14 | gritos ensurdecedores

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Eu odiava o facto da Ayla fazer exactamente o meu tipo

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Eu odiava o facto da Ayla fazer exactamente o meu tipo.

Odiava ainda mais me sentir um hipócrita do caraças depois de ofendê-la. Eu sabia bem o estrago que palavras faziam, porque o meu próprio pai fez com que eu tivesse noção disso desde cedo, mas era a única forma que havia de afastá-la e, além disso, a sua presença não me deixava confortável.

Repudiei o facto de ter começado a achar que talvez fosse um exagero estar chateado por causa do que ela chamou "brincadeira de criança". Aquilo me levou a questionar os motivos pelos quais deveria mantê-la longe. Eu mesmo reconhecia que não tinha uma aparência agradável quando mais novo, e que crianças são egoístas durante uma fase. Podia também ver que ela fingia estar bem a todo o momento, porque fazia o mesmo. Talvez ela tivesse motivos para ter sido daquele jeito, e eu não podia julgá-la pelos erros do passado, afinal, nem crianças são santas.

Com um suspiro, passei as mãos no rosto, frustrado. Não deveria deixá-la chegar perto e ponto, era isso. Ela era linda, e eu praticamente adorava o aroma do seu perfume. Isso não era um bom sinal, nem de longe. Queria tanto que ela fosse o oposto de tudo o que eu gostava de ver numa mulher, e que parasse de tentar se aproximar... Não podia querê-la.

A carne é fraca, e isso é um facto. Não é a toa que existem situações que devemos evitar quando estamos em um relacionamento ou temos algum objectivo específico. No fundo, todo o mundo que apresenta características apreciáveis torna-se interessante por um momento, até notarmos aspectos que consideramos desprezíveis ou chegarmos ao ponto de passar a achar que a pessoa não é ou não tem nada demais.

E era com essa linha de raciocínio que eu sabia que em algum momento, se ela insistisse um pouco mais, eu acabaria na sua cama. Ou em qualquer outro lugar, desde que estivesse entre as suas pernas. Tudo isso por causa dos olhares interessados que antes eu considerava patéticos, dos toques suaves e do facto de ela assumir com todas as letras que me queria.

Eu a odiava.

— Ei. — Urijah chamou, estendendo uma cerveja na minha direção. Comprimi os lábios ao lembrar-me da última conversa que tivemos e observei-o sentar na cadeira próxima à minha.

A sua casa havia mudado sutilmente, sendo a decoração um pouco mais sofisticada e moderna, com um toque feminino em alguns cantos. Estávamos numa das áreas de lazer, localizada na extensão do terraço com piscina de borda infinita. O farfalhar suave das folhas das árvores e plantas era agradável de se escutar e não consegui encará-lo, desviando o olhar para a piscina e os vasos decorativos.

— Desculpa por ter dito aquelas coisas no outro dia... — ele começou — Não quis passar a impressão de estar a controlar-te. Sei que passas por situações dessas em casa, nas quais não podes fazer o que queres.

— Sou eu quem deve pedir desculpas. — eu disse — Tenho noção que somente queres o meu bem. Fui inconsequente, sei que aquela merda faz mal, só que... Eu estou acostumado a lidar com tudo daquele jeito.

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