela e minha mãe faziam no hospital onde as duas trabalhavam juntas.

Águia e Tonho colocaram Benny sentado por um momento para que ela auscultasse as vias respiratórias e procurasse por lesões em suas costas. Seu ombro esquerdo estava levemente inchado. Não havia marcas de dentes em seu abdômen. Aparentemente. Ele gemeu quando o colocaram deitado de volta na cama.

Todos faziam alguma coisa: uns estavam em cima de Benny ajudando Marlene a movê-lo, Pente Fino lia rapidamente rótulos de frascos de vidros já com uma seringa preparada para medicá-lo assim que achasse a medicação correta, Íris estava com seus olhos azuis tão abertos que eu achei que pudessem saltar das órbitas a qualquer momento. Ela fazia o papel da namorada preocupada na cabeceira da cama, segurando a mão dele.

Pente Fino achou o que precisava e enfiou a agulha dentro do frasco e aspirou o líquido transparente. Deu dois petelecos nela, para retirar o ar de dentro da seringa e espetou no braço de Benny. Ela olhou para mim e para Stella que estava parada, em choque, em um canto do quarto observando tudo. Ninguém havia notado ela ali. Muito menos eu, a mãe dela.

- Quer ajudar? - Pente Fino perguntou para mim, pegando outro frasco de líquido transparente de um dos bolsos de sua calça de moleton.

Eu confirmei com a cabeça. Ávida para ajudar no que fosse preciso.

- Tire a garota daqui. Agora.

A decepção preencheu meu cenho, mas alguém precisava tirar Stella dali e ninguém melhor do que eu para fazer aquilo. Caminhei em direção da menina e me abaixei, ficando de joelhos, na frente dela.

- Eu sabia que o meu pai tinha sido mordido. - uma lágrima grossa e pesada rolou pelo seu rosto, pingando em seu peito.

- Ele não foi mordido. - eu não tinha tanta certeza daquilo, mas precisava ser otimista. - O Benny apenas se machucou, mas ele vai ficar bem.

- Você é uma mentirosa. O meu pai vai morrer.

Nesse instante, Benny acordou meio grogue e com os braços estendidos na frente do corpo tentou nos alcançar, mas foi contido pelos que estavam em cima dele, deitando-o novamente na cama. Ele tinha a aparência de um ''faminto'', sua roupas eram farrapos e seu corpo estava coberto de sangue. Stella deu um grito apavorante e saiu correndo pela porta. Todos olharam em sua direção, mas não por muito tempo, pois Benny precisava de cuidados imediatos. Levantei e, frustrada, passei as mãos pelo rosto.

- Ei. - Pente Fino chamou novamente, fazendo-me virar em sua direção. - Traga água quente e toalhas. Por favor.

Dei mais uma olhada em Benny, que estava com o rosto virado na direção oposta a minha, e saí da enfermaria. Cheguei na cozinha em poucos passos, talvez eu tenha corrido, não me lembro. Só o que me lembro é de estar sufocada, totalmente sem ar. Apoiei as mãos nos joelhos e forcei os pulmões a trabalharem. Minha cabeça doía, parecia que ia explodir. Com toda a força vontade, me levantei, peguei uma chaleira e a enchi com água, colocando-a sobre o fogão aceso. Fui até a lavanderia e peguei quatro toalhas felpudas no armário onde ficavam as roupas de cama, mesa e banho excedentes. Joguei as toalhas de qualquer jeito em cima de um dos balcões, abri a porta lateral da cozinha, me debrucei sobre uma lixeira e vomitei. Aquilo me deu certo alívio. Me recompus rapidamente.

Diário De Um Apocalipse Zumbi - O Despertar Dos MortosWhere stories live. Discover now