35. Assumindo as marcas

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O coração ainda não havia parado de bater forte, mesmo que o ambiente não estivesse carregado de adrenalina. Estava em uma sala tão clara que ele duvidava se ainda era noite lá fora, as algemas prendiam os seus braços atrás do corpo e ele não conseguia sentar-se confortavelmente. Apoiou a cabeça na mesa, a orelha grudada no tampo, e fechou os olhos, tentando controlar a respiração. Era a ansiedade falando, não sabia o que aconteceria consigo a partir dali e aquilo o sufocava.

A porta da sala abriu-se calmamente, mas, para Jeongguk, o som pareceu um estrondo. O coração voltou a bater em um ritmo ainda mais frenético e ele ergueu o tronco de olhos arregalados ao fitar a figura que ali adentrou. O homem era alto, de pele pálida, usava uma calça social preta e uma camisa azul marinho de botões e mangas longas. Havia um distintivo pendurado no cinto e uma arma enluvada pelo coldre na coxa. Uma pasta com alguns papéis foi depositada na mesa, mas o homem não se sentou.

— Levante-se — ele pediu.

Jeongguk obedeceu e o homem se postou atrás de si. Retirando um pequeno molho de chaves do bolso, destrancou as algemas dos seus pulsos e pediu para que ele se virasse para frente, colocando-as de novo um pouco mais frouxas. Vincos do metal formaram-se em sua pele e Jeongguk sentou-se esfregando os pulsos.

— Eu sou o delegado Kim. — Começou o interrogatório apresentando-se. — Sou a autoridade policial da região e preciso coletar alguns dados para a anexação aos autos.

— Ok... — disse, sem muita certeza do que deveria responder.

— Jeon Jeongguk, codinome Flamingo. Vinte e um anos. Preso por transportar 300 pinos de cocaína. Sem antecedentes criminais. — Seokjin suspirou cansado ao ter de repetir a mesma frase por tantas vezes seguidas sem obter qualquer tipo de resposta significativa. Não era a primeira vez que dissera o nome dele e mesmo naquele momento no passado, previra o que aconteceria nos próximos minutos. — Tem o direito de permanecer em silêncio, tudo o que disser poderá ser usado contra você num tribunal.

— Quando me prenderam, eu ouvi algo sobre ter um advogado nomeado pelo Estado. Eu vou querer um, não tenho dinheiro pra pagar por isso. — Os olhos de Jeongguk brilhavam devido às lágrimas que ele não queria derramar e olhar para a feição dura do delegado não o ajudava em nada. Queria que alguém lhe dissesse o que fazer.

— Vou comunicar aos responsáveis, fique tranquilo. Até a sua audiência de custódia você terá um advogado. — Assentiu. — Aceita responder algumas perguntas?

— Eu não sei. Eu não sei o que fazer. Não quero ficar ainda mais encrencado. — A angústia transparecia na voz. O delegado Kim dava medo, nunca passou tanto tempo encarando um policial tão de perto.

— Você só precisa depor, por enquanto. Dizer o que aconteceu essa noite. — Seokjin estava duvidando da própria paciência ao lidar com o garoto, mas resolveu esclarecer algumas coisas. — Escuta, você estava carregando 300 pinos de cocaína em uma sacola de loja, o que deixa bem claro que você é um traficante de drogas. No mínimo, você pega dez anos de prisão. Pensa, somente aos 31 anos de idade vai estar livre, então que tal colaborar um pouco?

Jeongguk desviou o olhar para as algemas nos pulsos e lembrou-se da última fala de Baekhyun antes de sair da sala dele. Do nome de Jimin escapando dos lábios finos e da risada ecoando pelas paredes do corredor. Não podia contar tudo e Jeongguk o olhou através dos cílios. Sabia demais, talvez até mais do que qualquer outra pessoa. Poderia perder dez anos da sua vida se assim mantivesse Jimin e seus amigos em segurança.

— Eu preciso de um advogado. — A sua fala arrancou um suspiro do delegado

— Isso pode demorar algumas horas, mas assim que você se encontrar com ele, ou ela, pergunta sobre uma coisinha chamada "colaboração premiada". Se você entregar tudo o que sabe, pode conseguir até a anulação da sua pena — disse, procurando pelos olhos do traficante.

Asian Scars × jikookWo Geschichten leben. Entdecke jetzt