37 | sobre deixar ir

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O apartamento da Georgina era um pouco menor do que eu imaginava, mas muito aconchegante

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O apartamento da Georgina era um pouco menor do que eu imaginava, mas muito aconchegante. Decorado em tons claros e suaves, estava localizado em uma área bastante calma, e a vista para o parque no centro da cidade era simplesmente deslumbrante.

Com os cabelos loiros presos sem muita técnica ou ordem e vestindo nada mais do que uma camiseta rosa e longa sem estampa alguma, a moça de olhos azuis encarava qualquer coisa, com excepção a mim. Ela parecia estar desolada, e eu entendia e sabia bem por quê.

Depois de muita insistência, deixou que eu finalmente fosse vê-la, num local à sua escolha. Por quase nunca falar sobre a própria vida, a vergonha de ser vista por muita gente depois do escândalo da noite anterior deveria ser o único motivo pelo qual a Georgina deixou que eu soubesse onde vivia e fosse ter com ela. Eu não conseguiria passar o resto do fim-de-semana fingindo que nada havia acontecido, tampouco agir como se ela nunca se tivesse preocupado comigo. Talvez não pudesse fazer e nem dizer muita coisa, mas seria no mínimo desumano não prestar apoio e nem oferecer o ombro para que ela se apoiasse – caso quisesse –. Era notório também o meu desconforto; quase nunca me oferecia ou era procurada por alguém que precisasse desabafar. Sempre passei a imagem de alguém que pouco se importa com os outros, tanto que até dar e receber abraços sempre pareceu algo meio alienado para mim.

— Obrigada por... — encolheu os ombros, ficando em silêncio por poucos segundos — Por vires, acho eu...

— Não foi nada... — murmurei, tão sem graça quanto ela. Nunca havíamos tido conversas tão delicadas, e eu não sabia o que dizer; sentia como se estivesse a caminhar sobre ovos – qualquer movimento em falso poderia ocasionar algo desagradável, ou piorar a situação.

O silêncio que veio logo a seguir tornou a tensão ainda mais palpável. Era possível escutar o cantarolar distante dos pássaros no parque há metros do prédio, o farfalhar das folhas nas árvores, o ruído de motores e buzinas, e até certas conversas e gritos que surgiam lá de baixo ou dos apartamentos próximos. Comprimindo os lábios, esfreguei um dos joelhos sobre o tecido do vestido longo e fino de algodão, tentando relaxar contra o sofá na sacada com cobertura.

— Ninguém sequer ligou para saber se eu estava bem. — comentou num fio de voz de forma repentina, atraindo a minha atenção — Então teres vindo até aqui foi inesperado. Obrigada, de verdade...

— Não precisas agradecer, Jojo... — sibilei, fixando o olhar no seu rosto avermelhado — Somos... Somos amigas, não?

Ela soprou uma risada trêmula, quase inaudível, e deu de ombros.

— Acho que sim.

Soltei um pigarro baixo e suave, semicerrando os olhos quando a brisa quente da tarde soprou com um pouco mais de violência, agitando os vasos bonitos e repletos de flores que ela tinha suspensos na varanda. A fragrância suave espalhou-se ainda mais pelo espaço, deixando-me um pouco menos tensa.

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