Asian Scars × jikook

05. Café gelado

#CodinomeFlamingo

Aos domingos Jeongguk dormia o dia inteiro. Chegava tão tarde em casa que o sol forte da manhã era completamente ignorado, as janelas de vidro cobertas com papel pardo eram fechadas e o seu corpo entrava em desespero debaixo da água fria do chuveiro, para assim, tirar todo o cheiro de nicotina e diversos perfumes caros que grudavam em sua pele. Nada era pior do que ficar com o cheiro de outra pessoa cravada nos tecidos de sua roupa em um lugar onde não queria estar. Era agoniante e desconfortável. Até tentava se distrair e observar as pessoas dançando na pista, mas a ida e a vinda de clientes que faziam a sua pochete se esvaziar até o fim da festa, o deixavam com o peito pesado, a angústia nunca cessava porque ele sempre se perguntava o que a mãe pensaria da forma como ganhava a vida. Nunca a contaria de onde tirava o dinheiro que a mandava todo mês.

Logo em seguida caía em queda livre no colchão velho, manchando a fronha do travesseiro com a tinta rosada do cabelo. Seu sono não era tranquilo. Acordava inúmeras vezes durante o dia, conseguindo perceber as nuances do sol mudando de posição, até se perder por completo e dar lugar a lua. Toda essa inquietação o fazia dormir até a madrugada de segunda-feira, em um falso descanso. Sua mente permanecia exausta o tempo inteiro.

Desceu as escadas do prédio onde morava assim que comeu o pouco do kimchi industrializado que havia na geladeira. Ainda era manhã, mas o asfalto da rua já estava quente, o sol incendiava no céu, assim como o cigarro entre os dedos de Hyunah com as unhas enfeitadas pelo esmalte descascado, enfumaçando todo o cabelo de caracóis loiros artificiais e o sobretudo escuro que lhe salvava durante as raras noites frias daquela época do ano.

— Grande dia. — Ela disse assim que viu Jeongguk trancar o portão de ferro.

— É na segunda que o seu fim de semana começa, certo? — Respondeu observando os olhos cansados cheios de sombra verde borrada.

— Fim de semana de apenas um dia não é fim de semana. — Deu de ombros enquanto tragava mais uma vez o cigarro barato, deixando uma marca de batom vermelho no filtro amarelado do mesmo. — Também tá tirando uma folga? — Perguntou ao perceber que o Flamingo vestia uma blusa fina de mangas compridas que lhe tapava todas as tatuagens, muito diferente dos trajes do dia anterior, que evidenciava todos os desenhos que cobriam a pele, como se quisesse ser visto.

— Minha folga foi ontem. Domingo é o dia da ressaca, sabe como é, ninguém tá muito interessado em drogas.

— Queria poder dizer o mesmo dos meus clientes. — Jogou o cigarro no chão e o amassou com o coturno de couro gasto.

Hyunah era alguém que Jeongguk sempre esbarrava pelas ruas do bairro. Parecia ser divertida. Ele tinha uma certa curiosidade de saber como ela seria de verdade, conhecê-la antes do seu ganha pão ser vender o corpo, queria saber como ela seria sem a aura melancólica dos olhos tristes e cansados. Poderiam ter se conhecido em um bar qualquer da cidade, ela o paqueraria, piscando um dos olhos enquanto mandava um shot de tequila para dentro e logo em seguida chupando um pedaço de limão, o encarando. Jeongguk riria e iria até ela para pedir ajuda com o cara bonito ao seu lado, Hyunah faria uma cara de espanto engraçada, mas logo gargalharia com a situação inusitada e os dois se tornariam bons amigos. Mas nada disso aconteceu, eles simplesmente se encontravam de vez em quando porque moravam um de frente para o outro, no mesmo andar, mas em prédios diferentes. Os olhares trocados diziam que não faziam o que queriam da vida e tentavam encontrar algum conforto no outro, mesmo em conversas tão rasas. Se olhavam como se vissem um espelho a sua frente, uma luz no fim do túnel, afinal, suas vidas poderiam ser uma merda, mas ainda continuavam vivos. De vez em quando eles se viam pela janela e ofereciam algo que estavam bebendo, com um sorriso pequeno e um elevar de sobrancelhas, silenciosos, uma forma de dizer: "Ei, que bom que você ainda está aí".