23. Colisão programada

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#CodinomeFlamingo

Passos em corredores vazios poderiam soar amedrontadores paras muitas pessoas, mas não para Seokjin. Sabia que o som daqueles solados em contato com o granito polido era seu e que havia uma arma pendurada em seu coldre preso a cintura, além do mais, ele estava em uma delegacia, ali era seguro. Ao menos era assim que ele deveria se sentir.

Como em um daqueles pensamentos bizarros que passam por nossas mentes sem termos controle, imaginando o carro em que dirigimos despencar de uma ponte, Seokjin logo pensou que poderia receber um tiro enquanto estava de costas e logo um arrepio se espalhou pela sua espinha. Se virou para trás de repente, mas girou a cabeça de volta após verificar que somente o vazio existia. Suspirou cansado e acabou por embaçar o vidro da sala de interrogatório, morada de suas maiores frustrações no momento. Deveria acabar logo com toda aquela farsa de Hyun e quem mais estivesse o apoiando dentro da corporação, ou então ficaria completamente louco.

Depois que se despediu de Junmyeon na sala de necropsia e de Wheein no telefone, a esperança e animação já não estavam tão presentes. Talvez seu maior defeito fosse pensar demais, mas talvez aquele também fosse a sua maior qualidade. Sabia que não conseguiria dar passos maiores que a própria perna, muito menos quando sabia da existência de pessoas que faziam questão de amarrá-las com nós bem fortes que nem mesmo a justiça conseguiria desatá-los, pois a pobre coitada nem conseguia chegar suficientemente perto.

Bateu a cabeça no vidro uma única vez e logo foi capaz de se lembrar do último interrogatório que fez ali. Foi naquele mesmo sábado de muita carne e cerveja para quem dirigiria de volta para casa, da tatuagem de seu abdômen exposta para quem não sabia apreciá-la. Talvez aquilo tivesse sido um erro, mas ele não se importava. Talvez devesse ter ficado em casa a espera de Wheein quando o telefone tocou tão tarde da noite, mas quando ela chegou ele não estava mais ali:

— Boa noite, delegado Kim. — Seokjin tentou bocejar em silêncio, esfregando o rosto com a mão livre, a luz da televisão batendo contra sua pele pálida. — Sei que o senhor não é o delegado de plantão, mas chegou um flagrante de tráfico de drogas na região de Yongsan, acho que é do interesse da sua recente investigação.

— E o que é tão interessante assim para me fazer ir trabalhar no meu dia de folga? — Perguntou e recebeu apenas alguns segundos de silêncio como resposta, sem saber que do outro lado da linha a agente procurava as melhores palavras para falar com o delegado. Superiores a deixavam nervosa, ainda mais se essa pessoa fosse Kim Seokjin. — Ele tem alguma tatuagem de gangue? — O som do silêncio já se tornando irritante foi o motivo da nova pergunta.

— Ele não é muito tatuado, mas existe um desenho suspeito, sim. — A voz parecia diminuir o tom a cada palavra pronunciada, como se faltasse ar nos pulmões e a garganta se apertasse.

— Pode descrevê-lo?

— Um beta no pulso muito mal feito, a qualidade se diferencia do restante das tatuagens. — A agente pareceu travar no mesmo instante após ter dado sua opinião sobre o desenho, os olhos arregalados do outro lado da linha e um estalo na testa ao ter sido vítima de seu próprio tapa. Era só para falar do maldito beta, como Wheein ordenou, por que aquela conversa estava se estendendo tanto? Mas foi só então que Seokjin se atentou e percebeu que a voz era feminina, como se só o breve comentário sobre tal tatuagem o fizesse acordar do sono mais profundo. — Acho que o senhor deveria ver com os próprios olhos.

— Certo, estou a caminho. — Disse já se levantando, calçando os chinelos e procurando pelo controle da televisão. — Qual é o seu nome mesmo? — Perguntou apenas para se lembrar daqueles que poderiam estar ao seu lado.

Asian Scars × jikookWhere stories live. Discover now