56 | origens e tratos

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Aquela foi uma das minhas melhores noites de sono em muito tempo, talvez por estar ciente que permanecia próximo da Ayla

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Aquela foi uma das minhas melhores noites de sono em muito tempo, talvez por estar ciente que permanecia próximo da Ayla.

Isso fazia de mim um filho da puta? Sim.

Se eu me importava? Não.

O importante era que ela não havia me enxotado para fora do apartamento a meio da noite, como imaginei que faria. Eu havia adormecido no mesmo sofá em que passamos minutos breves demais juntos, e não havia sequer vestido a camisa de novo antes de ser engolido pelo cansaço. A primeira coisa que senti ao perceber que o sol já havia nascido foi uma palmada na ponta do pé esquerdo, esticado sobre o móvel confortável e macio.

Depois, outro mais forte, o que me fez murmurar algo incoerente e me forçou a abrir os olhos. Apertando o roupão felpudo contra o corpo com mais força do que o necessário e com uma toalha cor-de-rosa na cabeça envolvendo os cabelos cacheados, Ayla franzia o cenho e tinha um expressão nem um pouco amigável nos traços abonecados. Esfreguei os olhos com delicadeza usando os dedos da mão direita e ergui o torso, antes de depositar o peso sobre as mãos apoiadas às minhas costas.

— Bom dia, princesa.

Ela passou alguns segundos em silêncio e endireitou o corpo ao dar alguns passos para trás, ainda sem sorrir, antes de murmurar:

— O que ainda estás a fazer aqui?

— Nós precisamos conversar.

— Eu não tenho nada a dizer e não te quero ouvir. Peço, encarecidamente, que saias da minha casa.

— Eu não vou sair.

— Eu vou chamar a polícia.

Dando as costas, ela caminhou em direção ao aparador em um canto da sala, o que me fez erguer as sobrancelhas.

— Isso faz sentido, para ti? — indaguei ao vê-la tomar o telefone em mãos — Digo, o que vais relatar à polícia?

— Tu invadiste a minha casa, Idris, o que achas que vou relatar?

— Pensas que vai acontecer algo comigo? — indaguei num tom risonho, o que a fez piscar repetida e desconfortavelmente. Provavelmente lembrara-se que nenhuma notícia sobre o recente assassinato envolveu o meu nome, o que era muito pior do que uma invasão na qual nada havia sido roubado e ninguém havia se magoado.

— Eu não ligo.

— Eu estou com a cara inchada de sono, e tu com marcas avermelhadas no pescoço e no colo. Provavelmente esteja, ainda, cheio de arranhões que tu mesma fizeste nas costas, nuca e talvez parte dos braços. Achas mesmo que eles vão acreditar nisso?

Diante da ironia presente na minha fala, ela literalmente lançou o telefone no mesmo lugar de antes e esfregou as mãos no rosto, frustrada.

— Não te vou deixar em paz até que converses comigo. Além disso, não importa quem chames. Eu seria capaz de fazer um escândalo para que todos saibam que era contigo que eu estava. — finalmente levantei, espreguiçando-me logo depois — Faria questão de exibir o estrago que as tuas unhas fizeram em mim.

IDRISWhere stories live. Discover now