39. O último dia do ano (inédito na conta nova)

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#CodinomeFlamingo

Jimin abriu os olhos na manhã seguinte e, por alguns segundos, esqueceu-se completamente do que havia feito no dia anterior. O cansaço dominou o seu corpo e o sono chegou facilmente, como há muito não chegava.

Aos poucos, foi vislumbrando o próprio quarto e os seus novos elementos: papel e caneta deixados na escrivaninha, uma pilha de cadernos e pinturas no outro canto e o som da língua de Nanquim ao tomar banho ao seu lado. Olhou para trás e lá estava, o gato com uma perna para cima, parando com a lambeção para encará-lo com seus grandes olhos verdes. Jimin afundou a cabeça no travesseiro e sorriu, pensando no que diria aos pais.

Seu coração batia acelerado, numa pressa boa, e não naquele batimento pesado e doloroso ao qual estava acostumado. Ter Jeongguk em sua  vida, mesmo sendo apenas o gato dele enchendo seu lençol de pelos, jamais seria ruim. Ruim era não tê-lo por perto.

Serviu mais comida para Nanquim e depois do banho desceu as escadas com o cabelo molhado criando ondas, completamente despenteado. Era véspera de ano novo, o Oosouji fora praticado pelos pais e a casa exalava um cheiro fresco de limpeza. Jimin preferiu ficar de fora, ajudou com alguma coisa na sala e na garagem, mas dentro do seu quarto tudo permanecia o mesmo. Para que renovar as suas energias para o próximo ano, se não importasse quantas estações passassem pela moldura da sua janela, seus pensamentos e energias estariam direcionados a somente uma única pessoa?

No entanto, depois do dia anterior, contentou-se em ter praticado o Oosouji no apartamento de Jeongguk. Talvez um recomeço estivesse chegando por ali.

— Fui te chamar ontem para comer a tal pizza, mas você já havia dormido — disse Jiyoon, quando Jimin sentou-se à mesa.

— Desculpe, eu estava exausto. — Ele suspirou dentro da caneca de chá preto, apenas pensando em como fazia tempo que não acordava tão cedo.

— Vi que tem um novo inquilino morando na nossa casa — Jiyoon completou, a crocância da torrada que ela mordia dando som aos pensamentos ocos de Jimin.

— Sabe como é... — Ele ergueu as sobrancelhas e depositou a caneca na mesa. — Final de ano todo mundo sai de Seul para ver a família. Um amigo meu não tinha com quem deixar o gato e eu me ofereci para cuidar.

— E eu conheço esse amigo?

— Não. — A resposta foi imediata, assim como a desculpa que inventou, com todas as possibilidades passando pela sua cabeça em uma fração de segundos. Não queria que Jeongguk ficasse conhecido por deixar um gato sob os seus cuidados por tempo indeterminado.

— Até quando? Até o fim das festividades? — Jiyoon perguntava, no tom mais corriqueiro do mundo, como se falassem do último livro que Jimin leu.

— Sim, acho que ele só volta em fevereiro — Jimin respondeu, com um nó crescendo na garganta, pois era o tom da mãe lidando com aquilo sem dar grande importância, eram os prazos inventados que ele sabia que se atrasariam. Superficialmente, tudo parecia certo, mas só ele sabia do buraco em que estava enfiado.

— Por que você se mete nessas coisas? — Sorriu, passando geleia na torrada.

— Foi mais forte do que eu. Ele é fofo. — Deu de ombros, olhando pela janela.

— O dono ou o gato? Isso tem cara de dívida de amor. E você quer que a pessoa cobre.

Jimin franziu o cenho e voltou a encarar a mãe, rindo sem jeito e balançando a cabeça.

— O gato. O gato é fofo, mãe.

— E aquele moço tatuado que apareceu aqui uma vez? Você não disse que tinham algo mais sério? Fixo? — Jiyoon semicerrou os olhos, tentando se lembrar das palavras que usou na última conversa que tiveram sobre o assunto.

Asian Scars × jikookWhere stories live. Discover now