38 | a peça mais letal

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— Depois de um século

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— Depois de um século... — murmurei com um certo sarcasmo ao ver a Angelique finalmente entrar no seu escritório, vestindo um terno feminino preto. Os longos e ondulados cabelos estavam presos, deixando em evidência o formato e traços suaves do seu rosto.

— Desculpa, querido. — pediu, fazendo caminho até a sua cadeira — Eu estava cheia de problemas por resolver, acabei não tendo como marcar o encontro mais cedo. Sabes que, infelizmente, não podem haver suspeitas de que estou por aqui e nem de que nos encontramos.

Anuí em concordância, sereno. Eram dezoito horas e sete minutos de uma sexta-feira. A semana havia sido literalmente infernal, contando com o facto de ter a minha existência e presença ignoradas pela Ayla e as provocações do Yannick Donovan cada vez piores, que continuava preso na casa do Andrei. O rapaz de vinte e dois anos recusava-se a revelar qualquer coisa que dissesse respeito aos negócios do pai, e o italiano não via motivos para pelo menos colocá-lo em um cómodo menos luxuoso em relação ao quarto no qual permanecia trancado dia e noite, cada vez mais entediado e aborrecido.

— Não sabia que conhecias o Andrei Bianco. — comentei com indiferença após alcançar uma das suas canetas personalizadas. A cor preta fazia contraste com os detalhes dourados em pontos específicos do objecto, carregando o luxo que era característico em cada canto daquela casa — E nem que vocês tiveram um caso...

Ao receber o silêncio como resposta mesmo após cerca de cinco segundos, eu ergui o olhar. Angelique me encarava seriamente – meio inquisitiva, meio indiferente –, mas nada dizia.

— Enfim, não me diz respeito. — disse num suspiro, tentando passar a impressão de estar entediado.

— Fico feliz que tenhas te apercebido disso.

Voltei a encará-la, reparando que assinava alguns documentos. Não sabia o que dizer daquela vez, e sentia que havia iniciado a conversa do jeito menos apropriado possível. Na verdade, apenas queria saber um pouco mais a respeito do Andrei, mas percebi que da minha tia não conseguiria arrancar informação alguma.

— Qual é o tipo de negócio que a senhora faz? — indaguei na tentativa de mudar de assunto.

— Tão sujos quanto os que o teu pai faz. — respondeu, simples, antes de suspirar — Não quero entrar em detalhes sobre isso. Como é óbvio, não pude tomar a minha parte da empresa da família, já que estou a viver entre as sombras por causa do teu pai, que me tentou asssassinar. — riu breve e secamente enquanto dava de ombros — Tive de me desenrascar.

— E como foi a sua adaptação à mudança de vida?

— Mais fácil do que o esperado. — me encarou de volta enquanto empurrava o pequeno monte de folhas para o lado esquerdo — O ódio me moveu, e não existe combustível melhor. A ganância é um dos maiores e mais comuns neste campo, mas o ódio é o mais perigoso... O mais letal. Não é a toa que consegui manter o foco por todos estes anos.

IDRISWhere stories live. Discover now