39 | a cor mais quente

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A semana posterior à festa para a qual fui com o Hendrix foi um total desastre

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A semana posterior à festa para a qual fui com o Hendrix foi um total desastre.

A minha mãe praticamente me sufocou com um monte de regras, nas quais basicamente mandava que eu quase não saísse de casa. Não vi tais proibições como um gesto de preocupação, porque era tudo demasiado estranho. Ela nunca havia ligado para o facto de eu sair, e não ligaria nem se eu passasse um fim-de-semana inteiro fora. Mesmo não tendo perguntado, apenas assumi que provavelmente um dos casos tivesse corrido mal e, como advogada, ela tivesse decidido se precaver.

Na universidade, a Kira quase desmaiou cerca de sete vezes em dias diferentes, além de estar com o corpo um pouco inchado. Era estranho porque ela sempre apresentou total controle sobre o seu peso e massa corporal; um só quilo a mais ou a menos costumava ser o suficiente para fazê-la ter uma espécie de surto.

Georgina não fez questão de aparecer durante a semana toda por causa do escândalo. Os comentários ferviam pelos corredores da R.U, e alguns chegavam até a envolver o meu nome, uma vez que certas pessoas assumiam que tudo o que eu tinha era oferecido por velhos ricos. Ignorei a existência do Idris e não fui atrás do Hendrix, depois de muito pensar. Tive medo do que mais o loiro poderia dizer; nunca mostrei ser uma pessoa vulnerável ou carente de atenção e afecto - ou não me lembrava de alguma vez tê-lo feito - e, mesmo assim, ele pôde perceber. Não queria mais saber o que ele via em mim, e nem qual imagem tinha da minha pessoa.

Suspirando, passei água corrente no rosto para me livrar do que restou da máscara facial e limpei-o, caminhando até o quarto para hidratar a pele. Estava sozinha em casa, era sábado, e eu apenas me apercebi de que havia dado cabo do sorvete todo minutos antes de decidir ficar enfiada sob a coberta a ver algum filme. Precisava ir ao supermercado mais próximo antes que fosse tarde demais.

Podia simplesmente desistir e comer qualquer outra coisa, ou mandar que alguém o levasse até mim, mas não estive tão livre e disposta a semana toda. Eu queria sair e caminhar para espairecer, e precisava do sorvete. Era quase um ritual de fim-de-semana ter uma tigela ou uma grande taça só para mim enquanto me acabava em filmes ou séries, independentemente do clima do dia ou da noite.

Com um suspiro ainda mais pesado do que o anterior, troquei o pijama de seda por leggings pretas e curtas, e uma camisola sem zíper da mesma cor. Coloquei as meias, calcei o básico par de Air Force 1 branco e prendi os cabelos antes de enfiar a carteira no bolso, junto do celular. Nos AirPods, a voz do Post Malone em One Right Now soava num volume não muito baixo enquanto eu trancava a porta do apartamento e depois enfiava as chaves no mesmo bolso da camisola, onde estava o resto dos meus pertences. Dirigi-me ao elevador e murmurei um "boa noite" para as três pessoas que encontrei dentro da caixa metálica, torcendo que a noite não estivesse tão fria quanto passei a imaginar.

— E lá vamos nós... — sibilei para mim mesma entre um suspiro, observando a rua iluminada e o fluxo incessante de pessoas.

Uma rajada ligeiramente forte e morna de vento lambeu-me o rosto assim que coloquei os pés na calçada, o que me levou a semicerrar os olhos. Eram dezoito horas, portanto, não me preocupei muito em chamar um táxi. A caminhada foi calma e me fez bem; foquei mais na música e no que estava à minha volta para tentar fugir dos pensamentos o máximo que pude, e logo cheguei ao estabelecimento não muito cheio. O Red.dot era um supermercado que albergava algumas pequenas lojas dentro do terreno, às quais não me importei em ir. Estava interessada apenas num sorvete, e talvez em alguns chocolates. O que escolhi daquela vez foi o de menta com pepitas de chocolate, mas comprei também o de baunilha e calda de caramelo, para uma outra altura. Além disso, paguei por três caixinhas de Smarties e dois pacotes de Lays, um clássico, e o outro de barbecue. Saí com as sacolas plásticas em mãos e estava prestes a atravessar o estacionamento quando vi uma figura por mim muito bem conhecida.

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