33 | luzes coloridas e um coração partido

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Naquela sexta-feira, Vicent Reed não olhou para mim por mais de dois segundos, como costumava – descaradamente – fazer

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Naquela sexta-feira, Vicent Reed não olhou para mim por mais de dois segundos, como costumava – descaradamente – fazer. Eu não sabia o que o Idris havia feito mas, pelos vistos, conseguira ajudar de alguma forma e eu constatei que o que ele disse no início da semana, horas antes de ter passado a noite comigo, era verdade.

Pelo facto de ter aulas dadas pelo homem asqueroso apenas dois dias por semana, e ter faltado na terça-feira assim como o Idris, aquela era a primeira vez em que nos víamos depois do ocorrido. Nunca me senti tão aliviada por ser ignorada por alguém.

Depois de alguma insistência, acabei contando, sem muitos detalhes, o que havia acontecido à Georgina. Como o esperado, ela ficou deveras incomodada e talvez mais perturbada do que eu, mas não fez muito senão insultar o docente como se fosse o ser mais nojento do universo. E ele de facto era, um entre vários.

Estávamos a meio da aula do Finn, e ele explicava algo que, sinceramente, não era do meu interesse. Mas parecia ser do Idris que, sentado alguns metros distante de mim, mostrava-se concentrado – apesar de visivelmente cansado –. Eu me perguntava, por vezes, o que ele tanto fazia. De uns tempos para cá, vê-lo tão exausto e esgotado havia se tornado comum, e isso me preocupava mais do que eu gostaria. Mais do que o normal, e haviam vezes em que a sensação era incómoda.

Eu não queria preocupar-me tanto, gostar tanto... Não era o meu natural, e eu sentia como se a bolha que antes me envolvia tivesse sido estourada. Me sentia vulnerável, e tinha medo que as suas ações pudessem afectar-me de alguma forma, pelo facto de não termos nada um com o outro. Ele não era nenhum santo, dava para notar de longe.

Mesmo tendo noção disso, mesmo sabendo que deveria me afastar, eu não consegui. O Idris oferecia-me tanto calor e conforto sem sequer dizer tantas palavras bonitas quanto vários outros tiveram de fazer para passar míseros minutos olhando para o meu rosto sem ganhar nada em troca, e eu não fazia ideia do quão viciante era aquela sensação. Eu não queria que nos afastássemos e, a cada dia que passava, o desejava mais. Só ele parecia fazer aquilo que eu realmente gostava, além de passar certa segurança e arrancar-me os sorrisos mais bobos e sinceros.

Durante a semana, o Hendrix convidou-me para sair e eu recusei. Isso aconteceu porque, em todas aquelas vezes, o Idris também chamava-me para passar algum tempo com ele, por mais pouco que fosse, e eu sempre cedia. Não importava se era para contar sobre o meu próprio dia e escutá-lo rir daquele jeito que eu tão bem conhecia, quando fazia piadas a respeito da minha própria desgraça, ou ficar sentada no carro dele a meio do estacionamento do prédio, ouvindo música e trocando alguns beijos simples.

Tudo parecia valer a pena e fazer sentido quando estava com ele.

O barulho por mim muito bem conhecido de pessoas ansiosas por abandonar os respectivos lugares logo se fez ouvir pela sala, o que me impulsionou a sair dos devaneios e juntar os meus pertences para organizá-los na mochila, daquela vez preta. Empurrei um conjunto de cachos para longe do rosto enquanto vasculhava o interior da mesma à procura de um gloss, quando uma sombra bloqueou parte da iluminação. Ergui a cabeça e pisquei com rapidez ao ver o rosto do Idris, que me encarava com o habitual sorriso minúsculo e forçado.

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