57 | o final do abismo

285 36 65
                                    

Uma sombra de receio escorregou rapidamente pelas íris escuras do Lucius, enquanto eu o observava fechar a porta do escritório; a presença opressora e o corpo enrijecido de raiva, a vontade de descarregar a frustração fisicamente pulsando entre o ...

Oops! This image does not follow our content guidelines. To continue publishing, please remove it or upload a different image.

Uma sombra de receio escorregou rapidamente pelas íris escuras do Lucius, enquanto eu o observava fechar a porta do escritório; a presença opressora e o corpo enrijecido de raiva, a vontade de descarregar a frustração fisicamente pulsando entre o meu âmago, de forma intensa e quase incontrolável...

Eu não sabia há quanto tempo não dava nem um soco a alguém.

Faziam apenas três dias desde que uma vistoria havia sido feita na casa próxima à praia; nenhum instrumento destinado a espionagem havia sido encontrado, e seria com base nas respostas do Lucius que eu decidiria se contrataria uma nova equipe de funcionários ou permaneceria com a mesma.

O piscar duplo e involuntário foi o único lampejo de emoção e reação que atrapalhou a inexpressividade do homem. Tinha o tamanho de um armário, literalmente mas, ainda assim, me temia. Ele havia testemunhado algumas das poucas atrocidades que havia cometido, eu tinha uma ficha com todas as informações a respeito de tudo que mais o importava no mundo, e ele seria caçado até o inferno se ousasse fazer algo contra mim.

A não ser que fosse a mando do meu pai.

Marco O'Connell conquistou a "lealdade" de muitos dos seus homens com base em ameaças; eles o temiam também, mas o odiavam, e eu via isso nos seus olhos. Nos narizes torcidos com sutileza, os lábios levemente encurvados em nojo e as sobrancelhas franzidas de forma quase imperceptível quando eles não concordavam com algo. Aquelas semanas dentro de casa mas, ainda assim, pouco afastado dos negócios que depois cairiam nas minhas mãos novamente, serviram para abrir os meus olhos e me fazer perceber muita coisa.

Eu não usaria os mesmos métodos que os dele.

— Sente-se. — mandei em um tom baixo, quase gutural, empurrando a pilha de documentos para o meu lado direito. — Creio que já saiba por qual motivo foi chamado.

— Tenho ideia, senhor.

— Não é segredo, para mim, que vocês comentam sobre tudo quando não têm tarefas por realizar... — disse num suspiro, baixando a mão e o olhar para localizar e alcançar uma das gavetas, de onde tirei uma pasta de arquivos e a coloquei sobre a secretária limpa e envernizada. Abri-a e folheei por um momento, parando nas duas páginas - uma ao lado da outra - onde os nomes, fotografias e dados dos dois homens desaparecidos se encontravam em destaque. — Estes rostos não são estranhos para ti, Lucius.

Foi uma afirmação, então ele não se mexeu para negar e nem confirmar. Apenas fixou o olhar nas folhas.

— Estes dois são os únicos que, dos quatro que ordenei que colocasses de olho na Ayla, sobreviveram. Todavia, eles estão desaparecidos há mais de um mês, desde que aquele homem que matei no apartamento deu as caras... — comecei, vendo-o retesar a mandíbula e engolir a seco — Observando melhor os dados de todos eles, incluindo os que foram mortos na noite em que o apartamento foi invadido pela primeira vez, torna-se claro que existe um padrão: problemas financeiros e pelo menos um aspecto em específico que exija grandes gastos. Eu não acho que isso seja coincidência, e ficaria bastante agradecido se, da tua boca, apenas escutasse verdades a partir deste momento.

IDRISWhere stories live. Discover now