49 | porcelanato manchado

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Eu vasculhei cada gaveta, abri todas as portas que vi, e até ergui alguns dos objectos que enfeitavam aquele cómodo

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Eu vasculhei cada gaveta, abri todas as portas que vi, e até ergui alguns dos objectos que enfeitavam aquele cómodo. Não encontrei absolutamente nada que ainda não soubesse.

Era óbvio que a Noelle não seria burra a ponto de deixar documentos ou provas que fossem ou pudessem condená-la ali, em um lugar tão previsível. Todo o mundo sabia que, em um escritório, era possível saber a respeito de mais de metade da vida de uma pessoa, principalmente caso o mesmo se localizasse em uma casa.

A única coisa que me deixou para lá de surpreso foi uma foto, na qual tanto o Donovan quanto a Noelle sorriam genuinamente. Nela, o rosto do primeiro estava manchado de tinta, que poderia ser de um marcador ou de uma caneta; no entanto, a mancha espalhada pela área me fez pensar que o que a ocasionara fora um momento no qual a Noelle havia tido uma espécie de acesso de raiva, mas depois se arrependera de ter pintado o rosto do pai da sua filha. Por trás, um outro borrão cobria uma provável frase.

A foto estava escondida entre alguns documentos a respeito do nascimento da Ayla, em uma pasta de arquivos separada das outras. Nada suspeito ou estranho foi visto ou encontrado, portanto, após deixar registrado aquele "evento" na galeria do meu celular para tranquilizar o Andrei e fazer com que me deixasse em paz por um momento, eu me certifiquei de deixar tudo no devido lugar antes e abandonar o cómodo e voltar a fechar a porta silenciosamente.

Tal momento foi interrompido por um tilintar vindo do outro lado do apartamento luxuoso, o que me deixou para lá de paranóico. Caso a Ayla tivesse saído do quarto e procurado por mim, eu não saberia o que responder. A porta da casa-de-banho comum estava aberta, não havia ninguém na sacada e nem nas salas e ou na cozinha, caso ela tivesse andado a minha procura. Eu poderia muito bem mentir e dizer que me perdi à procura de um cómodo, mas isso não faria muito sentido; estive ali demasiadas vezes para que isso acontecesse.

Suspirando de irritação devido à dor na perna, caminhei cuidadosamente em direção ao hall e parei ao ver uma figura alta, toda vestida de preto, pousando um dos vasos transparentes que adornavam a sala-de-estar. Era impossível visualizar o rosto graças à máscara de ski que o cobria; o cuidado máximo para ser silencioso me deixou saber que, nem de longe, se tratava de alguém que deveria estar ali.

Como se tivesse pressentido a minha presença, a figura virou-se de imediato e literalmente paralisou ao me ver. Apenas os olhos estavam à vista, os quais ele estreitou ao dar passos calculados na minha direção. Em uma posição completamente desfavorável, eu não estava sequer próximo de algo com o que pudesse me defender sem provocar barulho ou despedaçar tal objecto.

A respiração ligeiramente ruidosa do outro contra a máscara se fez ouvir, antes que ele soltasse um riso nasalado e baixo, como quem zomba de algo.

— E cá tinhas de estar tu para dificultar o meu trabalho... — sussurrou, estalando a língua no céu da boca enquanto se aproximava lentamente — Não me disseram que estavas aqui também.

IDRISWhere stories live. Discover now