17. Casa aberta

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Segunda-feira

O relógio digital de números grandes presente na mesa de cabeceira de Jimin marcava 03 horas da manhã e os seus olhos cansados, no entanto, sem qualquer sono, assistiram o visor mostrar que já eram 03h01min.

Se virou para o outro lado, mas antes ligou o abajur, apenas para não encarar o breu que tomava o seu quarto quando até mesmo as cortinas estavam fechadas. E do outro lado, tomando toda a parede de forma tão imponente, encarou a estante de livros como nunca havia encarado antes.

Sempre ia até ali para preencher os vazios com novos exemplares, acabando também por preencher algo dentro de si. E se empanturrou de tantas histórias a ponto da falta de espaço entre as prateleiras se tornar um reflexo do seu interior. Encontrou alguém que o fez transbordar e querer escrever a sua própria história de amor e sinceramente? Aquilo o aterrorizava a ponta de olhar para o seu exemplar de O Pequeno Príncipe e tomá-lo em mãos apenas para colocá-lo na parte mais alta e inalcançável da estante. Só queria apagar todos os vestígios daquele que o tanto fazia temer por algo que ele ainda nem entendia muito bem o que era.

Voltou para a cama e se deitou fugindo dos lençóis, deixando as pernas expostas e com elas, as marcas da noite anterior. A luz fraca do abajur parecia deixá-las ainda mais escuras e assim, as acariciou com a ponta dos dedos, apreciando a pintura feita em sua pele com tanto cuidado. Se lembrar do peso de Jeongguk sobre o seu corpo era quase inevitável, seja quando ele estava tão fundo dentro de si com a mão lhe tapando a boca; ou quando estava deitado em seu peito, atento às batidas irregulares do seu coração.

Pressionou os dedos sobre os olhos e só isso era o suficiente para que as imagens dos dois descendo as escadas de sua casa na manhã seguinte – tão apressados para não serem pegos – e os beijos entre sorrisos sem fim, enchessem a sua memória. Mesmo que estivesse deitado em sua cama, ainda conseguia sentir os lábios alheios em sua face e assim, decidiu abrir os olhos. Se o sono era algo que poderia ajudá-lo a se esquecer dos medos, a falta dele era sinal de que, no fim, o receio maior era o de encontrá-lo em seus sonhos.

Inquieto, voltou a olhar para a mesa de cabeceira e viu o exemplar de Morangos Mofados já quase fazendo parte da decoração, mas pensou duas vezes antes de tomá-lo em mãos para ler um conto qualquer. Esperava se deparar com algum que não o fizesse viajar em direção ao tatuado, mas acabou se deparando com aquele que colocava em palavras tudo o que estava sentindo, como se o universo que existia dentro do seu quarto conspirasse para que suas memórias permanecessem bem frescas.

Era aquele maldito conto que lhe dizia sobre a luz fraca do abajur enquanto a mais forte havia sido desligada apenas para que o ambiente se tornasse mais acolhedor para a sua dor. Era aquele lhe dizia sobre estar planejando algo há muito tempo, mesmo que tentasse se convencer do contrário, que não, todos os livros lidos não foram uma espécie de preparação teórica para o que estava por vir. Fitou o título por segundos que quase se tornaram minutos e passou a primeira página a fim de se direcionar ao próximo conto, mas uma frase marcada a caneta por outrem o chamou atenção e acabou lendo-a por puro reflexo: "[...] porque meu silêncio já não é uma omissão, mas uma mentira."

"Malditos sejam os livros de biblioteca pública", ele pensou.

O fechou com toda a força e o jogou em algum canto da cama, afundando a cabeça no travesseiro, pronto para deixar que a exaustão o levasse em direção ao sono profundo. O qual durou tempo suficiente para apenas se sentir um trapo assim que foi despertado. Olhava para o teto enquanto o alarme do seu celular ainda tocava, com a causa da insônia sendo o seu primeiro pensamento do dia.

— Nossa, você tá horrível — Taehyung disse assim que Jimin se sentou ao seu lado na grama, retirando os fones do ouvido e franzindo o cenho ao perceber a feição abatida do amigo.

Asian Scars × jikookWhere stories live. Discover now