01. Bad idea

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#CodinomeFlamingo

A história do amor sempre esteve cercada de mudanças: da reprodução para povoar o recente planeta Terra, de casamentos usados como contratos para fins políticos e financeiros, dos trovadores medievais à canções pops românticas escutadas por jovens que descobriram a primeira decepção amorosa.

Em todas essas épocas, Jimin não conseguia se enxergar, apesar de toda a ideia do amor romântico que possuía ser de tudo o que já leu. Apegou-se a todas as descrições sobre o que o amor pode ser e tentou sentir tudo o que estava nas inúmeras linhas e páginas, mas apenas prendendo-se às palavras, pois até então, ele nunca havia se apaixonado por alguém. As borboletas no estômago? Ele não sabia o que era, muito menos o coração acelerado e o andar desconcertado por passar perto de quem se gosta. Nunca esteve vulnerável, à mercê do desejo de querer estar perto de alguém, com os pensamentos presos a uma única pessoa durante o dia, antes de dormir e nos sonhos.

Mas também nunca teve o coração partido.

Jimin nunca sentiu o que é o amor, mas sabia que poderia doer e talvez por isso ele se protegesse como podia, assim como o semáforo que se fecha alguns segundos antes para o pedestre, para assim que os carros avançarem, não haver ninguém na pista. Jimin também retirava-se de qualquer relação antes mesmo de sentir o coração palpitar desajeitado. Tinha medo de sentir toda a dor descrita que lia e ouvia porque essa dor só podia ser grande o suficiente para inspirar tantos autores.

Por isso que, frequentemente, Jimin acordava em camas estranhas e apertadas. O amor nem sempre existiu da forma como é nos dias de hoje, mas o que sempre existiu e sempre existirá é o prazer da carne.

As cortinas finas que não impediam a claridade matinal de incomodarem os seus olhos fizeram-no despertar contra a sua vontade. Virou o rosto para o lado e deparou-se com a silhueta nua de um cara com a face virada para a parede. Observou a nuca alheia por alguns segundos antes de constatar que não se lembrava do seu nome, só sabia que ele era tailandês e... Estudante de dança?

Sentou-se na cama e passou os olhos pelo quarto à procura da sua calça. E lá estava, jogada no chão, sendo iluminada pelos raios solares que adentravam a janela evidenciando as pequenas partículas de poeira vagando pelo ar.

— Ótimo... — praguejou, passando o tecido quente entre as pernas e fechando o zíper o mais rápido que podia.

Sua mochila estava largada em um canto perto da escrivaninha. Colocou uma das alças sobre o ombro e antes de girar a maçaneta da porta, olhou mais uma vez para o cara com quem passou a noite e perguntou-se se ele teria aula pela manhã. Acordá-lo ou não? Se o acordasse, teriam que tomar café da manhã juntos e conversariam sobre temas aleatórios apenas para quebrar o constrangimento? Haveria constrangimento? Iriam juntos para a universidade? Definitivamente, não queria ter esse tipo de intimidade com alguém que nem lembrava o nome.

Jimin segurou todo o ar e abriu a porta com todo o cuidado para não fazer barulho. Desceu as escadas lentamente, temendo encontrar alguém pela república, mas conseguiu calçar os sapatos e sair dali sem ser notado.

Andou com passos largos até a Universidade de Yonsei. Ficar com intercambistas tinha lá suas vantagens: moravam bem perto de onde estudavam. Jimin tentava arrumar o cabelo negro com as mãos, sua calça igualmente escura e apertada marcava os músculos das pernas, assim como a sua cintura fina, que era desenhada graças a camiseta branca um pouco mais justa. Passou pelo portão principal e tudo pareceu ficar mais fresco, como se tivesse entrado em um mundo à parte. Os galhos das árvores cantavam com o vento, algumas folhas caíam em seu caminho, passarinhos andavam sobre a grama recém aparada e um casal de estudantes fumava o primeiro cigarro do dia perto da cantina.

Asian Scars × jikookWhere stories live. Discover now