58 | sobre morrer por dentro

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Um leve incômodo ainda se fazia sentir quando me afastei do leg press

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Um leve incômodo ainda se fazia sentir quando me afastei do leg press.

Com um suspiro, caminhei em passos lentos até o ponto onde deixara a garrafa de água e a sequei em segundos, exausto. Connor anotou algo numa espécie de prancheta e ergueu o olhar para me encarar logo depois à medida que eu limpava o suor na face com a toalha preta, parecendo satisfeito.

— Analisando o progresso feito nas duas últimas semanas, o teu desempenho tem sido surpreendentemente bom para quem passou tanto tempo sem se exercitar. No próximo treino, vamos subir a carga para trezentos e cinquenta quilos na mesma máquina, e subir também a dos pesos na hora do agachamento búlgaro.

— De novo?

— Preferes fazer avanço com halteres? Lembra-te que, se quiseres trocar, vamos aumentar o número de exercícios também.

Connor sorriu, zombeteiro, quando torci o rosto em uma careta, à medida que se afastava para, provavelmente, arrumar os seus pertences na bolsa esportiva.

— Amanhã vamos focar o treino nas costas! — ele disse em alto e bom som já próximo à saída do ginásio.

Faziam cerca de duas semanas que eu havia voltado à Royale University, ainda com o Hunter no meu pé. Era ele quem me levava a todos os lugares para os quais precisasse ir, e depois me deixava em casa; sem ele, não havia acesso ao lado de fora. Ainda que eu já estivesse quase completamente recuperado e não tivesse tido recaída alguma durante o período de tratamento, o Marco não parecia confiar em mim o suficiente para me deixar circular por aí sozinho; e ele não deveria porque, eu até deixaria a cocaína de lado, mas a erva era indispensável.

A ideia de trocá-la por comprimidos – a vida toda – me enchia de arrepios.

Não havia nenhuma negativa no sistema, o que significava que o Marco havia mexido em alguns pauzinhos na administração da R.U; eu não duvidava e não esperava algo diferente, uma vez que, ainda que pudessem existir falatórios pelo tempo que passei ausente, a imagem de um descendente "genial" e dedicado não podia, jamais, ser afetada ou mudada. A nossa família era "perfeita" demais para isso.

No entanto, em uma das noites, durante o jantar, ele tocou em um ponto do qual eu me havia esquecido quando o Nathan chegou: a época das campanhas e eleições. Em dois anos, a mesma luta – a qual eu conhecia e na qual participava há anos – pelo crescimento dentro da política aconteceria, e eu havia arranjado mais um motivo para que ele fosse tirado do cargo, ou perdesse a chance de melhorá-lo. Os oponentes teriam mais um ponto pelo qual atacar o Marco e o seu partido, a não ser que, até lá, tivesse sido inventada alguma história emocionante e convincente o suficiente para que ele não fosse visto com maus olhos.

Ter um filho fora do casamento não chegava nem perto do que eu sabia que ele e mais políticos faziam ou seriam capazes de fazer, mas toda a informação suja deveria ser escondida e trancada a sete chaves de pessoas tão pecadoras e erradas quanto eles.

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