12 | boca imunda

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Paranóico

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Paranóico.

Era, de facto, como eu sabia estar desde o dia em que fui obrigado a assassinar alguém que vi apenas uma vez na vida. Receava que em certo momento algum jagunço do "chefe" da moça de traços asiáticos decidisse aparecer e acabar com a minha vida, como havia sido a ela ordenado. Não que eu não desejasse morrer, de qualquer forma; as noites se tornaram dias, literalmente, e as lembranças dos corpos ensanguentados e inertes não abandonavam a minha mente, bem como o peso da culpa e o desgosto que passei a sentir por mim mesmo.

A única vontade que tinha era de ficar trancado no quarto, esperando que alguma coisa sugasse o que restava da minha vida miserável e eu pudesse finalmente sentir algo que pudesse classificar como paz. Poderia tentar meter na cabeça que era assim que as coisas seriam a partir daquele dia, graças aos caminhos que seria obrigado a seguir, e que não matei em vão. Que o fiz para proteger os netos da Irina, mas isso não mudava o facto de ter feito algo desumano e horrendo, tampouco tirava a culpa dos meus ombros. Não confiava em ninguém o suficiente para desabafar, e nem fodendo falaria com o Marco acerca daquilo. Esperava que, por algum milagre, aquela noite fosse apagada da minha memória.

Infelizmente, a vida não parava e era só por isso que não podia fazer as minhas vontades. Sem contar que, caso deixasse aparente estar a acontecer algo de errado, a mídia viria para cima e as pessoas questionariam, portanto estava, mais uma vez, na frente da Royale University com a mesma expressão de sempre. Cansado e mal humorado, ignorei alguns cumprimentos enquanto caminhava em direção ao estacionamento. Sentia como se a cabeça estivesse prestes a explodir.

— Estás pior do que o habitual. — Oskar murmurou com os olhos semicerrados, observando o cigarro entre os dedos. Sentado no assento traseiro do seu carro e sabendo que boa parte dos funcionários não passavam por ali àquela hora, costumava ficar escondido e dar cabo do que provavelmente sobrava dos seus pulmões.

— Obrigado. — sorri com ironia e encostei-me na viatura sem sequer me importar com o cheiro desagradável da nicotina.

— Conseguiste falar com aquela loira com quem saíste na noite em que estivemos com o Urijah?

— A siliconada da festa?

— Não, a stripper. — encarei-o e ele sustentou o meu olhar voltando a encaixar o cigarro nos lábios.

— O que tu queres com ela?

— O que tu irias querer com uma stripper? — ergueu as sobrancelhas.

Frustrado, esfreguei as mãos no rosto e suspirei.

— Ela foi minha amiga.

— Foi?

— Sim, antes da viagem.

— Então não são mais amigos?

— Presumo que não.

IDRISWhere stories live. Discover now