21. Tudo nele brilha e queima

1.5K 221 113
                                    


O despertador tocava, se levantava a contra gosto, banho apressado devido os minutos a mais na cama, café da manhã engolido ou perdia o ônibus. A aula se encerrava porque o relógio mandava e os alunos inquietos começavam a se movimentar, intervalo longo que durava somente alguns segundos e Jimin ainda se perguntava quanto tempo ainda faltava para que Jeongguk deixasse de ser uma parte ausente em sua rotina.

Tudo parecia passar tão depressa lá fora, mas dentro de si tudo era agonia e maria fumaça que nunca chegava.

Nem mesmo a companhia de seu melhor amigo fora capaz de dispersar aquele aperto, pois a história do estranho de cabelos negros e óculos arredondados que conheceu no bar, em muito o lembrava daquele que não saía de seus pensamentos. Afinal, conhecer muito bem alguém antes de saber como ele se chama era algo bem familiar para si.

E quando deu por si, ali, andando sob os pedregulhos do estacionamento exterior da universidade, mal pode acreditar que o dia estava próximo do fim e o que sentia estava completamente exposto em um pedaço de papel amassado entre as palmas suadas.

Era uma carta de amor. A resposta que Jeongguk tanto esperava.

Achou a folha de papel tão simples e insuficiente para o tamanho do que sentia. Queria mesmo rabiscar o mundo inteiro com o nome dele em cada canto. Afinal, poderia haver poesia mais bonita que o nome de Jeon Jeongguk?

E a parte mais estranha em tudo aquilo era que não havia estranheza alguma. Enquanto o som dos pedregulhos reverberava sob seus pés, as palavras de Taehyung faziam o mesmo em seus ouvidos, pois o coração acelerado realmente o atrapalhava a andar e até se permitiu sorrir com tal constatação. Sorrir como um bobo apaixonado, mesmo que a frequência cardíaca ameaçasse o deixar surdo tamanha a intensidade do nervosismo.

Precisava se declarar.

A lenta caminhada chegou ao seu fim quando se aproximou das janelas daquela tão conhecida caminhonete. Olhou para o interior e se lembrou da sensação de estar ali dentro com a mão de Jeongguk sobre sua coxa e o vento despenteando o seu cabelo enquanto alguma música da banda preferida de ambos tocava com a voz melodiosa do tatuado acompanhando-a. Só desejou que aquela lembrança não ficasse somente no passado e voltasse a ser parte do seu presente.

Se recostou na lataria e não conseguia parar de olhar para além dos prédios mais próximos, a ansiedade o corroía e qualquer pessoa que aparecia em seu raio de visão era motivo para que o peito se desregulasse de vez, demorando alguns segundos para voltar a anormalidade já tão bem aceita.

Tentava manter a cabeça vazia enquanto o esperava, sem saber quando ele apareceria, mas não conseguia deixar de se perguntar se Jeongguk ainda sentia o mesmo, porque bem, Jimin não sentia. Seus sentimentos estavam mais fortes do que na última vez em que se viram, até mesmo muito mais do que ontem.

E como em um filme clichê de romance, Jimin ergueu a cabeça após ter se distraído por alguns segundos e, finalmente, o viu surgir no horizonte quando o sol já estava cansado e começava a se despedir. Ele chutava algumas pedrinhas, tão distraído, mas estancou no chão por alguns segundos quando viu quem tanto queria ver recostado em sua caminhonete. Se entreolharam mesmo de longe e o coração de Jimin parou de vez, a boca secou em instantes e ele realmente achou que era daquele jeito que se morria de amor.

Mas Jeongguk não conseguiu sustentar o olhar por muito tempo, recomeçou o trajeto e olhou ao redor, retirando a pochete atravessada no peito. Não sabia o que sentir. Durante todos aqueles sete dias desejou que Jimin retornasse e o tirasse daquela frase inacabada, finalmente recebendo alguma resposta, porque apesar de toda a sua vida conturbada, ainda havia aquele desenho do rosto do moreno esperando pela finalização, ou quem sabe, para se tornar apenas uma linha de papel rasgado em seu caderno, ansiando para que algum dia se esquecesse do que de fato estivera ali.

Asian Scars × jikookOnde histórias criam vida. Descubra agora