55 | a lugar nenhum

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Cerca de cinco semanas haviam se passado, e eu podia apenas desfrutar de cinco horas fora do quarto, entre os limites da mansão, sempre sob supervisão

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Cerca de cinco semanas haviam se passado, e eu podia apenas desfrutar de cinco horas fora do quarto, entre os limites da mansão, sempre sob supervisão. Duas eram gastas no ginásio com um instrutor recentemente contratado – porque o outro não tinha um pulso assim tão firme nos dias em que a perda de satisfação e interesse cobria cada célula do meu ser –, e as restantes em conversas com o Nathan ou caminhadas no jardim para que eu pudesse respirar ar fresco e sentir o calor dos raios solares. Eu tive, ainda, recaídas constantes. Perdi a conta das vezes em que chorei que nem uma criança birrenta nos braços da Zuri, implorando que me deixasse tragar pelo menos uma vez ou cheirar um pouco de cocaína; evidentemente, nenhum desses pedidos foi atendido. O meu sono estava todo lixado; haviam noites em que eu quase não descansava de tanto transtorno, e outras em que dormia que nem uma pedra. O apetite aumentou de forma quase descomunal e, se não fosse obrigado a treinar de forma pesada por cinco dias de sete, eu teria, sem dúvida, ganho quilos.

Alguns movimentos involuntários e novos surgiram; por um momento, pensei que se devessem à síndrome de Tourette, no entanto, a Zuri explicou que era normal que acontecesse durante a fase de abstinência. Eu, ainda, tremia e sentia dores musculares algumas vezes, o que ela também classificou como comum.

Naquele momento, eu observava a espuma e a água morna descerem pelo ralo. Encarei as palmas após virá-las para cima, observando os calos escuros. Eu não me importava em colocar as luvas durante os treinos; o incómodo ao tocar na borracha das máquinas fazia com que eu sentisse alguma coisa, para além de me deixar saber que eu merecia cada consequência das minhas ações. Eu era uma porcaria, e não havia nada que pudesse fazer para mudar isso.

Pendi a cabeça para trás ao suspirar pesadamente, com as mãos levemente ásperas pousadas na cintura. Empurrei os ombros para trás, aliviando a tensão na coluna, e depois abanei a cabeça, agitando a água para longe dos cabelos. Ao sair, com uma toalha à volta da cintura e outra da nuca, fiz caminho até o closet.

— Idris?

A voz de Zuri, de um momento para outro, tornou-se inconfundível. Ela parecia estar um pouco desanimada naquela tarde, mas eu não fiz questão de perguntar. Não me dizia respeito. Nos primeiros dias, eu achei que pudéssemos nos tornar amigos por causa da forma como ela me tratava, até lembrar de quem e como realmente era. Eu carregava o sangue de um político corrupto, era egocêntrico e tóxico, não fazia questão de manter ninguém por perto e não queria ter mais alguém por contar na lista de pessoas a quem destruí de forma involuntária.

Eu não precisava de ninguém; quanto mais distante ficasse, melhor seria.

— Estou a vestir-me. — murmurei ao alcançar um dos recipientes com hidratante para a pele. Todos eles eram escolhidos a dedo, tendo a melhor qualidade possível. Não era a toa que eu era todo tão suave.

— Pois então escolha algo mais formal desta vez... — ela sibilou de volta com a voz quebradiça, parecendo estar a colocar-se de pé mais uma vez à medida que o tom se ajustava aos movimentos — Iremos à casa do seu amigo russo, hoje.

IDRISWhere stories live. Discover now