54 | valer a pena

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O vento gelado e agressivo da manhã chuvosa fez com que eu semicerasse os olhos ao observar a rua quase deserta

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O vento gelado e agressivo da manhã chuvosa fez com que eu semicerasse os olhos ao observar a rua quase deserta. Esfregando as mãos uma na outra na tentativa de aquecê-las, mesmo cobertas pelas luvas, levei-as em concha aos lábios ressecados para soltar uma lufada de ar quente.

O barulho comum de algum líquido sendo engolido logo se fez ouvir em meio ao quase silêncio no carro quando Oskar sorveu um gole da bebida que antes enchia o seu cantil, o que me levou a encará-lo.

— O que foi? — ergueu as sobrancelhas, zombando de mim com o olhar — Cada um se aquece do jeito que pode.

— Não me vou supreender se virares alcóolatra.

— Diz o aspirador de cocaína. — ele caçoou.

— Ele cheira pó? — Boris indagou no banco de trás do Audi R8 — Não era suposto que o fizesse, se também trafica.

— É uma longa história... — boquejei após fungar com suavidade — Algum dia eu conto.

— Basicamente, ele começou a cheirar antes mesmo de saber que algum dia venderia.

— Tu e a tua boca grande...

— Não reclames. Sabes bem que depois não dirias nada a ele.

— Não sou obrigado.

— De facto, mas eu já contei. Foda-se.

Respirando fundo de forma silenciosa, esfreguei o nariz irritado. O sol ainda se encontrava escondido entre as nuvens, e o dia quase que sequer havia clareado. Eram quatro horas e cinquenta e cinco minutos, ou seja, faltavam apenas mais cinco para que tivéssemos de fazer o carregamento da cocaína. Os responsáveis por isso encontravam-se em outro canto, e nós apenas conversaríamos com os fornecedores.

— Eu estou a tentar parar de cheirar... Já vi viciados o suficiente para saber que devo parar antes que chegue ao nível deles.

— Diz quem cheirou quase dezenas de carreiras em dois dias por causa de uma mulher.

— Vai te foder, Oskar. — resmunguei ao ajeitar-me no assento. O farfalhar do tecido do casaco bomber cinza camuflou-se entre a risada do russo, que virou o rosto ao ver faróis acesos e apontados na direção da lateral do carro preto.

— Eles chegaram. — Boris pronunciou-se, pouco antes de espalmar a bochecha do irmão mais novo algumas vezes para acordá-lo — Vamos.

Assim que as portas foram abertas, um gemido quase inaudível de puro desconforto escapou por entre os meus lábios. O vento agressivo assobiava algumas vezes, cuspindo brisas geladas que me faziam estremecer com intensidade.

— O que o teu pai tinha na cabeça para mandar-nos receber a carga às cinco da manhã... — Oskar murmurou, pouco antes que parássemos próximo o suficiente dos demais. Me surpreendi um bocado ao ver o Donovan sair do Rolls Royce casualmente, tão bem agasalhado quanto todos nós.

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