9 | mais uma mentira

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Eu odiava festas em família

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Eu odiava festas em família.

Eram barulhentas, as pessoas exibiam sorrisos falsos e felicidade momentânea; isso era simplesmente desgastante para mim. Sem contar que boa parte dos meus familiares tratavam-me de forma diferente por ter condições de vida melhores que muitos deles.

A minha mãe vinha de uma família pobre. Tinha cerca de sete irmãos e era uma das poucas pessoas que havia tido êxito na vida. Por isso, eu era tratada como uma "princesinha" que deveria ter o melhor, e isso deixava-me desconfortável na maior parte das vezes. Em algumas delas eu simplesmente não ligava, mas tudo isso somente fazia com que as pessoas se afastassem, sem contar que a minha fama de "chata" e insensível existia em todo o lugar por onde passava. A minha feição habitual também não era agradável, jamais negaria isso, e talvez fosse melhor que houvesse distância entre mim e eles, porque eram um bando de falsos.

Noelle Costello também costumava manter distância. Eu não sabia por quê, mas não era segredo que não se dava bem com muitos dos seus irmãos. Os únicos que a procuravam de vez em quando eram aqueles que precisavam de dinheiro constantemente, e ela acabava por ajudar, sabe-se lá por quais motivos o fazia. Eu não perguntaria, também. Porque se comigo ela não se importava, quem garantia que iria abrir-se comigo acerca da sua infância e passado?

Uma das poucas coisas das quais eu gostava era a comida e as músicas antigas que davam um ar nostálgico. A união momentânea também parecia bonita de se ver, porque os sorrisos e conversas animadas – deixando as discussões de lado – traziam um ar único aos eventos. Geralmente, eram feitos na casa da minha avó, Marie, que costumava fazer piadas em situações inapropriadas.

— Ayla! — minha mãe chamou, gesticulando com uma das mãos para que eu me aproximasse. Enquanto eu terminava de comer em silêncio ao lado de alguns primos que conversavam tendo ignorado a minha presença assim que me cumprimentaram, ela também desenvolvia um diálogo com algumas irmãs e primas.

Deixei o prato vazio numa das mesas, fazendo nota mental para deixá-lo na cozinha assim que possível, e caminhei até o ponto em que as mais velhas estavam.

— Deus, como ela está crescida! — uma delas disse e colocou as mãos na cintura, me encarando de forma minunciosa enquanto sorria — Está linda também. Tu te lembras de mim?

Sem graça, forcei um sorriso e literalmente vasculhei a memória em busca de algo que me recordasse dela para não fazer desfeita.

— Não te lembras... — estalou a língua, mas ainda sorria — Eu te troquei até as fraldas! Sou a tia Júlia, passei boa parte da juventude a cuidar de ti enquanto a tua mãe trabalhava, mas depois tive de viajar em missão de serviço.

— Desculpa, eu realmente não me lembrava...

— Ah, normal, querida. Passou muito tempo. — abanou a mão como quem faz pouco caso — Tu estás simplesmente linda, nem acredito que és tu.

IDRISWhere stories live. Discover now