8 | teatrinho tosco

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— Vais sair? — Marco indagou quando eu estava prestes a atravessar o hall de entrada

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— Vais sair? — Marco indagou quando eu estava prestes a atravessar o hall de entrada.

Depois das aulas, passei o resto da tarde procurando lugares específicos onde realizar as mesmas actividades de antes. Algum ginásio que se encaixasse nos meus requesitos – um deles sendo a privacidade –, restaurantes e bares caros onde passar algum tempo, e tentei pensar em um novo hobby, porém, este último sem sucesso.

Não conseguia sentir gosto por qualquer actividade que fosse. Além disso, não tinha talento ou dom algum, e se tivesse, eu não sabia. Pelos vistos, depois de estudar feito um condenado e de suar na academia feito um porco, eu iria afundar-me no tédio habitual.

— Vou.

— Vamos sair amanhã, então não durmas fora de casa. — mandou. Eu cessei os passos e virei-me para encará-lo. Encostado numa das paredes, levou o copo com uísque até a boca enquanto eu esperava que ele dissesse mais alguma coisa — Tenho de apresentar-te a algumas pessoas.

— Para quê?

— Para o mesmo de sempre.

Negócios, alianças e laços, amizades falsas e rios de inveja e ambição...

— Tudo bem.

— Esteja pronto às doze. Pontualmente. — mandou e saiu do meu campo de visão.

Respirei fundo, frustrado. Enganado estava eu quando pensava que teria algum momento de paz naquela casa. Fechei a porta do carro com mais força do que o previsto e encostei a testa no volante, nervoso. A vontade de voltar para dentro do quarto e cancelar fosse lá o que Kira havia planejado para aquela noite era praticamente colossal, mas não dava para desmarcar de última hora. Além disso, o meu pai estava em casa e ficar no mesmo ambiente que ele chegava a me deixar sufocado.

Enfiei uma das mãos trêmulas na mochila esquecida no banco traseiro do carro e vasculhei-a, procurando um baseado. Nada. Não havia nenhum.

O celular vibrou no bolso das calças; praguejei ao ver que era uma mensagem da Kira, dizendo que estava atrasado. Ela deveria ser bastante assídua, porque tinham passado somente dez minutos. Praticamente corri para dentro de casa e vasculhei as gavetas onde geralmente guardava qualquer coisa relacionada a erva, e não havia nada. Tendo passado a semana estressado e frustrado, era provável que tivesse dado cabo de todos sem nem me aperceber. Voltei ao carro ainda mais mal-humorado e apressei-me em abandonar a casa.

Quando cheguei ao tal restaurante do qual Kira tinha falado, não eram mais dez minutos de atraso, e sim quarenta e cinco. Agarrada ao casaco, ela esperava do lado de fora e estacionei a viatura o mais rápido possível, percebendo o quão fria a noite estava enquanto caminhava até ela.

— Olá. — cumprimentei num suspiro, e comprimi os lábios. Kira sorriu.

— Oi.

— Peço desculpas pelo atraso, houve um contratempo. — menti.

IDRISWhere stories live. Discover now