6 | filhinho de papai

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Sob o meu olhar apreensivo, Evelyn tomava pequenos goles do chocolate quente em silêncio

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Sob o meu olhar apreensivo, Evelyn tomava pequenos goles do chocolate quente em silêncio. Estávamos em algum estabelecimento próximo ao 2Play, do qual sequer me lembrava o nome. Sinceramente, nunca imaginei que fosse vê-la naquelas condições. Naquele lugar, e naquelas circunstâncias. Podíamos até ter nos visto há anos, porém, a pequena Eve que eu conhecia certamente não se submeteria a isso.

Evelyn tinha os cabelos castanhos, extremamente escuros. E a cor, agora, somente se fazia presente na raiz do cabelo e um pouco mais abaixo. Depois disso, era só loiro; vestia skinny jeans e um blusão rosa. Quem a visse na rua sequer imaginaria o que fazia naquela barra de pole. Os minutos seguintes foram confusos. Ela sumiu pela multidão, levou cerca de dez minutos para reaparecer e pediu que eu a acompanhasse.

— Estás confortável para conversar? — foi o que consegui perguntar. Evelyn ergueu o olhar e suspirou pousando a xícara na pequena mesa entre nós.

— Penso que sim.

— O que... — fiz uma pausa, procurando as palavras apropriadas — O que aconteceu? Por quê tu estavas lá, a fazer aquelas coisas?

— Eu estava a trabalhar. — disse como se fosse óbvio.

— Mas por quê ali?

Ela riu. De forma irónica, e revirou os olhos.

— Tu sabes que nem todos nascem num berço de ouro, né?

— Eu sei, mas... Foi inesperado.

— Eu sei. — assentiu com a sombra de um sorriso entre os lábios rosados — Não esperavas que fosse tudo continuar do mesmo jeito depois de... — estalou a língua encarando o teto e depois a mim com os olhos semicerrados — Nove anos? Dez?

— Onze. — corrigi. O sorriso debochado voltou e eu só consegui me sentir culpado — Eu não queria ir embora do nada, eu só-

— Depois de algum tempo, quando tu paraste de ir à comunidade para fazer caridade aos desfavorecidos com a tua mãe — ela me interrompeu, olhando para o meu rosto de um jeito que me deixou desconfortável —, eu fiquei preocupada. Achei que tivesse acontecido alguma coisa, e tu eras o único amigo que eu tinha. O tempo que passavas lá era o único que eu tinha para brincar, porque quem cuidava da minha mãe era eu. Ela somente conversava com algumas pessoas, e uma delas era a tua mãe. Fiquei a tua espera no mesmo lugar de sempre por sei lá quantos sábados, ansiando que em algum deles tu atravessasses aquela porta e brincasses comigo de novo, mas isso nunca aconteceu. — humedeceu os lábios e passou uma das mechas soltas para trás da orelha — As coisas foram se estabilizando depois de algum tempo, até que ela engravidou anos depois. O meu pai era o único que trabalhava, e eles não estavam bem há uns meses. A minha mãe teve recaídas e drogou-se algumas vezes durante a gestação, mas felizmente não aconteceu nada com o bebê. Cerca de seis meses depois do parto, o meu pai foi-se embora. Evaporou, literalmente. E a minha mãe passou a drogar-se ainda mais. Eu tinha quinze anos nessa época. Nós passamos fome e muitas outras coisas porque ela não conseguia controlar-se e gastava o pouco dinheiro que tinha alimentando os seus vícios. E depois ela teve uma overdose e morreu.

IDRISWhere stories live. Discover now