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• Zl🤧•

Um bagulho que eu não queria nem lembrar hoje, pela primeira vez depois de anos eu estava passando um natal suave. Sem sentir a porra do peso na consciência.

Mas a Nicolly com o jeito todo estabanado dela, estragou tudo, mesmo sem saber de nada.

Porra isso fudia a minha mente da pior forma. Eu sei que eu não tenho culpa, mas se eu tivesse deixado a porra do tráfico de lado, nada tinha acontecido.

Zl: Eu nunca quis ser pai... - Falei vendo ela me olhar atenta, já até sabia que ela estava se mordendo de curiosidade. - Mas uma mina que na época nós tinha um lance, engravidou, num descuido nosso. Quis que ela tirasse, meu maior medo era de ter um filho meu no mundo e não ser uma pai daora, mas ela não tirou. Levou a gravidez a diante, eu nunca nem quis saber do menó, a primeira vez que eu tive contato com ele, se pá ele tinha uns três meses, menó era uma cópia minha, fiquei doido, me arrependi de cada coisa que eu falei... - Parei de falar só pensando.

Nicolly: Olha se tu não quiser falar eu juro que não precisa, é um assunto seu. - Eu me sentia suave em falar com ela tá ligado. As vezes a gente só precisa de alguém que nos escute, sem julgar.

Zl: Eu nunca tive nada sério com a mãe dele. Só que ela sempre insistiu em nós dois, tanto que quando eu surtei com ela, ela tentou fugir com ele, que tinha oito meses na época. Ela nem conseguiu pô, fiquei que nem louco atrás dela e quando eu achei a filha da puta ficou fodida na minha mão. Peguei o Henrique pra criar, e nessa a mãe dele foi embora. E mesmo não tendo muito jeito e não sabendo organizar ele na minha vida, eu peguei ele pra criar. Eu não era o melhor pai não, eu sei, mas eu fazia de tudo pra ser, qualquer momento com ele era foda, eu podia tá cansado pra caralho que eu tinha todo o tempo do mundo pra ele. Pô... - Falei já sentindo a porra da lágrima rolar pelo meu rosto.

Eu nunca fui de chorar, e quando eu falo que não sou de chorar por nada, é por nada mesmo, já aconteceu tanto bagulho na minha vida e eu agi como se fosse a coisa mais normal do mundo, mas esse assunto nunca me deixava suave. Nicolly já estava com o rosto todo molhado, sei nem porque ela estava chorando, papo reto.

Zl: Três anos depois a desgraçada da mãe dele voltou... tentou se aproximar, disse que tava mudada, que sentia a falta dele, mas eu nunca deixei, porque eu já sentia maldade nas ações dela. Mas na porra de um dia, eu tive que ir pra uma missão, em outro estado, eu tava com uma sensação ruinzona. Nunca nem fui de sentir essas parada, não queria nem ir, mas como o Diego tava preso e quem tomava conta disso aqui era eu, eu fui obrigado a ir, até porque pros lucros da favela voltar a subir eu tinha que ir nessa missão! Pô, sem dúvidas nenhuma, se fosse hoje eu pouco tava me fodendo pra favela, podia dar o b.o que fosse, eu não ia!

Zl: Ela pegou ele na escola, levou pra casa dela e me mandou um vídeo, no vídeo ela pedia pra ele se despedir de mim, pedia pra ele me avisar que se eu não fosse ficar com a mãe dele, eu não ia ter ele na minha vida. Pô, ele chorava me chamando... enquanto ela pedia pra ele ficar quieto. Eu voltei na mesma hora, só que não deu tempo, quando eu cheguei ela estava sentada do lado do corpo dele, olhando como se não estivesse feito nada... ele tava todo machucado, cheio de sangue, e quando eu peguei ele no colo eu já sabia que ele não estava mais ali. Ela destruiu a minha vida só porque eu não queria mais nada com ela, ela matou o meu filho...

Ele só tinha três anos. E foi a única pessoa que conseguiu de mim o meu sentimento mais sincero, meu menó tinha me deixado pô...

Nicolly: Você sabe que a culpa não é sua né?! - Limpou o rosto que já estava todo vermelho. - Tu tá todo esse tempo se culpando de uma coisa que não é sua.

Zl: Se eu tivesse pensando no meu filho antes de favela e essas porra toda, ele tava aqui comigo pô. Eu tenho sim um pouco de culpa nisso tudo.

Nicolly: Faz quantos anos tudo isso?

Zl: Daqui uns meses faz quatro anos.

Nicolly: Me desculpa por te lembrando disso tudo de novo.

Zl: Natal sempre foi foda, sempre lembrava dos rolê que eu fazia com ele, da vez que ele me fez virar o ano novo num parque de diversões, enquanto eu queria ir pro baile..., Esse foi o primeiro que eu consegui curti sem ficar me culpando. As lembranças dele sempre vinha na mente. Tu conseguiu me fazer esquece por pelo menos umas horas pô.

Ela deu um sorriso bem franco, toda sem jeito. Passei a mão no rosto dela limpando as lágrimas. Maluca chorou que nem criança chegou até soluçar...

Zl: A culpa não é tua não pô. Fica de boa. Mas vamo entrar o dia já amanheceu e nós tá aqui até agora. - Levantei estendendo a mão pra ela e ela segurou no meu braço.

Nicolly: Eu sei que você não gosta mas deixa eu te dar só um abraço. - Falou toda sem jeito, e namoral, não gosto muito não, depois de tudo isso aí eu me fechei mais ainda e nunca mais fui de ficar de abraços com ninguém. Mas a Nicolly consegue me fazer, fazer umas paradas que eu não faço com ninguém. Puxei ela pelo braço e ela me deu um abraço apertado, onde o cheiro do perfume dela se exalou todo, doce pra caralho.

Nicolly: Se você quiser que eu vá, eu peço um carro de aplicativo. Tá suave, por mim.

Zl: Te trouxe pra dormir aqui não foi? Se aquieta aí. Se quiser dormir comigo lá tá suave mas se quiser dormir sozinha também tem mais quarto aí. - Ela só assentiu com a cabeça e foi entrando junto comigo.

Crime PerfeitoOnde histórias criam vida. Descubra agora