32 | desconfiança e cicatrizes

390 54 105
                                    

A primeira coisa que ouvi foi um ruído bastante irritante para quem acabava de acordar

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

A primeira coisa que ouvi foi um ruído bastante irritante para quem acabava de acordar. Algum celular vibrava na mesa de cabeceira ao lado, e eu automaticamente estiquei o braço para alcançá-lo. Notei que não era o meu quando senti as incongruências na capa, porém, silenciei-o mesmo assim, com o intuito de não incomodar a Ayla.

Ela roncava baixo e parecia estar exausta; eu não a condenava, pois me sentia do mesmo jeito – principalmente depois de passar noites praticamente em claro, paranóico e ansioso demais para conseguir descansar em paz –. Ergui o aparelho para ver que horas eram, mas paralisei ao ver a notificação da chamada perdida, na qual a palavra "Hendrix Walker" estava destacada. Sentei e apoiei-me na cabeceira, encarando a negra ao meu lado. Eram nove e trinta, e obviamente estávamos atrasados para as aulas.

Eu não deveria ter dormido ali, mas somando o cansaço de todos aqueles dias à sensação de relaxamento que tive depois do que fizemos, o que era para ser apenas um "momento de descanso" transformou-se em várias horas de sono. No entanto, tendo em consideração que não havia nada de especial entre nós, era estranho que aquilo ocorresse.

"Bom dia, princesa. Podemos ver-nos hoje? Estou na cidade.". Essa foi a mensagem que chegou a seguir, e eu não consegui deixar de questionar a mim mesmo por quê ele queria vê-la. Era tudo demasiado suspeito; como ela conhecia o tal do Elliot, o Adonis, e agora o Hendrix?

A única explicação que me parecia lógica era que ela trabalhava para ou com algum deles, e que era por isso que havia andado atrás de mim por tanto tempo.

Suspirei baixo e coloquei o seu celular no mesmo lugar de antes, passando as mãos no rosto logo a seguir. Estava tão confuso; sentia que devia me afastar e ir embora, mas ainda precisava mantê-la por perto e descobrir alguma coisa a respeito daquela situação. Devia confessar que, caso a Ayla estivesse mesmo a inventar e a fingir tudo aquilo, ela havia sido bastante audaz, porque eu acreditei. Acreditei nos problemas que ela dizia ter, na relação atribulada com a sua mãe, e que talvez ela não fosse tão má quanto antes achei que fosse.

E, naquela manhã, ali estava eu; na sua cama, observando-a dormir serenamente depois de ter passado parte da madrugada recebendo a porcaria de um cafuné com a cabeça encostada no seu peito.

Sorrindo sem humor, levantei e caminhei até a casa-de-banho, onde limitei-me a esvaziar a bexiga, e passar água no rosto e no interior da boca. Vesti as calças e enfiei a carteira no bolso, logo seguindo até a sala silenciosamente enquanto coçava um dos olhos.

— Minha Nossa Senhora! — alguém exclamou. Parei de andar de imediado, vendo uma mulher na casa dos quarenta com a mão direita sobre o peito, claramente assustada. Presumi que fosse a secretária.

— Bom dia. — murmurei. Não consegui sequer sorrir; pela expressão, parecia que ela sabia bem quem eu era. Deveria ser uma fanática qualquer do partido do meu pai, ou apenas uma mulher informada a respeito do universo político.

IDRISOnde histórias criam vida. Descubra agora