4 | filho de um político

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Nunca fui uma pessoa vingativa

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Nunca fui uma pessoa vingativa.

Eu sabia muito bem que deixar o rancor crescer e permanecer somente me faria apodrecer ainda mais por dentro, e me tornaria autodestrutivo. Não que eu já não fosse, porém, talvez evitar que as coisas me afetassem a ponto de querer magoar quem me tivesse feito mal fizesse com que eu me sentisse melhor.

E talvez tenha sido por isso que nunca tentei revidar as investidas desagradáveis da Ayla Costello. Nunca me tinha esquecido do nome, e nem dela. Não por ela ter sempre sido bonita e atraente. Não por ela sempre ter sido uma criança de mente "engenhosa" e que chamava atenção em qualquer lugar por onde passasse.

Era por causa das coisas maldosas que tinha feito comigo nos momentos mais duros da minha infância. Quando tudo em casa parecia desmoronar e ela me deixou ainda mais quebrado com suas piadas e apontadas de dedo que atraíam mais atenção do que qualquer criança na minha situação desejaria.

Eu não a culpava. Afinal, tinha espelhos em casa e via tudo aquilo que os outros viam. Um menino de aparência desagradável e tiques estranhos. Nunca culpei nenhum deles, porém, suas provocações e olhares criaram sequelas em mim. Mesmo que estivesse e fosse diferente de quem fui, aquilo aconteceu por tanto tempo e de forma tão intensa que nunca consegui superar completamente.

Por um momento, achei que talvez ela tivesse mudado. Para melhor. Porque era exactamente isso que eu fazia, desejava o melhor para quem me tivesse feito mal. Isso, ou a pessoa era simplesmente mais uma indiferença.

De qualquer forma, não esperava vê-la na Royale. Eu queria que ela tivesse desaparecido. Queria que nunca mais nos encontrássemos porque mesmo que tivesse passado tanto tempo, ela ainda me causava repulsa. E eu senti que não conseguiria esconder isso em momento algum, sempre que a visse por perto.

Ayla era simplesmente desprezível. Ela foi uma criança cruel, e sempre senti que grande parte das minhas actuais inseguranças tinham sido causadas por ela. E mesmo assim, eu não a culpava. Somente desejava que ela tivesse guardado seus pensamentos e palavras ou que pelo menos fosse discreta acerca do que a incomodava em mim.

Não sabia se guardava ressentimentos e tentava escondê-los ou fingir que não existiam. Eu somente a queria longe, porque sentia que ela despertaria o pior de mim caso se aproximasse, e eu não queria mais algo a listar nas coisas que me tornavam uma pessoa desagradável, podre e talvez radioativa como Marco disse na noite de sábado.

Ayla provavelmente não se recordava de mim, ou talvez eu estivesse mesmo irreconhecível, porque não foi difícil notar o olhar de interesse que lançou para mim. A minha adolescência foi marcada por mudanças físicas que até a mim deixaram surpreso. Não que eu tivesse mudado a ponto de parecer uma pessoa completamente distante e diferente da que via no espelho todos os dias, porém, aconteceu tudo de forma drástica e para lá de estranha.

— Aqui na Royale as aulas são dadas nas determinadas salas, ou seremos divididos em turmas definitivas, e os docentes irão ter connosco? — Oskar murmurou com o sotaque forte enquanto percorríamos um dos longos corredores.

IDRISWhere stories live. Discover now