30 | uma noite arruinada

368 50 90
                                    

Ayla Costello chamava muita atenção

Oops! This image does not follow our content guidelines. To continue publishing, please remove it or upload a different image.

Ayla Costello chamava muita atenção.

Mais do que eu gostaria, uma vez que procurava sempre manter discrição. Porém, eu jamais condenaria todas aquelas pessoas por encararem a negra que era por mim guiada até a mesa que mandei reservar horas antes, no último andar do restaurante majestoso.

O barulho produzido pelos seus saltos batendo no chão do Ricci ecoava junto aos baixos tilintares da louça e talheres enquanto ela permanecia de mãos dadas comigo já que, momentos antes, ofereci ajuda para que subisse as escadas, mesmo que tivesse certeza que ela dificilmente tropeçaria; a Ayla passava tanto tempo com aquilo nos pés, que já deveria ter até adotado estratégias para se livrar de situações inimagináveis.

Ao contrário de mim, ela parecia não se importar com os olhares que nos eram dirigidos. Era como se estivesse acostumada e completamente confortável, consciente até dos murmúrios que se faziam escutar uma vez à outra, vindos de algumas mulheres e velhos desocupados. O funcionário que acompanhava-nos indicou os lugares e eu fiz questão de puxar a cadeira para a Ayla, que agradeceu e fez-se confortável enquanto eu contornava a mesa ao passo que dois menús eram deixados sobre a mesma. Momentos depois, ergui o olhar para a mulher à minha frente, que franziu a testa de forma discreta antes de me encarar de volta, como se estivesse perdida.

— Eu não faço ideia do que escolher. — murmurou — Tenho receio de pedir algo e me arrepender amargamente.

Eu ri e folheei o meu, achando graça no seu tom.

— Que vergonha...

— Vergonha de quê? — indaguei, ainda analisando as opções — Tu disseste hoje mais cedo que não sabias muito sobre comida italiana, e não há nada de errado em não saber certas coisas...

— Pois é, mas poderia conhecer o básico...

— Queres que dê sugestões?

Ela fixou o olhar no meu e mordeu o lábio inferior na tentativa de reprimir um sorriso.

— Surpreende-me.

Inevitavelmente, acabei sorrindo também. Apesar de não termos conversado muito durante aquela semana, parecia que nem o tempo e distância acabaram com o habitual clima leve e descontraído que existia quando estávamos juntos. Ayla era espontânea quando não mostrava-se esnobe e atrevida, o que me fazia questionar internamente se ela não fingia ser outra pessoa quando estava comigo, ou com os outros. Talvez eu tivesse julgado as suas atitudes, acções e palavras de forma precipitada, porém, ela fingia tanto que tais mentiras acabavam tornando-se verdades.

Ao contrário dela que, aparentemente, detestava demonstrar não estar bem, eu apenas não exteriorizava quase nada; preferia manter a expressão impassível que já era parte de mim.

Ainda sob o seu olhar, chamei o empregado que há pouco deixou os menús sobre a mesa, o qual aproximou-se de imediato com um sorriso.

Bruschetta clássica como antipasto, linguine allo scoglio como primo, salmone alla griglia como secondo, e panna cotta con frutti di bosco para a sobremesa.

IDRISWhere stories live. Discover now