36 | momento mais errado, impossível

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Com a feição e olhar neutros, observei a mesa onde eram realizadas apostas de jogos em troca de dinheiro, entre risos carregados de ânimo e alguma embriaguez

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Com a feição e olhar neutros, observei a mesa onde eram realizadas apostas de jogos em troca de dinheiro, entre risos carregados de ânimo e alguma embriaguez. O aroma a charuto importado, álcool e perfumes diversos consumia, quase em particular, aquela área barulhenta. Homens formalmente vestidos seguravam cartas, alguns rodeados das mais belas mulheres, enquanto eu engolia o último gole de água no copo à medida que me lembrava do que havia ocorrido horas atrás, para lá de transtornado.

Encarar o Donovan foi como olhar para a minha própria morte.

Ele estava tão inexpressivo quanto eu, relaxado e calmo de um jeito tão natural que senti inveja. Eu, por outro lado, praticamente tive de afundar o nariz em cocaína para parecer tão tranquilo quanto ele.

Me lembrava de ter sustentado o olhar, resignado. Não tinha para onde correr. Ele me queria morto, e pensar na possibilidade de algum dia abrir os olhos em um lugar que não fosse o meu quarto me enchia de arrepios desagradáveis. Não havia como desfazer toda a merda que eu tinha feito; matei três dos seus homens, e agora ele queria a minha cabeça.

Ele não foi atrás de mim após eu ter dado a minha curta estadia no salão de festas por encerrada. Segundo o Trent, capturar-me ali seria algo previsível demais, e o Donovan provavelmente o faria quando eu menos esperasse. Saber disso obviamente não me deixou nem um bocado tranquilo, porque era claro que eu não teria mais nenhum minuto de sossego, com noção de poder estar a ser observado a qualquer momento, por qualquer pessoa.

Fechei os olhos por um momento, estendendo um dos braços no encosto do sofá confortável. Havia me livrado do paletó e arregaçado as mangas da camisa, assim como me livrara da gravata e abrira alguns dos botões, deixando parte do peito à vista. A madrugada era fresca e o farfalhar violento das folhas das árvores se fazia escutar por dentro do salão que compunha a residência onde eu vivia, ocupado por parte de quem o Marco chamava "amigos". Os gritos animados apenas tornavam a dor de cabeça pior, mas eu me sentia tão cansado que ainda não me via capaz de levantar e caminhar por minutos que pareceriam séculos apenas para passar várias horas olhando para o teto sem graça.

— Soube que te aliaste ao Andrei Bianco... — o homem que tornava o meu tormento cada vez maior murmurou, sentando-se ao meu lado. Com dois dos seus homens no meu pé todo o santo dia, não foi surpreendente descobrir que ele já sabia da mais recente novidade — Gosto de ver que finalmente te empenhas para aprender a tomar o que é teu.

Não respondi, desejando que o copo de água estivesse cheio novamente apenas para que pudesse ocupar a boca com algo. Ele sabia, melhor do que ninguém, que nunca quis fazer parte daquilo.

— Ele é competente, pelo que soube. Acredito que vá ajudar bastante, mas não te tirará o mérito.

— O que queres? — interrompi-o, cansado. Escutar a sua voz fazia as coisas piores. Ele simplesmente possuía o dom de sugar a minha energia como a porra de um parasita.

IDRISWhere stories live. Discover now