1 | uma deusa, literalmente

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Uma deusa

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Uma deusa.

Era isso que eu era, literalmente. Mesmo com as estrias na parte traseira do quadril e numa parte da minha bunda, mesmo com as leves olheiras naturais, os seios nem tão firmes quanto foram no início da adolescência, eu era linda.

E foi com um sorriso convencido que encarei o meu reflexo, completamente nua. Tinha ido ao salão há dias para renovar a tinta do cabelo e hidratá-lo, pois não sabia fazê-lo sozinha. Naquela tarde, havia combinando de sair com algumas amigas e, como sempre, acordei quando esse período iniciava.

Era o que eu fazia todos os fins-de-semana.

Tinha uma certa dificuldade para dormir há alguns anos, geralmente adormecia durante a madrugada quando faltavam poucas horas para que eu tivesse de acordar e ir à universidade, o que me rendia belas dores de cabeça e estresse. Mas não havia o que fazer e, na verdade, eu só ia por obrigação. Se pudesse não estudava.

Atirei alguns sais na banheira e a essência de aroma mais suave que tinha numa das prateleiras, e deixei-me deslizar para dentro dela deixando um suspiro pesado escapar. A água estava agradavelmente morna, fazendo-me relaxar de forma instantânea.

A minha rotina era simples: eu somente tinha de "estudar", tirar boas notas e não arranjar problemas grandes demais. Não era como se fosse deixar a minha mãe decepcionada, afinal, ela sequer prestava atenção ao que eu fazia. Pelo que ela me contou, o meu suposto pai abandonou-a quando soube da gravidez, portanto, nunca o conheci.

Também não conhecia a minha mãe.

O único lado dela do qual eu me lembro desde que me entendo por gente é o de uma mulher rigorosa que passa horas enfiada no escritório, seja em casa quanto na empresa onde trabalha. E o único lado positivo era o dinheiro que ela dava, os presentes que comprava e a comodidade que me foi fornecida desde sempre. Ela também não sabia nada sobre mim, a não ser que tivesse criado alguma imagem minha com base no pouco que tinha visto até então. Desde nova, passei dias com empregadas diferentes, e durante a noite ela sequer tirava um tempo para ver o que aprendi na escola, como foi o meu dia, ou se me feri enquanto brincava com os meus amigos. Todas essas funções eram dadas a pessoas que sequer eram permanentes na minha vida.

Talvez fosse disso que vinha a minha dificuldade em manter vínculos afectivos.

De qualquer forma, eu não a culpava. Afinal, ela tinha se refugiado no trabalho muito provavelmente por causa da sua decepção amorosa. Cuidar de mim sozinha não deve ter sido uma tarefa fácil.

Com a toalha enrolada no corpo, dei alguns passos até poder voltar ao meu quarto, pensando no que vestir. Não estava tão empolgada para sair, mas talvez acontecesse algo de interessante, não havia como saber sem ir. Algumas batidas na porta soaram pelo compartimento antes que Giulia – ou Gi – espreitasse pela fresta, a minha procura.

— Boa tarde, menina Costello.

— Boa tarde. — murmurei, concentrada em vasculhar os cabides e gavetas em busca de algo que prestasse para aquela ocasião.

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